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Quem conhece Montenegro garante que o líder social-democrata jamais deixará cair Mendes
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Quem conhece Montenegro garante que o líder social-democrata jamais deixará cair Mendes

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Quem conhece Montenegro garante que o líder social-democrata jamais deixará cair Mendes

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Entrada em cena do almirante complica a vida a Mendes. "Não vale a pena tapar o sol com a peneira"

Candidatura do almirante a Belém "retira espaço" e "entala" Marques Mendes, assume-se no PSD. Direção não o deixará cair, mas parte do partido gosta de Gouveia e Melo ou continua a sonhar com Passos.

A entrada oficiosa de Henrique Gouveia e Melo na corrida à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa deixou o PSD — dirigentes nacionais, líderes distritais, senadores e bases — numa pilha de nervos. Não que fosse exatamente um segredo ou sequer uma improbabilidade teórica. Mas assim que a ameaça se tornou real, meio partido ficou a pensar se o candidato que Luís Montenegro quer levar a Belém — Luís Marques Mendes — tem de facto condições para vencer as presidenciais e outra metade ficou a suspirar por um candidato diferente.

A conclusão é uma: mesmo os mais otimistas e mais próximos do antigo líder social-democrata admitem que a entrada em cena do almirante complica muito as contas de Marques Mendes. Para dizer o mínimo. “Não vale a pena tapar o sol com a peneira”, confessa ao Observador um senador social-democrata, insuspeito de nutrir qualquer antipatia pelo comentador — pelo contrário. “As hipóteses não são muito famosas”, concorda um dirigente do partido mais a Norte. “É um adversário muito difícil. Não estou certo de que Luís Marques Mendes tenha o perfil indicado para o enfrentar”, assinala o presidente de uma das estruturas distritais mais importantes do universo laranja.

“Há muita gente do PSD que gosta do registo determinado e do perfil do almirante Henrique Gouveia e Melo, é alguém que passa muito carisma. Não se sente isso por Luís Marques Mendes. Não vale a pena fingir“, assente um dirigente social-democrata muito influente no distrito de Lisboa. “Gouveia e Melo ocupa um espaço de centro-moderado com o símbolo de autoridade por que muita direita suspira. Autoridade sem ter que ser autoritário. Era o sonho de qualquer líder da direita tradicional”, concorda um antigo alto-dirigente do rioísmo.

A solução Pedro Passos Coelho para Belém tem três obstáculos que podem ser identificados logo à cabeça: Passos Coelho não quer, Luís Montenegro não deseja e André Ventura não disfarça a excitação com a ideia

O “copycat” de Marcelo

A responsabilidade desta descrença (quase) generalizada não é necessariamente de Luís Marques Mendes, salvaguardam vários sociais-democratas ouvidos pelo Observador. Não à cabeça, pelo menos. O conselheiro de Estado e antigo líder social-democrata pode estar a ser vítima de um contexto que lhe é adverso e a razão é relativamente simples de perceber: a próxima eleição será um referendo ao estilo de presidência de Marcelo. A história mais recente tem demonstrado uma tendência do eleitorado para alternar entre perfis presidenciais — foi assim entre Jorge Sampaio e Aníbal Cavaco Silva; e foi assim também entre Cavaco e Marcelo Rebelo de Sousa.

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Mesmo tendo criticado o Presidente da República em muitos momentos do seu mandato, ninguém ignora que Marques Mendes é uma das pessoas mais próximas de Marcelo Rebelo de Sousa — aliás, foi escolhido por ele como conselheiro de Estado. Existem também semelhanças evidentes entre o percurso de um e de outro, enquanto antigos líderes que acabaram sem deixar grande história de sucesso partidário e que depois se reinventaram como comentadores televisivos, numa escola e com um estilo inaugurados pelo atual Presidente da República.

