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Emmanuel Macron's Supporters Celebrate Re-Election In France's 2022 Presidential Race
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Uma contabilidade eleitoral em duplo sentido: Macron ficou acima daquilo que previam as sondagens, mas muito abaixo do resultado de há cinco anos

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Uma contabilidade eleitoral em duplo sentido: Macron ficou acima daquilo que previam as sondagens, mas muito abaixo do resultado de há cinco anos

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Macron tentou enterrar a extrema-direita. Mas ela não só ainda respira como ganhou fôlego

Macron venceu em França, país que não reelegia um Presidente desde 2002. Ficou acima das sondagens, mas não travou crescimento da União Nacional de Le Pen. Legislativas são o próximo desafio.

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“Sepultados, fomos enterrados mil vezes, e mil vezes a História provou que estavam errados aqueles que previam ou esperavam o nosso desaparecimento. Não posso deixar de sentir uma espécie de esperança.” Marine Le Pen tinha iniciado o discurso de derrota nesta noite eleitoral reconhecendo que os franceses não quiseram o “vento de mudança” que a sua candidatura propunha. Mas, em poucas linhas, reverteu a tendência do discurso: tentou inspirar e deixar claro que a União Nacional, antiga Frente Nacional, não está morta. Uma estratégia clara para mobilizar os seus eleitores a pouco mais de um mês das legislativas em França, para eleger os novos deputados da Assembleia Nacional. E com Le Pen a deixar claro que estará presente para esse combate.

Marine Le Pen e Emmanuel Macron. Quem perder França ainda tem futuro político?

Emmanuel Macron, porém, foi o vencedor da noite. Provou que ainda é possível um Presidente ser reeleito em França — algo que não acontecia desde que Jacques Chirac renovou o mandato, em 2002, precisamente contra Jean-Marie Le Pen — e conseguiu até ter um resultado ligeiramente superior ao que previam as sondagens. Em Bruxelas e várias capitais europeias, suspirou-se de alívio perante a garantia de que França não tinha eleito uma política anti-sistema e populista, com ideias revolucionárias no plano europeu e internacional. Mas o suspiro pode durar apenas até ao próximo susto.

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Macron com menos dois milhões de votos, Le Pen com quase mais três milhões

O Presidente renovado sabe-o. Por isso, dedicou grande parte do seu discurso de vitória a reconhecer a divisão profunda que divide a sociedade francesa. Admitiu que muitos dos quase 19 milhões de votos que obteve foram mais para evitar a eleição de Le Pen do que por fé na sua candidatura. “Tenho consciência deste voto e que sou depositário do sentido de dever nos anos futuros”, garantiu. A mensagem era sobretudo para os eleitores de Jean-Luc Mélenchon que engoliram o sapo e votaram em si — talvez mais do que inicialmente as sondagens previam, tendo em conta que o número de votos brancos e nulos desceu face a 2017. Mas Macron também não pode ignorar que teve na noite deste domingo menos dois milhões de votos face há cinco anos, enquanto a adversária aumentou em quase três milhões, segundo as estimativas de Mathieu Gallard, da Ipsos.

Election Night With Marine Le Pen's Rassemblement Nationale Party For France's 2022 Presidential Race Results

Marine Le Pen teve o seu melhor resultado de sempre, com 43% dos votos

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A tendência de crescimento da União Nacional e de Marine Le Pen — que procuram apresentar-se cada vez mais como “moderados” — continua, apesar de ainda não ser suficiente para derrotar um candidato centrista. Com Le Pen à frente do partido, a ex-FN tem conseguido melhorar sempre o seu anterior resultado em presidenciais. Em 2012, Marine conquistou 18% logo na primeira volta das presidenciais — o mesmo resultado de Jean-Marie contra Jacques Chirac. Falhou a passagem à segunda volta. Na eleição seguinte (2017), porém, teve 21% na primeira volta e chegou aos 34% no confronto final contra Macron. Agora, em 2022, teve 23% na primeira volta. Este domingo, alcançou uns 43% que há vinte anos pareciam impensáveis para a candidatura do seu pai.

A “cólera” que França — e a Europa — não podem ignorar

O contexto de governação é também agora muito mais complicado do que aquele que Emmanuel Macron tinha pela frente em 2017. Nos últimos cinco anos, enfrentou múltiplas crises: os Coletes Amarelos cimentaram a perceção do Presidente como distante do eleitor comum e cavaram o fosso entre comunidades urbanas e rurais; a Covid-19 e o movimento anti-vacinas trouxeram novas dores de cabeça; a guerra na Ucrânia traz um contexto internacional mais complicado no plano europeu, de equilíbrios delicados com uma Alemanha hesitante perante a Rússia.

O crescimento da extrema-direita francesa — porque sim, Le Pen não ganhou, mas cresceu — é a lança na Europa de todo o movimento populista e anti-sistema. Um cenário algo diferente do da Alemanha, por exemplo, onde a Alternativa para a Alemanha (AfD) não vai além dos 10%, ou de Itália, onde Mario Draghi reduziu o peso da Liga de Matteo Salvini e do Movimento 5 Estrelas.

E, perante uma nova presidência de cinco anos que o próprio Macron prevê que sejam difíceis, o candidato do En Marche! decidiu não ignorar os eleitores de Le Pen na noite eleitoral: “A cólera que os levou a votar neste projeto terá também uma resposta”, garantiu, depois de ter pedido aos apoiantes que não vaiassem o nome de Le Pen. “O voto de hoje faz com que tenhamos de considerar todas as dificuldades de todas as vidas e responder com eficácia a todos os que votaram e àquilo que expressaram.”

