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Pedro Pablo Pichardo e Nelson Évora tiveram o primeiro grande duelo nos Mundiais de 2015, ganhos pelo então líder incontestável Christian Taylor
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Pedro Pablo Pichardo e Nelson Évora tiveram o primeiro grande duelo nos Mundiais de 2015, ganhos pelo então líder incontestável Christian Taylor

Pedro Pablo Pichardo e Nelson Évora tiveram o primeiro grande duelo nos Mundiais de 2015, ganhos pelo então líder incontestável Christian Taylor

Nelson Évora vs. Pedro Pablo Pichardo: a rivalidade de clubite, orgulho e naturalizações entre dois símbolos olímpicos

"Picavam-se" nas pistas de forma salutar quando eram de países diferentes, entraram em choque fora delas quando passaram a representar a mesma bandeira: os três motivos para a guerra no triplo salto.

“Tranquilo com Pichardo como meu sucessor? Estou. Encontrei uma foto muito engraçada há pouco tempo, em que em 2015 nós demos a volta de honra ao estádio juntos. Ele ainda representante de Cuba e a conversa que nós tivemos foi super agradável, embora a imprensa tenha feito aqui o bom e o vilão para vender mais. Eu olhava para aquela foto e pensava que a vida dá voltas incríveis, não é? Acho que é bom haver sucessores e saber que somos uma referência. Ele já conquistou os maiores títulos que eu conquistei, mas é bom saber que outros virão e isso será uma referência para eles”, comentou Nelson Évora no “Em 40 minutos” da Rádio Observador. “Quando chegámos a Portugal, ele falava connosco. Quando deram a nacionalidade ao Pedro, ele falava connosco, dava-se connosco. De um dia para o outro, parece ter sido um problema terem dado a nacionalidade ao Pedro, é como se não o conhecesse”, disse à SIC Jorge Pichardo, pai e técnico do atleta.

“Não é à toa que Pichardo está em Portugal. Fiz o que fiz, tive de sair do clube mas Nelson Évora vai ser sempre Nelson Évora”

Portugal não tem propriamente muitos campeões olímpicos mas, entre os cinco que conta na história, todos no atletismo, os últimos dois têm escrito uma história particular pelo despique direto em termos públicos. Nem sempre foi assim, está mais aceso do que nunca. Mas o que motivou essa relação azeda que voltou a conhecer um ponto alto este fim de semana? Uma “luta de galos” que se “picavam” de forma salutar na pista em 2015 mas que viram a sua ligação marcada pela forma como Pichardo chegou ao Benfica para ocupar o lugar que tinha sido de Nelson Évora antes da passagem para o Sporting e foi naturalizado em 225 dias. A partir daí, tudo mudou. E até um momento limite que poderia ter acalmado as partes, em Tóquio, foi transformado quase de forma inconsciente em mais argumentos para apontarem o dedo um ao outro.

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Pai de Pedro Pichardo responde a Nelson Évora: “Não vai ter problemas com o Pedro, vai ter comigo”

A primeira “luta de galos”, o adeus a Ganço e uma guerra aberta entre Benfica e Sporting

Nelson Évora e Pedro Pablo Pichardo encontraram-se pela primeira vez nas pistas como adversários já numa fase diferente das carreiras em 2015. Antes desses Mundiais ao Ar Livre em Pequim, onde Nelson ganhara o título olímpico em 2008 e era uma das figuras de proa no regresso ao Ninho do Pássaro, um estava a subir e outro tentava não descer. Pichardo tinha sido campeão mundial júnior em 2012 a saltar 16,79 e logo no ano seguinte ganhava a medalha de prata no Campeonato do Mundo de seniores com a marca de 17,68, ficando apenas atrás do francês Teddy Tamgho que passou a barreira dos 18 metros (18,04). Em 2014, nuns Mundiais de Pista Coberta sem grande parte das estrelas que dominavam o triplo, voltou a ficar com a prata com 17,24, nove centímetros atrás do compatriota Ernesto Revé. Já Nelson Évora dava os primeiros passos a sério após dois anos seguidos sem grandes provas internacionais, ficando em sexto nos Europeus de 2014.

Esse era o tempo do norte-americano Christian Taylor, um todo poderoso do triplo que voava nos momentos decisivos e que ameaçava o mítico recorde do britânico Jonathan Edwards (18,29). Foi isso que aconteceu de novo em 2015, numa das mais emocionantes finais do triplo em Mundiais dos últimos anos: na última série de tentativas, Nelson Évora fez a melhor marca pessoal do ano com 17,52 que lhe permitia ascender a terceiro à frente do norte-americano Omar Craddock (17,37), Christian Taylor passou para a frente com 18,21 fazendo a chamada a 11,5 centímetros e carimbou o segundo melhor registo de sempre e Pedro Pablo Pichardo ainda melhorou para 17,73 mas teve de contentar-se com a prata. Sem haver uma razão em específico para isso, a “luta de galos” começava nesse ano em Pequim, com Nelson a querer mostrar que não estava acabado e Pichardo a querer confirmar uma nova vaga de saltadores. E aí até falaram bem, na volta de honra no final.

