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Andreia Reisinho Costa

Andreia Reisinho Costa

É possível haver um Trump em Portugal?

Primeiro o Reino Unido. Agora, os EUA. Depois Itália, França, Holanda ou Alemanha. Portugal parece imune a fenómenos tipo Trump. Porquê? E será que isso pode mudar?

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Naqueles anos, era impossível adivinhar a existência de um fenómeno como Donald Trump, mas chamaram-lhe o [Vladimir] Zhirinovsky português, comparando-o ao excêntrico líder da extrema-direita russa. Manuel Monteiro, porém, ainda ouviu pior do que isso como líder do Partido Popular: até houve insinuações de que o seu discurso — rotulado nos anos 90 de “nacionalista” e “populista” — esteve na origem do homicídio de Alcino Monteiro, um cabo-verdiano espancado até à morte por um grupo de skinheads, no Bairro Alto, em Lisboa, em 1995. “Fui ao funeral do Alcino Monteiro, no Barreiro, e estive com família dele”, lembra. Aos olhos de alguns adversários, no entanto, ele era, em parte, uma espécie de autor moral daquele crime.

Fui acusado de ser o político mais populista depois do 25 de Abril por ter um discurso que ia ao encontro do senso comum“, recorda ao Observador Manuel Monteiro, numa conversa sobre o facto de nunca ter tido sucesso em Portugal de forma sustentada uma tendência populista e anti-sistema como Donald Trump nos Estados Unidos, Marine Le Pen em França, Nigel Farage no Reino Unido ou Beppe Grillo em Itália.

No fim do cavaquismo, Manuel Monteiro espalhou pelas ruas um célebre cartaz com um mapa de Portugal e uma estaca onde se lia “Vende-se”. Choveram acusações de “nacionalismo” e “protecionismo” bacoco, numa era em que a União Europeia era uma espécie de novo El Dorado. “E eu estava longe de imaginar o ponto a que chegaríamos hoje”, ironiza o antigo líder do PP. Tinha um discurso contra o federalismo europeu em voga, contra a moeda única em construção, a favor da soberania e daquilo que era genuinamente português, com nuances securitárias e contra os privilégios de políticos e deputados a quem chamava “sanguessugas” do sistema. Três anos depois de chegar à liderança, nas legislativas de 1995, conseguiu transformar o velho CDS, partido do táxi, numa bancada parlamentar com 15 deputados. Uma das maiores votações de sempre. Em parte, a mensagem pegou.

“Quando surge alguém a contrariar e a contestar a hegemonia do centro-político, a reação do sistema é fechar-se. Quando aparece alguém a dizer ‘O Rei vai nu’ o sistema entra em negação. Aliás, vive em permanente estado de negação“, sugere agora Manuel Monteiro.

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Apareceriam outras tendências anti-sistema, anos mais tarde, com perfis diferentes e programas distintos, mas que se afirmaram como disruptivos. Fernando Nobre, nas presidenciais de 2006, por exemplo. Ou Marinho e Pinto, nas europeias de 2014, onde conseguiu um resultado surpreendente e que fazia dele a grande incógnita para as legislativas de 2015. O resultado, porém, foi dececionante. Todos estes fenómenos foram “efémeros”, não tanto por falta de “clientela eleitoral“, mas mais por “inabilidade dos protagonistas“, nota o ex-dirigente do CDS António Lobo Xavier, em declarações ao Observador.

“Entre nós, houve já exemplos de protagonismos nessa frente, visíveis em eleições legislativas e presidenciais. E até se pode dizer que esses casos foram efémeros por inabilidade dos protagonistas, e não porque tivesse desaparecido a correspondente ‘clientela eleitoral’. Nunca tivemos, no entanto, nestes planos, nenhuma figura com a personalidade e a força comunicacional de Trump, nem a vejo no horizonte próximo”, afirma o comentador do programa da SIC-N Quadratura do Círculo.

"Chamaram-me o Zhirinovsky português. Fui acusado de ser o político mais populista depois do 25 de Abril por ter um discurso que ia ao encontro do senso comum"
Manuel Monteiro, antigo líder do CDS

Nos Estados Unidos foi tudo diferente. Donald Trump, o homem de quem (quase) todos riram quando anunciou a candidatura à Casa Branca, é o novo Presidente. Com um discurso anti-sistema, disruptivo, protecionista, nacionalista, com laivos xenófobos e securitários, convenceu, primeiro, os republicanos e, depois, mais de 61 milhões de americanos. Depois do Brexit, a vitória surpreendente de Trump provocou uma onda de choque e vai fazendo sonhar os movimentos populistas e de extrema-direita por toda a Europa. Portugal, no entanto, parece imune a fenómenos como os de Trump. Porquê? As respostas são várias, mas não devem ser tomadas como definitivas: ainda não existe um Trump em Portugal? Não. Mas pode vir a existir? Talvez.