Além disso, e não encarnando exatamente o Homus Selfie que Marcelo Rebelo de Sousa criou a partir do Palácio de Belém, Luís Marques Mendes é seguramente mais reconhecido pela proximidade que tem com as pessoas do que pelo lado mais institucional. Nestas eleições em concreto, ser percecionado como um candidato de continuidade da linha Marcelo pode não ser o melhor cartão de visita, vai-se sugerindo no PSD.

“As grandes vantagens competitivas de Marcelo Rebelo de Sousa nas eleições de 2016 são hoje as desvantagens de Luís Marques Mendes”, sintetiza uma influente figura do PSD, que, ainda assim, não esconde que gostava de ver Mendes a vencer as presidenciais. “É um copycat de Marcelo”, resume um dirigente social-democrata menos convencido dos méritos de Mendes.

“As pessoas vão querer um anti-Marcelo, coisa que objetivamente Marques Mendes não é”, sugere um senador social-democrata. “A balança inclina-se muito mais para um perfil austero, mais institucional, contrastante com o perfil do atual Presidente da República. Não é o caso [de Mendes]”, concorda o líder de uma das distritais do partido com mais militantes em todo o país.

A somar a isto há um ponderador impossível de apagar: a existência de um certo clima antissistema, anti-políticos e anti-partidos que contaminou as democracias liberais, incluindo a portuguesa. Luís Marques Mendes é tudo isto. Foi quase tudo o que se pode ser na política, foi líder social-democrata e nunca escondeu que é e que gosta do PSD, e está perfeitamente integrado no sistema, ao ponto de ser, entre outras coisas, um influente e reputado advogado, conselheiro de Estado e o comentador político com maior audiência do país há anos consecutivos.

Enquanto Marques Mendes e Gouveia e Melo vão disputando um campeonato muito particular, uma parte considerável do partido vai suspirando pelo mito de sempre: Passos Coelho. Existe quem entenda que a única forma de travar as pretensões do almirante seria apresentar alguém com um perfil teoricamente semelhante ao de Gouveia e Melo. "A única pessoa que poderia demover uma parte do PSD a votar no almirante era Pedro Passos Coelho", defende um dirigente do PSD

Decisão nas mãos de Mendes

No sábado, quando o Observador deu conta que a decisão de Gouveia e Melo estava tomada e que o almirante não queria mesmo ser reconduzido como Chefe de Estado-Maior da Armada, tornou ainda mais claro para todos que o almirante está de facto a ponderar uma candidatura à Presidência da República — hipótese que o próprio nunca excluiu (antes pelo contrário) e que muitos já dão como absolutamente segura.

Na SIC, no seu habitual espaço de comentário político, Luís Marques Mendes assumiu que já esperava esta candidatura, mas garantiu que não condicionará a sua decisão em função deste ou daquele adversário. “Se me condiciona? A mim? Não, isso não. Pelo menos desde o Verão que [a candidatura de Gouveia e Melo] não me oferece nenhuma dúvida, e já falei depois do Verão. Vou tomar uma decisão, sim, no próximo ano. E vou anunciar uma decisão, sim, no próximo ano. Essa decisão não está dependente da candidatura de A, B ou C”, garantiu o antigo líder social-democrata.

Quem conhece bem Luís Montenegro garante que o primeiro-ministro e líder social-democrata gostava muito de contar com a candidatura presidencial de Marques Mendes e que jamais o deixará cair se o comentador decidir de facto avançar com uma candidatura ao Palácio de Belém — com ou sem o almirante na corrida. Os dois são muito próximos, conhecem-se há mais de 30 anos, estiveram juntos na génese da primeira candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, e Marques Mendes é um dos grandes responsáveis pela ascensão política de Montenegro. Se o antigo líder do PSD decidir avançar, o atual primeiro-ministro não lhe retirará o tapete.

O Chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Gouveia e Melo, durante a viagem do navio-escola NRP Sagres, de Matosinhos para o Porto, no âmbito das comemorações do Dia da Marinha 2023, que este ano se assinala na cidade do Porto, 15 de maio de 2023. ESTELA SILVA/LUSA

ESTELA SILVA/LUSA

De resto, não falta quem, na cúpula do partido, apoie ativamente a candidatura de Luís Marques Mendes, a começar por Manuel Castro Almeida, ministro Adjunto e da Coesão, homem próximo do conselheiro de Estado e a primeira figura destacada do partido a atirar a valer ao almirante, quando disse que seria uma “anormalidade” o país voltar a ter um militar em Belém. A decisão está, por isso, nas mãos de Luís Marques Mendes. Na SIC, o comentador voltou a dizer que avaliará as “condições políticas” que tem ou não tem para disputar com seriedade as próximas presidenciais e que tomará uma decisão em conformidade — algo que só acontecerá em 2025

A esta distância, há quem defenda que Luís Marques Mendes tem um óbvio problema de discurso: ainda que Gouveia e Melo se afirme como um homem do “centro pragmático”, e que tenha capacidade para recolher alguma simpatia entre o tradicional eleitorado socialista, o Chefe de Estado-Maior da Armada é e será inevitavelmente percecionado pelos eleitores como um homem da direita mais clássica, até pela ideia de “lei e ordem” que cultiva e que lhe está associada.

Mendes enfrentaria então um dilema: à direita, com um candidato com o perfil do almirante e com a possível concorrência dos liberais (marginal, mas que fará sempre mossa), o comentador não tem teoricamente espaço suficiente para ganhar terreno; se tentar piscar o olho ao PS, arrisca-se a não convencer os socialistas e ainda a espantar os sociais-democratas. “O almirante retira-lhe espaço, é uma evidência. Está entalado à direita e à esquerda”, desabafa um proeminente militante social-democrata que colaborou de perto com Luís Marques Mendes. Ou, como resumiu o muito influente Carlos Eduardo Reis, um dos generais de Rui Rio, o comentador é aquele que, entre os putativos candidatos da direita, “alarga menos a base eleitoral do PSD”.

Claro que esta comparação direta entre os dois sofre de uma distorção que prejudica uma leitura mais fina. Toda a gente tem uma opinião formada sobre Marques Mendes, boa, má ou assim-assim; de Gouveia e Melo sabe-se muito pouco ou quase nada, e desconhece-se o seu pensamento político estruturado sobre o país. Assim que se começar a expor e a ser verdadeiramente escrutinado, as perceções sobre as possibilidades de um e de outro podem ficar mais equilibradas, admitem alguns sociais-democratas ouvidos pelo Observador. Ao dia de hoje, no entanto, é praticamente consensual que Gouveia e Melo corre como favorito — e quem parte à frente, nestas coisas, tem de correr bem menos.

Quem conhece Montenegro garante que o líder social-democrata gostava muito de contar com a candidatura presidencial de Mendes e que jamais o deixará cair se o comentador decidir de facto avançar — com ou sem o almirante na corrida. Os dois são muito próximos, conhecem-se há mais de 30 anos, estiveram juntos na génese da primeira candidatura de Marcelo e Mendes é um dos grandes responsáveis pela ascensão política de Montenegro

Partido continua a suspirar por Passos

Enquanto Marques Mendes e Gouveia e Melo vão disputando um campeonato muito particular, uma parte considerável do partido vai suspirando pelo mito de sempre: Pedro Passos Coelho. Existe quem entenda, aliás, que a única forma de travar as pretensões do almirante seria apresentar alguém com um perfil (“austero”, “sério”, “mais institucional”) teoricamente semelhante ao de Gouveia e Melo. No fundo, alguém que seja capaz de caminhar diretamente sobre “o terreno natural do almirante” e de anular as principais características do militar. “A única pessoa que poderia demover uma parte do PSD a votar no almirante era Pedro Passos Coelho“, defende um dirigente do PSD muito influente.

