José Manuel Fernandes, eurodeputado eleito pelo PSD, defende que os sociais-democratas não vão perder eurodeputados para o Chega e não tem dúvidas: o partido liderado por Luís Montenegro vai vencer as próximas eleições europeias, em maio de 2024. E para o líder da delegação do PSD no Parlamento Europeu, o conceito de vitória é claro: maior percentagem de votos e aumento de eurodeputados.
Numa entrevista ao Observador, feita no Parlamento Europeu, a convite da representação portuguesa da Comissão Europeia, José Manuel Fernandes afasta, mesmo assim, a necessidade de Montenegro se demitir caso o resultado nas europeias venha a ser negativo. E ainda que não aponte nomes para a corrida de 2024, também não se põe de fora: “Sem falsas modéstias”, o social-democrata chega mesmo a destacar o currículo que tem na Europa.
Quanto aos fundos europeus, o eurodeputado acompanha a crítica do líder do partido sobre a “campanha com dinheiros públicos” que António Costa está a fazer para granjear simpatia dos portugueses. “Não é normal é andar constantemente a inaugurar placas sem obra física em andamento”, diz.
Ainda no plano nacional, depois de um fim de semana em que André Ventura e demais dirigentes do Chega aproveitaram a Convenção para exigir pastas ministeriais, e numa altura em que a direção social-democrata continua a manter o tabu sobre possíveis alianças, José Manuel Fernandes é taxativo: o PSD não deve fazer “nenhum tipo de acordo” com o Chega.
José Manuel Fernandes, eurodeputado: “O PSD não deve fazer nenhum acordo com o Chega”
“Derrota nas europeias não significa que Montenegro fique em causa”
No último fim de semana, decorreu a Convenção do Chega. André Ventura prometeu ter o melhor resultado de sempre do partido nas eleições europeias. Isso é um problema para o PSD?
O PSD vai ganhar as próximas europeias. Tem feito um excelente trabalho no Parlamento Europeu, mas, mais relevante do que isso, é que a situação nacional tem muita influência. A força do PSD nacional, neste momento, permite dizer que estamos em crescendo. As sondagens e a tendência indicam isso. Não coloco o Chega como uma ameaça para o PSD. Elegendo eurodeputados pode ser uma ameaça para todos. Mas o PSD vai ganhar.
E Luís Montenegro está obrigado a ganhar as eleições? Por serem o primeiro grande desafio eleitoral a nível nacional.
Não coloco a responsabilidade do resultado unicamente em cima do líder. Haverá um cabeça de lista, uma lista, todo um partido a mobilizar-se. O líder também vai a votos, mas não é o único. A vitória do PSD vai ser um excelente indicador para as eleições seguintes, que não sei se não poderão ser antecipadas.
Se o PSD não ganhar, Montenegro deve tirar consequências políticas?
O Luís Montenegro retira sempre consequências políticas de resultados eleitorais, mas essa consequência política não significa sequer que a liderança estivesse em causa.
Apontou à vitória do PSD. Mas se perder eurodeputados e ganhar em percentagem de votos, isso será uma vitória?
Não. O PSD não vai perder eurodeputados. Vai ganhar as eleições e aumentar o número de eurodeputados, é disso que estou convencido. Se as eleições fossem hoje, acho que seria esse o resultado. E em 2024 ainda será melhor. A mensagem de Montenegro está a passar e o nosso posicionamento em relação à Europa é claro: o PSD tem sido a solução. No que diz respeito aos fundos, na mais diversa legislação os nossos eurodeputados têm sido uma mais valia.
“É uma mais valia termos Paulo Rangel”
Lidera atualmente a representação do PSD no Parlamento Europeu. Espera ser candidato daqui a um ano?
Nunca faço prognósticos ou preposições pessoais. É muito cedo para estar com uma posição sobre o meu futuro político. Nunca programei a minha vida política.
Mas pode ter ou não disponibilidade para aceitar o desafio?