Tornar Portugal Grande Outra Vez? Outra vez?!…

Imaginar um político como Donald Trump a afirmar-se hoje em dia em Portugal é muito improvável. Dificilmente um outsider como Trump tomaria conta de um partido tradicional em Portugal. Um programa anti-imigração seria pouco mobilizador. O discurso anti-sistema está, em grande parte, institucionalizado e representado politicamente. Não se sente o pulsar do protecionismo económico na sociedade portuguesa e uma nostalgia e saudosismo ao estilo de Trump (“Tornar Portugal Grande Outra Vez”) enfrentaria um dilema concreto: é que já não existem, entre os eleitores, quem se lembre da última vez em que Portugal foi efetivamente pujante, vão dizendo com ironia os analistas e comentadores ouvidos pelo Observador.

É isso mesmo que lembra o sociólogo Pedro Adão e Silva, em declarações ao Observador. “Portugal, pela sua história recente, não sofre da experiência nostálgica de um regresso a um passado de pujança económica porque, na verdade, nunca o teve“.

António Lobo Xavier concorda. “O apelo a uma ‘grandeza da América’, supostamente perdida, que encontra semelhanças no Reino Unido ou em França, não encontra paralelo em Portugal. Não temos, realmente, nos últimos cem anos, nenhuma época áurea que possa ser agitada como referente para um projeto político: esses cem anos não foram brilhantes do ponto de vista da pujança económica e, em grande parte – para quem não seja saudosista do regime anterior ao 25 de Abril ou dos anos que imediatamente se lhe seguiram– também não temos grandes saudades políticas do passado”, diz o jurista e antigo dirigente do CDS.

"Não temos, realmente, nos últimos cem anos, nenhuma época áurea que possa ser agitada como referente para um projeto político"
António Lobo Xavier, comentador e antigo dirigente do CDS

Ao nacionalismo exacerbado junta-se, regra geral, o protecionismo económico. Com Donald Trump não é diferente: o multimilionário já prometeu revogar ou rever praticamente todos os tratados comerciais celebrados pelos Estados Unidos, de maneira a proteger a indústria norte-americana. Em Portugal, um discurso equivalente seria “facilmente desmontável”, explica o politólogo Adelino Maltez. Basta lembrar que o “nosso país”, ao contrário dos Estados Unidos, “não é uma superpotência” e está “altamente dependente” do mercado externo.

Manuel Monteiro tem a sua própria perspetiva. “O que é que hoje existe que seja verdadeiramente português? Muito pouco”, lamenta. “O nosso país tem um grau de fragilidade e dependência financeira tão grande que leva as pessoas a refrearem qualquer sentimento protecionista. Mesmo as pessoas que sempre pensaram como eu temem as consequências. Serve de antídoto a quaisquer aventuras”, sublinha.

PCP e Bloco de Esquerda: os tampões do sistema político português

Depois há outro dado que não deve ser ignorado, lembra o politólogo António Costa Pinto. Na verdade, já existe um partido em Portugal que se assume como patriótico e protecionista: o Partido Comunista Português. Ou dois, dado que o Bloco de Esquerda tem percorrido a passos largos o caminho do euroceticismo. “O PCP e o Bloco de Esquerda, este ainda que de forma mais mitigada, têm ensaiado esse discurso. Esse espaço político está, em parte, ocupado por estes dois partidos“, explica Costa Pinto.

Pedro Adão e Silva ajuda a concretizar. Também em Portugal houve processos expressivos de “desindustrialização” e de perda de autonomia, motivados, em parte, pela transferência de soberania económica e política. Nesse mesmo caldeirão tem nascido um “sentimento de impotência democrática e uma sensação crescente entre as pessoas de que não controlam verdadeiramente o seu futuro”, defende o professor do ISCTE-IUL.

Fatores que, não explicando por si só o surgimento de fenómenos como os de Donald Trump nos Estados Unidos, de Marine Le Pen em França ou de Nigel Farage no Reino Unido (entre outros, como partidos de extrema-direita com possibilidade de ganharem eleições na Áustria ou na Holanda), ajudam a compreender a efervescência destes movimentos. Existe uma sensação de vazio, de sub-representação e de distanciamento crescentes entre as elites políticas e o eleitorado que não pode (ou não deve) ser ignorada.