Parisians React To Final Results Of The French 2022 Presidential Election

Manifestantes anti-Macron e anti-Le Pen na Praça da República na noite eleitoral

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Macron deixou a difícil promessa de responder a esse descontentamento, mas não é o único que tem dificuldades pela frente. O crescimento da extrema-direita francesa — porque, sim, Le Pen não ganhou, mas cresceu — é a lança na Europa de todo o movimento populista e anti-sistema. Um cenário algo diferente do da Alemanha, por exemplo, onde a Alternativa para a Alemanha (AfD) não vai além dos 10%, ou de Itália, onde Mario Draghi reduziu o peso da Liga de Matteo Salvini e do Movimento 5 Estrelas. Mas a líder da União Nacional já concorreu a três eleições presidenciais consecutivas, onde tem vindo a consolidar o seu perfil político. Vai moderando o discurso de eleição para eleição e torna a União Nacional um partido cada vez mais clean. O resultado? Somou sempre mais votos, de eleição para eleição.

Não que isso signifique uma transformação profunda no seu programa. Além de continuar a propor uma política anti-imigração e anti-Islão clara, a União Nacional já não defende um referendo à presença na União Europeia, mas continua a propor uma “Aliança Europeia das Nações” onde as soberanias nacionais tenham mais peso. Em concreto, Le Pen defende que a Constituição francesa se sobreponha aos tratados europeus — ao mesmo tempo que quer promover referendos nacionais que poderiam alterar o esqueleto da Constituição francesa, como o da “prioridade nacional” (dando prioridade a cidadãos franceses no acesso a apoios sociais e cuidados de saúde, por exemplo). Na prática, o projeto de governação de Le Pen poderia abrir um diferendo claro com Bruxelas, à semelhança daqueles que os governos da Hungria e da Polónia já têm.

En Marche! parte em vantagem para as legislativas, mas União Nacional quer ser a sua oposição

Emmanuel Macron fez de “barragem” à extrema-direita francesa, sim, por agora. Mas enfrenta já o primeiro desafio em junho, quando os franceses forem votar a nova composição da Assembleia Nacional a 12 e 19 de junho. Le Pen já definiu o rumo: aposta todas as fichas em fazer oposição ao Presidente e esperar que o resultado nas presidenciais leve a uma vaga de fundo que se transfira para as legislativas. “Vou liderar esta luta ao lado de Jordan Bardella, com todos aqueles que se opuseram a Emmanuel Macron, todos aqueles que têm a nação ligada ao seu corpo. Queremos unir todos aqueles que, independentemente do seu background, queiram unir as suas forças contra Emmanuel Macron”, prometeu a candidata, referindo-se ao seu “delfim” de 25 anos, que preside atualmente ao partido.

O mês que falta para as eleições será marcado pelas jogadas de bastidores e trocas de favores para cimentar as alianças que vão determinar os candidatos às legislativas. À direita, porém, Le Pen pensa que estas presidenciais provaram que Zemmour foi um epifenómeno e que foi ela a consolidar-se como verdadeira líder da extrema-direita francesa e como líder da oposição a Macron.

Abertura a quem se queira juntar, sim, ma non troppo. Apenas se for a União Nacional e Marine Le Pen a liderar essa oposição a Macron. Foi outra das conclusões claras da noite deste domingo, quando Éric Zemmour apelou no seu discurso a que haja uma “união” daquilo a que chamou “bloco nacional”, para combater o bloco centrista que apoiará Macron e o bloco da esquerda, que se unirá em torno de Jean-Luc Mélenchon. A resposta chegou pronta ainda na noite eleitoral, pela voz do braço direito de Le Pen: “Não vamos fazer uma aliança com o Reconquista [partido de Zemmour]”, garantiu Bardella ao Figaro. “Pelo contrário, neste pólo popular que estamos a construir com gente fora da UN, há gente que beneficia mais de ter o nosso apoio.”

O mês e meio que falta para as eleições será marcado pelas jogadas de bastidores e trocas de favores para cimentar as alianças que vão determinar os candidatos às legislativas. À direita, porém, Le Pen pensa que estas presidenciais provaram que Zemmour foi um epifenómeno e que foi ela a consolidar-se como verdadeira líder da extrema-direita francesa e como líder da oposição a Macron.

Voting Day In France For Final Round Of 2022 Presidential Elections

As eleições legislativas francesas acontecem a 12 e 19 de junho

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Os resultados, para já, dão-lhe razão — pelo menos em relação à primeira parte. As legislativas ditarão se a União Nacional é capaz de dar o salto, numa Assembleia Nacional onde atualmente tem apenas oito deputados, ou se ficará pelo caminho. Ao L’Express, o politólogo Bernard Sananès refletia no final da noite eleitoral que o Presidente beneficia daquilo que historicamente se chama “o fator maioritário”: quando as legislativas são depois das presidenciais, os franceses costumam conceder ao Presidente uma maioria próxima da sua força política. “Isto é ainda mais verdade porque os eleitores dos candidatos derrotados [nas presidenciais] estão mais desmobilizados do que os do vencedor”, explica.

Foi isso que Le Pen tentou contrariar com o seu discurso, onde garantiu que não foi sepultada. A História nas legislativas francesas está do lado de Macron; mas na História política francesa, a extrema-direita também nunca tinha tido mais de 40% dos votos numa eleição presidencial. Até esta noite.

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