Ora, a solução Pedro Passos Coelho tem três obstáculos que podem ser identificados logo à cabeça: Passos não quer, Montenegro não deseja e André Ventura não disfarça a excitação com a ideia. Começando por esta última ideia: não é segredo para ninguém que o antigo primeiro-ministro é contra a ideia das linhas vermelhas traçadas por Montenegro em relação a Ventura — aliás, foi esse um dos motivos que estiveram na origem do afastamento entre ambos. Imaginar uma candidatura de Passos apoiada por Ventura causaria um enorme embaraço a Montenegro, à Aliança Democrática e a uma parte generosa da direita.

Em segundo lugar, a confirmar-se a candidatura de Passos e partindo do princípio que seria vencedora, o que não é de todo líquido, Luís Montenegro teria um antigo primeiro-ministro — com ideias muito claras sobre o que deveria fazer o Governo e que reformas são necessárias para o país — sentado no Palácio de Belém. Seria somar uma relação institucional difícil a uma relação política e pessoal que, usando um eufemismo, já conheceu dias muito melhores.

Em terceiro lugar, e mais importante do que tudo o resto, Pedro Passos Coelho já deu repetidamente sinais de que não está disponível para entrar na corrida presidencial. Antes da queda de António Costa e consequente vitória de Montenegro, o antigo primeiro-ministro dizia para quem o quisesse ouvir que estaria disposto a voltar à vida política ativa se o partido precisasse dele para encarar umas legislativas e disputar o lugar de chefe de Governo. Esse comboio já passou, Passos continua afastado e, mesmo assim, não existe qualquer indício de que tenha mudado de opinião sobre as eleições presidenciais. A porta parece definitivamente fechada.

Miguel Relvas, antigo ministro, amigo e braço direito de Pedro Passos Coelho, tem aproveitado o seu espaço de opinião na CNN Portugal para criticar o almirante Henrique Gouveia e Melo e para dizer que toda esta discussão sobre presidenciais é absolutamente precoce. Qualquer discussão séria, tem sugerido Miguel Relvas, só deverá ter lugar algures entre maio e julho do próximo ano, o que pode ser interpretado como uma forma de congelar a corrida até que Passos tome uma decisão — num ou noutro sentido. Mas, como já aconteceu no passado, os dois nem sempre têm as agendas alinhadas.

Em sentido contrário, Miguel Morgado, ex-deputado e antigo assessor político de Pedro Passos Coelho, de quem se manteve sempre muito próximo, veio esta semana tentar acabar com todas as especulações. Fê-lo primeiramente na SIC Notícias e depois numa entrevista ao Observador que será publicada ainda esta quinta-feira. “Passos Coelho esvaziaria todas as candidaturas do espaço do centro até a direita. Mas não há essa possibilidade. As pessoas sabem a minha relação de proximidade com Pedro Passos Coelho. Não diria uma coisa destas, em jeito de conjectura vaga ou de especulação. Sei o que estou a dizer e é uma decisão que ele acabou por tomar já há bastante tempo, com as razões dele.”

Agora, não subsistem grandes dúvidas de que Passos seria o candidato favorito de uma parte importante do PSD. “O partido tem um candidato e esse candidato chama-se Pedro Passos Coelho”, assume um influente social-democrata, que está muito longe de ser um anti-Mendes. Não é o único que o defende e nem sequer são apenas os sociais-democratas a dizê-lo — até a partir do Largo do Rato se reconhece o potencial eleitoral do antigo primeiro-ministro. “Pedro Passos Coelho é um candidato natural à Presidência da República. É um dos líderes mais respeitados da direita portuguesa e seria, se assim o entendesse, um candidato natural”, afirmou um insuspeito Sérgio Sousa Pinto, na CNN Portugal.