Visto à lupa, até nisso Portugal é um caso diferente, continua Pedro Adão e Silva. “O PCP, sobretudo, tem desempenhado historicamente o papel importante de trazer a contestação e o protesto para as instituições democráticas“, argumenta. Na prática, o voto “anti-sistema” em Portugal tem sido representado por estes dois partidos, o que limita consideravelmente o espaço político a qualquer candidato, partido ou movimento que se queira afirmar como alternativa.

Além disso, contrapõe Lobo Xavier, na democracia portuguesa, ao contrário do que vai acontecendo noutros países europeus, o “centro moderado e europeísta” é ainda muito expressivo. O antigo dirigente democrata-cristão lembra que este espaço político se tem aguentado “relativamente bem nas eleições e nas sondagens”. Não tendo “franjas à direita” significativas, “as franjas à esquerda do centro-moderado encontram-se, apesar de tudo, comprometidas (com mais ou menos embaraço) com um Governo de centro esquerda”. Eventualmente, admite, a situação pode mudar se a “atitude de Bruxelas para com Portugal atingir pontos críticos” — mas não de forma abrupta e imediata.

"O PCP, sobretudo, tem desempenhado historicamente o papel importante de trazer a contestação e o protesto para as instituições democráticas"
Pedro Adão e Silva, sociólogo e ex-dirigente do PS

Tal facto, no entanto, não significa que não exista em Portugal “um elemento de rutura com o establishment, com as chamadas ‘elites’ e os políticos conformados com o sistema” — aquilo a que Pedro Adão e Silva chama de “sensação de impotência democrática”. Mas o sistema tem as suas próprias formas de se defender, como analisa Pedro Magalhães, investigador e diretor científico da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, em Portugal os partidos estão fortemente hierarquizados e preparados para lidar com outsiders. Além disso, as regras existentes “favorecem muito o status quo partidário” — para o bem e para o mal.

“Trump é um outsider que tomou conta de um partido tradicional. Em Portugal isto é muito difícil de imaginar. Os partidos portugueses são muito mais hierarquizados e institucionalizados do que os americanos e, apesar da introdução de eleições diretas, as elites nacionais e locais dos partidos preservam enorme influência no processo de seleção de lideranças. Estamos longe das possibilidades que o sistema de primárias americano dá para a emergência deste tipo de lideranças“, argumenta o autor do blogue Margens de Erro.

Apesar das reservas, Pedro Magalhães admite que “haveria sempre a possibilidade de um líder com as características de Trump formar ou tomar conta de um novo partido”. “Não podemos de todo excluir essa hipótese“, acrescenta. Mas também aí jogariam “outro tipo de barreiras, ligadas ao financiamento partidário e das campanhas”, que dificilmente dariam as condições necessárias a um candidato tipo Trump.

Um verdadeiro liberal com a chave de São Bento? That’s not gonna happen

Donald Trump entrou na corrida à Casa Branca com um programa económico assente, em grande medida, numa redução generalizada de impostos — que acabaria inevitavelmente por favorecer as classes mais altas — e numa forte desregulamentação do setor financeiro. Uma estratégia que, em Portugal, seria difícil de implementar.

“No nosso país, não existe sequer uma base social” comprometida com esse programa, nem uma “elite intelectual” com expressão suficiente para alimentar “um discurso de desregulação económica”, sugere Adão e Silva. “As pessoas sabem que as suas vidas piorariam se houvesse uma maior desregulação económica”.

António Lobo Xavier concorda com o diagnóstico de Adão e Silva, mas não o celebra. “Há – infelizmente, do meu ponto de vista — uma tendência claramente ‘assistencialista‘ ou ‘estatista‘ no eleitorado português, e um forte pendor regulamentador, que encontra várias causas, entre as quais está o perfil das fontes de rendimento das famílias (muito assentes no Estado, por várias razões, direta ou indiretamente) e a melhoria exponencial das prestações de serviço e da assistência proporcionada pelo sector público nas últimas décadas. Não está enraizada da nossa cultura, ainda, uma pulsão individualista, neste sentido, empreendedora ou liberal do ponto de vista económico”, assume.

No entanto, se os norte-americanos, mesmo com a derrocada do Lehman Brothers e suas consequências, elegeram um Presidente que faz da desregulamentação do setor financeiro um compromisso, os portugueses dificilmente o fariam. “Valha a verdade, a crise financeira recente, nomeadamente tendo em conta o que se passou no sector bancário português, não suscita naturalmente simpatias pela ideia de desregulação, embora justamente nesse sector, tenhamos passado claramente do 8 ao 80″, reconhece o ex-dirigente do CDS.

