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Arsenal teve um arranque de temporada surpreendente: depois das três derrotas a abrir na última época, ganhou seis dos primeiros sete jogos e ocupa a primeira posição
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Arsenal teve um arranque de temporada surpreendente: depois das três derrotas a abrir na última época, ganhou seis dos primeiros sete jogos e ocupa a primeira posição

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Arsenal teve um arranque de temporada surpreendente: depois das três derrotas a abrir na última época, ganhou seis dos primeiros sete jogos e ocupa a primeira posição

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Era o Escolhido, pediram a sua cabeça, voltam a sonhar com a coroa: até onde pode ir Arteta com este Arsenal

Arsenal entrou no leque de apostas do "modelo Guardiola". Ganhou a Taça, acabou em oitavo, teve um voto de confiança em forma de reforços. Agora, coloca a liderança à prova com Tottenham e Liverpool.

De entre o vasto repositório de frases memoráveis que o futebol, ao longo de mais de um século, nos proporcionou, algumas adquiriram um carácter quase mítico como a Shakespeariana “No futebol, o que hoje é verdade amanhã é mentira”. O seu autor não foi o bardo inglês, no entanto, mas sim Pimenta Machado, ex-presidente do Vitória de Guimarães – quem sabe, talvez nem tenha sido ele a proferi-la pela primeira vez (talvez a tenha adaptado do autor de “Hamlet”), mas foi ele quem foi parar às capas dos jornais à conta de a dizer (ou citar).

Mikel Arteta, treinador do Arsenal, assinaria certamente por baixo – dependendo do que se entende por hoje e por amanhã. Se o hoje for abril de 2021 e o amanhã for hoje, então sim, assinaria. Façam uma pequena pesquisa em qualquer motor de busca e descobrirão que em abril de 2021 a esmagadora maioria dos adeptos do clube londrino desejava que Arteta ingressasse nas fileiras do subsídio de desemprego. Avançando para amanhã, isto é, o hoje da frase de William Pimenta Shakespeare Machado, e o que encontramos entre os fanáticos do alvo-vermelho londrino é uma mal contida excitação. E se, vencendo o jogo de hoje face aos eternos rivais Spurs (12h30, Eleven Sports 1), o Arsenal se mantiver em primeiro? E se, desta vez, for mesmo a sério? E se, contra todas as possibilidades, o Arsenal ganhar a Premier League pela primeira vez desde 2004?

Esta não é a primeira vez que a frase de Pimenta MacShakespeare se aplica a Arteta. Quando, em dezembro de 2019, foi nomeado treinador do Arsenal, substituindo Unai Emery, houve esperança entre os adeptos (porque enquanto ex-jogador era um homem da casa e tinha aprendido com o melhor, já que após pousar as botas fora treinador adjunto de Pep Guardiola no City), mas também com desconfiança. Houve quem alvitrasse que a nomeação de Arteta obedecia a um padrão cada vez mais prevalecente desde que Guardiola surgira da equipa B do Barça para conquistar tudo na sua primeira época. De repente, dizem os proponentes desta tese, toda a gente quer ter o seu Guardiola: alguém que jogou no clube, que treinou exatamente zero jogos de seniores e que gosta de juego de posición, ter a bola no pé e construir de trás.

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A tese não é disparatada. Pirlo tornou-se treinador da Juve sem sequer dirigir um jogo de infantis (e durou uma época); Lampard chegou ao Chelsea com uma única época à frente de um derby repleto de emprestados do próprio Chelsea – não durou muito. Mas Arteta parecia diferente: com aquele cabelo cheio de gel eternamente puxado para trás, de gigolo envelhecido, o ar que para uns parece determinado e para outros de psicopata, houve desde o início uma atmosfera de crença na ultra-seriedade com que Arteta, de forma fria, dizia que a sua equipa ia jogar bonito e ao ataque.

Escassos meses depois, em maio de 2020, Arteta levava o Arsenal à vitória na Taça de Inglaterra e o espanhol foi visto como o filho pródigo. Seguindo a mais nobre arte de passar do desespero e da raiva à esperança e certeza absoluta na vitória, que os adeptos de futebol tão bem cultivam, os fãs do Arsenal viram em Arteta O Escolhido, o Homem Que Faria o Arsenal Jogar Bonito e Vencer.

Depois de uma carreira que teve a passagem mais marcante pelo Arsenal, Mikel Arteta foi adjunto de Pep Guardiola no Manchester City

Manchester City FC via Getty Ima

Até que um ano depois, com o Arsenal a encaminhar-se para um deprimente oitavo lugar (o mesmo da época anterior), os adeptos pediram a cabeça daquele que antes haviam eleito como rei. Não que não houvesse evolução, porque ocasionalmente o Arsenal jogava de facto bonito e de facto ofensivo, mas a equipa era inconstante, não se decidia entre atacar sem pensar no que aconteceria nas suas costas ou jogar em contra-ataque ou segurar a bola tempo suficiente para os adeptos morrerem de tédio.

Se Arteta tem o emprego em causa não é a dar “treinos de ataque” a Guardiola que o vai manter (a crónica do Arsenal-Manchester City, 0-5)

A desilusão com o presente traz sempre saudades do passado e algumas vozes arsenalistas pediram o regresso de Wenger. Entende-se porquê: o mítico treinador francês pegara num Arsenal despedaçado e, com compras meticulosas de jogadores falhados noutras ligas ou jovens em ascensão (Bergkamp, Henry, Patrick Vieira, Ljungberg), criou uma (ou várias) equipas caracterizadas pelo seu futebol belíssimo, ao primeiro toque, com constantes trocas posicionais, muita velocidade e um aroma a romantismo que não era alheio à obtenção de resultados.