"As grandes vantagens competitivas de Marcelo nas eleições de 2016 são hoje as desvantagens de Marques Mendes", sintetiza uma influente figura do PSD, que, ainda assim, não esconde que gostava de o ver a vencer as presidenciais. "É um copycat de Marcelo", resume um dirigente social-democrata menos convencido dos méritos de Mendes. "As pessoas vão querer um anti-Marcelo, coisa que objetivamente Marques Mendes não é", sugere um senador do PSD

Adversários não se retraem

Se decidir de facto entrar na corrida presidencial, Luís Marques Mendes terá seguramente oportunidade de contrariar as expectativas contidas que existem sobre as reais hipóteses de vencer as eleições presidenciais. A verdade é que, para já, está longe de existir uma vaga de fundo a empurrar o comentador rumo a Belém, nem tão pouco sondagens exatamente triunfantes.

Prova de que o antigo líder social-democrata ainda não conseguiu produzir o efeito desejado é que, além dos suspiros por Pedro Passos Coelho e da admiração mal escondida pelo almirante Henrique Gouveia e Melo, continuam a brotar putativos candidatos da área da direita sem que ninguém mostre exatamente receio de disputar com Mendes essa eventual corrida.

A começar por José Pedro Aguiar-Branco. O presidente da Assembleia da República vai despertando, pelo menos, alguma curiosidade dos militantes sociais-democratas, tem tido uma prestação no cargo genericamente apreciada, tem um perfil mais próximo do de Gouveia e Melo e recolheu, no último 25 de Novembro, muitos elogios pelo discurso que fez na sessão solene. “É um candidato emergente e está em crescendo”, repara um senador do partido.

Esta semana, aliás, o próprio acrescentou mais uma camada a um tabu que vai alimentado há algum tempo. Colocando-se de fora da corrida à sucessão de Rui Moreira no Porto (que o lançou para Belém), hipótese que o próprio criou em entrevista ao Observador, o presidente da Assembleia da República preferiu não comentar diretamente eventualidade de se candidatar à Presidência da República, dizendo simplesmente que este não é o tempo de falar dessas eleições e repetindo a ideia de que o fará quando sentir que é oportuno — o que reforça a hipótese de que ainda não excluiu de todo uma possível candidatura.

O mesmo se aplica a Pedro Santana Lopes. O antigo primeiro-ministro e atual presidente da Câmara da Figueira da Foz, que tem oscilado consecutivamente entre abrir e fechar a porta a Belém, apareceu esta semana, no canal Now, a manter vivo o sonho de correr para a sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa. “Gostava de ter uma sondagem que me desse a possibilidade de disputar as eleições e de ir à luta. Não sou falso, nem mentiroso”, confessou Santana Lopes.

O antigo primeiro-ministro não resistiu, de resto, de fazer uma provocação a Luís Marques Mendes, dizendo que o comentador, tal como Mário Centeno, “não tem capacidade para disputar uma vitória ao almirante” e que só Pedro Passos Coelho daria luta a Henrique Gouveia e Melo. “Mas não sai da toca”, registou o Pedro Santana Lopes — que, recorde-se, não é formalmente militante do PSD, logo não encaixa no perfil traçado por Luís Montenegro na sua moção estratégica.

Além destes três — Passos, Aguiar-Branco e Santana Lopes — é importante não excluir para já figuras como Rui RioPaulo Portas e José Manuel Durão Barroso, que continuam sem dar qualquer sinal de disponibilidade para entrar na corrida a Belém, mas que vão sendo equacionadas como alternativas, ainda que mais marginais, no campo da direita. O certo é que os vários sinais que Marques Mendes foi dando — a proto-candidatura assumida durante o Verão e a aparição no Congresso do PSD, em Braga — não conseguiram esvaziar a bolsa de apostas e secar a competição interna.

Sente-se o cheiro a sangue nas águas presidenciais, portanto. O golpe infligido pelo CDS também não ajudará, seguramente. Nuno Melo não só criou um facto político ao organizar um encontro noturno com o Gouveia e Melo num conhecido bar lisboeta, como várias figuras do partido já fizeram saber, de forma mais ou menos pública, de que não querem apoiar Luís Marques Mendes, como explicava aqui o Observador.