Discurso securitário: um polícia em cada esquina

É difícil imaginar que um país que foi pioneiro na abolição da pena de morte a aceitar um candidato que defendesse, como fez Donald Trump várias vezes, a aplicação da pena capital, por exemplo, a quem matasse um polícia. Como parte da sua política de segurança, o republicano defende ainda o reforço dos poderes da polícia norte-americana e uma política nacional de operações Stop And Frisk (“Parar e revistar”), uma técnica policial usada quase invariavelmente contra cidadãos afro-americanos e que tem estado na base de vários homicídios aparentemente injustificados, alimentando recorrentes episódios de tensão racial.

Em Portugal, um líder partidário teria muitas dificuldades em afirmar-se com um discurso desta natureza, sugerem os investigadores. “A segurança é um fator menos mobilizador da sociedade portuguesa, que tem sido menos atingida por crimes políticos associados ao terrorismo, por exemplo, e porque a perceção do crime violento não tem um peso expressivo entre os portugueses”, argumenta António Costa Pinto, investigador-coordenador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

Adelino Maltez concorda, embora acrescente uma nuance: em situações de crise, um discurso desta natureza, teria algum “algum acolhimento”. Mas não é expectável que Portugal venha a reunir as condições necessárias que alimentem uma verdadeira crise de segurança nacional. “Logo aí o discurso esvaziar-se-ia“, defende o politólogo.

A deriva securitária costuma alimentar tentações de autoritarismo. Mas em Portugal as memórias do Estado Novo estão ainda muito presentes. “Com 40 anos de democracia”, o fantasma do anterior regime “ainda protege” o sistema do surgimento de fenómenos com laivos de autoritarismo como os de Trump, conclui o sociólogo Pedro Adão e Silva.

"A segurança é um fator menos mobilizador da sociedade portuguesa, que tem sido menos atingida por crimes políticos associados ao terrorismo, por exemplo, e porque a perceção do crime violento não tem um peso expressivo entre os portugueses"
António Costa Pinto, investigador-coordenador do Instituto de Ciências Sociais UL

Imigração. Portugal, o país do “racismo subtil”

Durante a corrida à Casa Branca, Donald Trump fez campanha a prometer construir um muro ao longo de toda a fronteira dos Estados Unidos com o México, para afastar “os violadores” e “narcotraficantes”, garantiu que ia deportar cerca de 11 milhões de imigrantes ilegais e assegurou que ia suspender a entrada de muçulmanos no país. E estes são apenas alguns exemplos — os suficientes para que Trump fosse celebrado pelo Ku Klux Klan como “o candidato” da supremacia branca.

Num momento em que grande parte dos analistas e investigadores tentam compreender como é que um candidato com este perfil venceu as eleições presidenciais, há um dado que parece evidente: ainda que ninguém acredite verdadeiramente que os mesmos eleitores que nomearam o primeiro Presidente afro-americano da história dos Estados Unidos (por duas vezes) tenham mergulhado de cabeça numa deriva racista e xenófoba, a insegurança e o medo crescentes foram o rastilho ideal para a eleição do multimilionário. Trump acendeu-o com a sua retórica inflamada.

Existem, em Portugal, condições para que um candidato político com este discurso se pudesse afirmar? Os investigadores e comentadores ouvidos pelo Observador duvidam e lembram uma questão evidente: a sociedade portuguesa, até pela sua natureza periférica (e pobre), não está confrontada com o fluxo de imigração (e de refugiados) que atinge outros países. É preciso recuar até aos anos 70 para encontrar um fenómeno dessa natureza em Portugal com a chegada dos chamados “retornados” das ex-colónias ao país. E, apesar de todo o drama humanitário associado, o processo de integração foi relativamente bem-sucedido.

"O racismo subtil é transversal a toda sociedade. Está impregnado na nossa sociedade há séculos"
Adelino Maltez, politólogo e professor catedrático

Dificilmente se conseguiria impor um discurso anti-imigração em Portugal, afirma Adelino Maltez. Mas não necessariamente pelos motivos mais óbvios: um discurso desta natureza seria pouco mobilizador não porque não exista um sentimento anti-imigração mas, precisamente, porque os imigrantes são uma minoria pouco expressiva e pouco estruturada.

Se de alguma forma essas minorias crescessem ao ponto de ganharem expressão, as tensões raciais teriam margem para crescer. “O racismo subtil é transversal a toda sociedade. Está impregnado na nossa sociedade há séculos”, explica Maltez.

