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Depois do comício de Braga com que encerrou a passagem de um dia pelo norte do país, o secretário-geral do PCP voltou a aparecer ao lado de João Ferreira. Numa arruada no Barreiro, terra que já foi CDU e que agora está nas mãos do PS, Jerónimo elogiou a campanha “excecional” da coligação, deu “20 valores” a João Ferreira — embora tenha descartado para já discutir a possibilidade de o candidato lhe suceder na liderança do PCP. E admitiu que a conjuntura do país é “diferente” do que era em 2014, com a troika, o que deverá influenciar o resultado eleitoral negativamente para a coligação.

“Nós consideramos que o João deu o seu melhor para que a CDU se reforçasse, é uma contribuição inestimável que terá consequências para o futuro”, afirmou Jerónimo de Sousa, elogiando a “campanha excecional em termos de esclarecimento” e de “posicionamento” que “percorreu o país inteiro”. Minutos antes, tinha bebido um copo de moscatel e comido um bolo, oferecido por dois militantes do PCP que montam uma banca de propaganda da CDU naquela rua do Barreiro sempre que ali há arruadas. “Bebeu só um bocadinho, comeu um bolo e foi satisfeito”, comentou Mariano Vargas, o militante que lhe ofereceu o copo.

Mas não há, a julgar pelas sondagens, razões para grandes brindes. Perspetivando já a possibilidade de perder um eurodeputado face aos três que elegeu nas últimas eleições, Jerónimo de Sousa insistiu que o resultado “ainda está em construção”, mas reconheceu que a conjuntura é diferente de 2014. Nas eleições anteriores, afirmou Jerónimo de Sousa, o povo português estava “fustigado” pela “violência da troika” e pelo “pacto de agressão”. Não desvalorizando que a Europa também enfrenta atualmente uma “crise instalada”, Jerónimo assumiu que este é um “quadro diferente nessa conjuntura”.

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Todas as sondagens têm dado à CDU a possibilidade de eleger apenas dois eurodeputados, ao passo que em 2014 elegeu três. João Ferreira tem sempre insistido que não é “espetador desta campanha” e que está ativamente a construir o resultado.

Jerónimo de Sousa reagiu também esta manhã às declarações de Rui Rio, que, na quinta-feira, acusou o PS de pôr a “geringonça” na “roda dos enjeitados”. O líder social-democrata afirmou que quando vê “o PS a atacar o PCP e o Bloco como se nunca tivessem criado uma determinada geringonça” se lembra do mecanismo onde eram colocados os “recém-nascidos bastardos para que fossem adotados”.

Para o secretário-geral comunista, “independentemente da elegância ou falta dela da expressão”, pode perceber-se o “desabafo e o estado de alma do candidato do PSD”. “Mas o que queria dizer é que não são expressões dessas que dignificam uma campanha eleitoral, onde há confronto de ideias, diferenças e divergências. Preferimos falar pela positiva, aos portugueses, sobre o que está em causa”, sublinhou.

João Ferreira: “É legítimo supor” que PS, PSD e CDS “se vão somar a uma corrente que prejudica o país”

Antes, João Ferreira já tinha feito um balanço da campanha eleitoral, destacando o “esforço constante em trazer para esta campanha a objetividade, o rigor, seriedade no tratamento das questões. Apresentámos propostas sobre as mais variadas áreas”.

“Sobre salários, sobre questões sociais, propostas visando uma convergência no progresso na Europa em termos de condições de vida e de trabalho. Apresentámos propostas sobre questões pendentes que estiveram em discussão no Parlamento Europeu e que vão estar muito proximamente, como os fundos estruturais, formas de mobilizar esses fundos a favor de Portugal de uma forma mais efetiva, apresentámos propostas sobre a reforma da PAC, políticas das pescas, combate à evasão fiscal, no domínio do ambiente e do combate às alterações climáticas, que vão além de meros slogans que temos visto ser repetidos, e que se transformaram em desafios às outras forças para que clarificassem as suas posições”, resumiu João Ferreira.

“A muitas dessas questões não houve resposta, não houve definição dessas posições. Avançámos com propostas concretas, assumimos quais vão ser as nossas posições. O nosso voto não vai ser usado para surpresas negativas”, assegurou o cabeça-de-lista da CDU. Questionado sobre se as surpresas negativas afetariam eleitores do PS, PSD e CDS, João Ferreira assegurou que, “não havendo clarificações, é legítimo supor que tal como aconteceu no passado, alguns deputados dessas forças políticas se vão somar a uma corrente que prejudica o país”.

“Fomos aqueles que mais propostas trouxeram a esta campanha”

Ao fim da tarde, a caravana da CDU teve a maior arruada de toda a campanha (só comparável à de Almada, no fim de semana passada), no Chiado, em Lisboa. A arruada trouxe pouco de novo em termos de mensagem política — com o candidato João Ferreira e o secretário-geral do PCP a aproveitarem as últimas horas para apelar ao voto na coligação.

Aos jornalistas, durante a descida do Chiado, João Ferreira voltou a lembrar o facto de a campanha ter sido feita à base de apresentação de propostas e assumiu mesmo: “Fomos aqueles que mais propostas trouxeram a esta campanha. Trouxemos propostas quase diariamente. E pedimos clarificações”.

“Aqui chegados, a ausência de resposta a esses desafios revela que a CDU é a força de confiança, em quem os portugueses podem confiar”, destacou — sempre sem assumir uma meta para o resultado eleitoral, pedindo apenas um “reforço” da coligação. “Há várias formas de reforço, em numero de votos, em percentagem, em eleitos”, disse, assinalando que a CDU não pede o reforço “a partir do nada, mas a partir do trabalho feito ao longo dos anos”.

No fundo da rua Garrett, Jerónimo de Sousa falou brevemente no púlpito para tornar a elogiar João Ferreira, destacando que o candidato “fez um campanha extraordinária” e deixou o último apelo ao voto. “Faltam horas para ganhar mais um indeciso”, disse às centenas de pessoas presentes na baixa de Lisboa.

Luís Filipe Vieira em jantar de apoio em Santa Iria de Azoia

À noite, antes do comício de encerramento no Seixal, a caravana jantou com centenas de apoiantes num hotel em Santa Iria de Azoia. Os breves discursos serviram essencialmente para recordar a lição dada durante as últimas semanas, mas foi a presença do presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, que se destacou.

À entrada, preferiu não se alongar em declarações aos jornalistas, dizendo apenas que “o voto é secreto”, mas o seu “é de esquerda com certeza”. Fonte da coligação explicou depois à comunicação social que Vieira foi ao jantar a convite de um amigo, que é apoiante da CDU.