“Se o CDS de facto não o apoiar, será sempre uma arma de arremesso utilizada contra ele. Se nem o apoio dos dois partidos que suportam Governo tem, é legítimo perguntar se é realmente capaz de agregar a direita”, concede um influente social-democrata. “Não é o candidato unificador de que a direita precisa. Arrisca-se a não passar à segunda volta e que a decisão seja entre o almirante e o candidato do PS”, concorda um importante dirigente do partido. O caminho é estreito, muito estreito.

Na SIC, no seu habitual espaço de comentário político, Marques Mendes assumiu que já esperava a candidatura do almirante, mas garantiu que não condicionará a sua decisão em função deste ou daquele adversário. "Vou anunciar uma decisão, sim, no próximo ano. Essa decisão não está dependente da candidatura de A, B ou C", garantiu o antigo líder social-democrata

Montenegro limitado no combate

Essa teórica desvantagem — falta muito tempo e é preciso perceber o que vale realmente Gouveia e Melo — poderia ser compensada pelo facto de Luís Marques Mendes ser claramente o candidato com o carimbo do Governo e do PSD, o que vale obviamente votos, muitos votos. Mais uma vez, ninguém diz que se o antigo líder social-democrata decidir de facto avançar lhe faltarão apoios e as estruturas do partido nessa corrida — Montenegro, que praticamente o abençoou na entrevista que deu a Maria João Avillez, na SIC, não o deixará sozinho.

Ainda assim, estando os pesos pesados do PSD efetivamente no Governo não se poderão envolver diretamente numa campanha presidencial à moda antiga, corpo a corpo, contra qualquer um dos candidatos, em particular contra Henrique Gouveia e Melo, que tem efetivas hipóteses de vencer. A começar por Luís Montenegro. A razão é simples de perceber: no dia seguinte, Montenegro poderá ter de trabalhar efetivamente com o Presidente Gouveia e Melo.

Para já, o mais do que provável avanço do ainda Chefe de Estado-Maior da Armada foi recebido com alguma cautela por parte das figuras do universo social-democrata que vão mantendo espaços de comentário televisivos. Miguel Macedo limitou-se a dizer que existem “dois candidatos fortes” à direita, Gouveia e Melo e Marques Mendes, sem escolher um preferido e acrescentando que não o “incomoda nada” existir um candidato-militar.

Nuno Morais Sarmento não deixou de notar que era “espantoso” o “destaque” que os portugueses atribuem a “alguém de quem não conhecemos absolutamente nada”. Miguel Relvas, que não está manifestamente alinhado com os interesses de Luís Marques Mendes, bateu muito no almirante, mas não levantou um dedo para defender o conselheiro de Estado. Na já referida entrevista de Miguel Morgado ao Observador, o antigo assessor político não faz sequer um elogio a Luís Marques Mendes.

Estendendo esta amostra ao que vão dizendo os dirigentes nacionais, líderes distritais, senadores e militantes de base com quem o Observador falou — montenegristas, rioístas, passistas, barrosistas e demais ‘istas’ do partido — não houve ninguém a dizer convictamente que Luís Marques Mendes é um claro favorito à vitória. Ainda que lhe reconheçam muitas qualidades, competências e virtudes, a expectativa de enfrentar alguém com a popularidade e com o perfil de Gouveia e Melo não é exatamente animadora.

O antigo líder social-democrata não ignorará esta realidade, certamente. “Ele é muito inteligente e tem uma capacidade de leitura política acima da média. Pesará seguramente tudo”, defende um dos destacados dirigentes do PSD ouvidos pelo Observador. Se falhar em convencer inteiramente os barões, se não conseguir mobilizar estruturas e se não apaixonar militantes ao ponto de criar uma vaga de fundo evidente, Marques Mendes vai pesar todos os prós e os contras, continua a mesma fonte. No final, terá de decidir se vale ou não a pena entrar na corrida à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa.

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