A deificação de Wenger deveu-se aos resultados: em mais de 20 anos à frente do clube tornou-o num grande inglês, conquistando três campeonatos e sete taças e chegando à final da Champions, que perdeu para o Barça de Deco e Ronaldinho. É possível que Wenger só não tenha conquistado mais campeonatos porque os donos do clube decidiram construir um novo estádio (dirigindo para este as verbas que estariam destinadas à compra de jogadores) no exato instante em que Abrahamovic comprou o Chelsea, inaugurando uma era de excessos orçamentais com que o Arsenal deixou de poder competir.

Algumas vozes arsenalistas pediram o regresso de Wenger. Entende-se porquê: o mítico treinador francês pegara num Arsenal despedaçado e, com compras meticulosas de jogadores falhados noutras ligas ou jovens em ascensão, criou uma (ou várias) equipas caracterizadas pelo seu futebol belíssimo, ao primeiro toque, com constantes trocas posicionais, muita velocidade e um aroma a romantismo que não era alheio à obtenção de resultados.

Se Wenger obteve resultados a isso muito se deveu a sua famosa obsessividade. O francês trouxe nutricionistas para ditar a alimentação dos jogadores, ditava as horas de sono dos mesmos, executava centenas de vezes as mesmas movimentações ofensivas, até a equipa conseguir atacar de olhos fechados. Mas o tempo derrota sempre o génio individual: Wenger ficou famoso por nunca ver jogos dos adversários, muito menos adaptar a forma de jogar a estes; na era do vídeo e dos dados isso custou-lhe pontos e foi degradando a sua posição até à inevitável saída.

Os deuses são difíceis de substituir, como o péssimo futebol do Manchester United desde a reforma de Ferguson demonstra cabalmente. Mas Arteta parecia ser o homem certo, até acabar pela segunda vez consecutiva no oitavo lugar. Algo no entanto aconteceu, no ano passado – ou não aconteceu: contra tudo o que era previsível, não só a direcção do Arsenal não demitiu Arteta como o apoiou, comprando os jogadores que ele pediu, e aceitando a sua proposta de renovar a equipa com jogadores novos, vindos da formação.

Mikel Arteta conquistou a Taça de Inglaterra em 2020, ficou também com a Supertaça de 2020 mas não conseguiu manter o nível na Premier League

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E assim, no ano passado, à terceira jornada, o Arsenal somava três derrotas. A pressão para despedir Arteta era de tal monta que ele provavelmente já teria começado a escolher o seu caixão. Mas a desilusão tem as suas vantagens: o Arsenal não é campeão desde 2004, o que significa que a voz dos adeptos acaba por ter menos peso e os treinadores um pouco mais de tempo.

Lentamente o Arsenal de Arteta começou a fazer o que ele prometia: jogar ao ataque, com a bola no pé, a construir de trás, e com velocidade de trocas posicionais constantes. Jogadores problemáticos (Aubameyang ou Pepe) foram sendo eliminados; jovens e escolhas precisas (Martinelli ou Odegaard) tiveram minutos e minutos de jogo. A época de 2021/2022 viu o Arsenal no quarto lugar jornadas e jornadas a fio – até que, muito Arsenalmente, perderam com (quem mais?) os Spurs e sucumbiram mentalmente na última jornada.

“Se não estão prontos para jogar, se estão nervosos, fiquem em casa.” Xhaka arrasa colegas do Arsenal depois de derrota com o Newcastle

O que está a acontecer no Arsenal, contudo, não é apenas a transição constante de Arteta de bestial para besta e vice-versa: é uma gradual aproximação do futebol praticado aos princípios defendidos pelo seu treinador (pressão, bola no pé, tabelas); é uma lenta renovação do plantel, com primazia aos jogadores da casa e compras precisas de jogadores ora tecnicistas (Odegaard, agora Fábio Vieira) ora capazes de fortalecer uma defesa que há anos é menos confiável que um banco português.

Este ano, com a chegada de Saliba e Zinchenko (central e lateral esquerdo), bem como de Gabriel Jesus, o Arsenal não só tem um 11 que se aproxima do City ou do Liverpool, como tem no banco talento suficiente para dar a volta a um jogo. É a equipa que mais oportunidades cria (a seguir ao (City) e, apesar de por vezes ainda parecer frágil defensivamente (como contra o Manchester United), está cada vez mais coesa.

Arteta confirmou nos primeiros tempos a ideia de que poderia se O Escolhido, não confirmou na Liga mas lidera agora a prova

Arsenal FC via Getty Images

Isto é o que os dados, as estatísticas, dizem – já a prova do olho elege o Arsenal como a equipa que neste momento melhor futebol pratica em Inglaterra. Certo, passaram só sete jogos, mas nos cinco primeiros só deu vitória, e a única derrota (à sexta jornada, com o United) podia facilmente ter sido uma vitória, se o ataque não desperdiçasse as oportunidades que teve.

O que se segue pode definir a época: hoje os londrinos jogam em casa com os rivais Spurs (cujo futebol cínico os coloca, neste momento, no terceiro lugar, dois pontos atrás dos vermelhos), uma semana depois vão a Liverpool. Os adeptos sabem do que a casa gasta – empates ou derrotas nestes dois jogos e será apenas o Arsenal a Arsenal.

Uma estreia para mais tarde recordar (ou trazer saudades): Fábio Vieira estreia-se na Premier com golo, vitória e um registo histórico

Mas, e se o Arsenal atravessar estes dois jogos no primeiro lugar, depois de ter jogado com três dos seus cinco rivais na luta pelo título/Champions? Aí não haverá água suficiente para a fervura: o Arsenal será candidato ao título pela primeira vez em muitos anos – e Arteta será mais bestial que nunca. Pelo menos até à próxima derrota.

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