Pedro Magalhães junta outros argumentos à discussão. “Ao contrário do que por vezes se julga, os portugueses, nos estudos existentes, estão muito longe de serem dos mais abertos à entrada de imigrantes“.

O investigador remete para as conclusões do estudo do Inquérito Social Europeu: Portugal está na cauda da Europa em quase todos os indicadores que dizem respeito à entrada de imigrantes no país. Sejam imigrantes da nossa etnia, de outra etnia ou de países mais pobres. Além disso, a perceção de que a entrada de imigrantes em Portugal seria benéfica para o país é bastante reduzida. Os quadros seguintes mostram a posição dos portugueses em relação aos imigrantes.

Portugueses pouco recetivos à entrada de imigrantes da própria etnia

Portugal segue praticamente na cauda da Europa no que diz respeito à abertura em receber imigrantes da nossa própria etnia. Além da Suécia, dominam a lista países como Alemanha, Noruega e Suíça. Atrás de nós, só Reino Unido, Grécia, Chipre ou Hungria.

Pouca abertura à entrada de imigrantes de outra etnia. Portugal ao nível de França, Áustria e Finlândia

A recetividade é ainda menor se o que estiver em causa for a entrada de imigrantes de outras etnias. Estamos precisamente ao nível de países como França, Finlândia e Áustria e próximos dos valores verificados na Grécia, Chipre e República Checa. A lista volta a ser liderada pela Suécia, Alemanha e Noruega.

Fraca recetividade à entrada de imigrantes de países pobres. Portugueses a par de finlandeses e austríacos

A ideia de receber imigrantes de países mais pobres também não tem grande acolhimento entre os portugueses. Estamos no mesmo grupo de França, Bélgica ou Irlanda e ligeiramente mais recetivos do que finlandeses, austríacos e britânicos. Suécia, Alemanha e Noruega lideram também neste indicador.

Imigração melhora o país? Portugueses discordam

Quanto à questão sobre se a imigração melhora ou não o país, os portugueses estão mais próximos de eslovacos, cipriotas, húngaros ou gregos. Os suecos voltam a liderar a lista e a acreditar que sim, que a imigração melhora o país, ainda que numa escala de 0 a 10 nenhum país tenham tido uma classificação superior a 6,5.

Além disso, não só a nossa recetividade à ideia de receber imigrantes é negativa, como somos ainda um dos países da Europa com menos imigrantes, nota Pedro Magalhães, lembrando os dados do Eurostat. Mais: de acordo com uma investigação do Harvard Institute for Economic Research, que mereceu destaque no The Washington Post, Portugal está entre os países com menor diversidade cultural do mundo. Como a sociedade portuguesa é culturalmente mais homogénea a tensão étnica está mais mitigada.

Portugal: um dos países com menos imigrantes na União Europeia

EUROSTAT

Imigrantes por habitante. Fonte : Eurostat

“A sociedade americana é extremamente diversa desse ponto de vista, e existe a perceção numa grande parte da população branca de que as minorias estão em forte progressão social e cultural”, diz Pedro Magalhães. Para o investigador, “este sentimento, conjugado com a adesão a movimentos religiosos puritanos e radicais e com a insegurança económica sentida pela população branca com menor instrução e cujos rendimentos se encontram estagnados há muito tempo, é a combinação de fatores que alimenta a polarização política e ideológica na sociedade americana. A mesma combinação de fatores não existe na sociedade portuguesa“, acrescenta Pedro Magalhães.

"Ao contrário do que por vezes se julga, os portugueses, nos estudos existentes, estão muito longe de serem dos mais abertos à entrada de imigrantes"
Pedro Magalhães, investigador e diretor científico da Fundação Francisco Manuel dos Santos

Logo, continua o investigador, “movimentos que queiram tornar a imigração ou os supostos problemas causados pela heterogeneidade cultural num tema central de mobilização política não têm em Portugal as mesmas oportunidades que existem em países do Norte e do Centro da Europa, e ainda mais nos Estados Unidos”.

Manuel Monteiro parte dos mesmos pressupostos para chegar a uma conclusão semelhante: a tensão étnica é residual em Portugal. Mas o antigo líder do CDS deixa um aviso: “No momento em que a satisfação económica e a perceção de segurança não forem acautelados um discurso desses terá, a prazo, sucesso“.

O sistema e as “elites brilhantes”, diz com ironia, devem estar, por isso, atentas aos primeiros sinais. Ou o vazio será ocupado por outros. “O facto de o sistema estar em permanente auto-negação fomenta a anti-política e permite o surgimento dos senhores Trump”.

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