Sem falsa modéstia, tenho consciência de que faço um trabalho que é positivo para a União Europeia e para Portugal. Sou coordenador na comissão de orçamento, estive na negociação do quadro financeiro plurianual, tenho estado na negociação de todos os orçamentos, no desenho dos Planos de Recuperação e Resiliência, fui o negociador do Plano Juncker, que foi muito importante. Tenho consciência disso, mas não tenho uma definição de vontade sobre o meu futuro político.
Paulo Rangel deve continuar como cabeça de lista?
Isso deverá perguntar ao Paulo Rangel. É um excelente eurodeputado e é uma mais valia termos o Paulo Rangel connosco. Domina todos os assuntos europeus r tem força dentro do Partido Popular Europeu. Os alemães têm muita força no Parlamento, mas muitos deles estão há mais de 30 anos e é por isso que vão ganhando capacidade de influência. Mas isso dependerá da vontade do Paulo Rangel.
“Demissões no Governo geraram incredulidade na Europa”
António Costa é um dos líderes europeus há mais tempo em exercício. A imagem do primeiro-ministro ficou afetada pelos casos do último ano? Isso sentiu-se em Bruxelas?
Sente-se.
Só dentro do PPE ou entre todos?
Sente-se alguma incredulidade. Na Europa é difícil ter-se governos de maioria absoluta e é impensável que um Governo com maioria absoluta tenha este desgaste. As demissões e a instabilidade era impensáveis. Aqueles que estão em posições de decisão questionam-se como é que é possível um desgaste tão grande com um primeiro-ministro que tem uma forte experiência política e de Governo.
É há muito comentada a alegada vontade de António Costa de abraçar um cargo europeu. Tem notado movimentações nesse sentido?
Há muita especulação. Acho que António Costa tem esse desejo, mas posso estar a ser injusto. Ter chamado para si a pasta dos Assuntos Europeus é um sinal. Não sei se terá condições, mas se tiver vontade, há aí cargos disponíveis. Independentemente de quem ganha procuram-se depois entendimentos políticos para manter os equilíbrios. Tem o Conselho, o Parlamento e ainda o cargo de Alto Representante, que muita gente retira da equação — eu não retiro.
Acredita que António Costa tem condições para isso ou já perdeu a janela de oportunidade?
Considero que não a perdeu. Se quiser Alto Representante da União Europeia não tenho dúvidas de que conseguiria. Mas depende muito dos resultados, da sua vontade e das lideranças e dos governos em funções. É previsível que em Espanha o PP ganhe as eleições e essas eleições nacionais têm impacto.
“PSD não deve fazer nenhum acordo com o Chega”
Elisa Ferreira, comissária europeia, defendeu esta semana que o PRR não deve ser usado para protagonismos pessoais ou políticos. António Costa está a fazer campanha com o dinheiro europeu, como acusou Montenegro ou isso é normal noutros países, por exemplo?
É normal divulgar o PRR. O que não é normal é andar constantemente a inaugurar placas sem obra física em andamento. António Costa está a usar o PRR e os fundos europeus para campanha política. Também é a única campanha que pode fazer porque o Orçamento do Estado não existe para o investimento público. Portugal é o pais europeu que mais depende dos fundos europeus para o investimento público. O PS não consegue gerar riqueza. O PRR vai ser todo ele executado, mas há uma grande diferença entre gastar e gastar bem. O Governo não define objetivos para 2030, não tem uma estratégia, não há um desígnio nacional. A oportunidade está a ser desperdiçada. Está a ficar um tsunami de milhões que também é usado para fins eleitorais. No Portugal 2030, o Governo vai executar perto de zero para concentrar mais dinheiro para perto das eleições legislativas.
O PSD deve clarificar a posição quanto ao Chega, depois de Miguel Pinto Luz não ter fechado a porta na convenção do partido de André Ventura?
Considero que o PSD não deve fazer nenhum acordo com o Chega. É a minha posição.
E no caso da Madeira em que esse sinal pode ser dado, isso pode ter réplica nacional?
O PSD vai ganhar as eleições da Madeira com maioria absoluta. Não tenho a mínima dúvida.