Nelson Évora saltou (literalmente) para a ribalta entre 2007 e 2008, sagrando-se campeão mundial e olímpico em anos consecutivos

Getty Images

“Este pódio soube a ouro. Foi uma competição dura e consegui a medalha de bronze no último ensaio. Soube-me melhor, soube-me a ouro. Era isso que ambicionava: poder dar esta alegria a Portugal. Agora estou super motivado, o próximo ano é que interessa. Já consegui mostrar aos meus adversários que estou de volta e que vai ser também uma competição muito interessante. Segredos? A paixão, a entrega e a sinceridade no local de trabalho. Vim passo a passou até chegar aqui”, comentava então Nelson Évora, já a perspetivar os Jogos do Rio de Janeiro depois de voltar a ultrapassar a fasquia dos 17 metros e meio pela primeira vez desde 2009. Esse ficaria como o primeiro e último duelo entre ambos em grandes competições internacionais depois da “desistência” de Pichardo na primeira experiência olímpica em 2016 (e quando pouco mais de um ano antes batera o seu recorde nacional por Cuba, saltando a 18,08). Nelson voltou a fazer a sua melhor marca do ano mas não passou dos 17,03 com três nulos nas últimas tentativas, acabando na sexta posição.

O atleta apostava grande parte da sua segunda vida depois de uma lesão gravíssima no Brasil mas as coisas acabaram por não correr como queria, havendo um assumir junto de pessoas mais próximas que pelo menos a medalha de bronze do chinês Dong Bin a 17,58 poderia ter sido alcançada (Christian Taylor e Will Claye estavam num momento de forma acima e seria complicado competir com os norte-americanos). E foi nas declarações depois desse insucesso que as coisas começaram a mudar. “A única coisa que, se calhar, teria feito de diferente era não ter feito Pista Coberta, deveria ter-me resguardado um pouco mais mas o meu treinador optou por eu ter mais ritmo competitivo. Não me trouxe nada mas o que está feito está feito, temos de aprender com estas coisas”, referiu. E João Ganço, o seu técnico de sempre, não gostou.

Nelson Évora deixou de trabalhar com João Ganço após os Jogos de 2016, chegando ao fim uma ligação de 25 anos

AFP via Getty Images

Apesar de ter ficado a ideia de um “divórcio” a bem, o treinador assumiu depois que tinha partido de si essa separação. “Achei que foi uma falta de respeito fazer aquele tipo de declarações sem falar comigo antes. Decidi logo ali que não o treinava mais mas não lhe disse na altura porque ainda tinha dois meetings para disputar e não queria perturbá-lo. Decidi enviar um email ao Benfica, a informar que não o treinava mais, e outro ao Nelson, estava ele de férias. Não esperei que ele regressasse das férias para ter tempo de encontrar novo treinador e preparar a época. A partir do momento em que não confia mais no treinador não faz sentido continuar, as imagens que se tinham criado até aí já não iam ser tão bonitas”, disse ao Expresso. Até aí houve falta de comunicação, com o comunicado da separação a seguir antes do que estava previsto: “Quero agradecer profundamente ao professor Ganço toda a dedicação, entrega e companheirismo, em todos os momentos da minha (e nossa) carreira. Novos voos virão mas a admiração e amizade permanecerá”.

Essa não teria a única mudança na vida de Nelson Évora, que já tinha em vista a nova ligação com o grupo de trabalho liderado pelo cubano Ivan Pedroso em Guadalajara (Espanha). Ainda antes do final do contrato com o Benfica, que tinha sido renovado em 2013 até setembro de 2016 apesar da grave lesão contraída no ano anterior, o atleta foi sondado pelo Sporting no âmbito de uma aposta forte dos leões não só no atletismo mas também no projeto olímpico. Aliás, os encarnados perceberam que a mudança poderia mesmo ser realidade através da judoca Telma Monteiro, também ela com uma proposta mais vantajosa em termos financeiros que chegou de Alvalade e foi recusada. E, segundo confirmaram ao Observador duas fontes ligadas ao processo, Nelson Évora telefonou a Luís Filipe Vieira, então presidente do conjunto da Luz, para anunciar que estava de saída do clube menos de duas horas antes de ser apresentado por Bruno de Carvalho em Alvalade.

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre a rivalidade entre Évora e Pichardo.

A nacionalidade de Pichardo foi “comprada”?

O caso seguia para tribunal, tal como o de outros atletas que saíram nesse ano do Benfica. Antes, tinha dado várias voltas: o Benfica enviou um aviso a Nelson Évora sobre a intenção de exercer o direito de opção que estava previsto no contrato, a carta registada acabou por voltar para trás, houve uma reunião entre as duas partes onde estava em cima da mesa um aumento do valor anual de 37.500 para 45.000 euros, essa oferta foi depois formalizada por email com duração alargada ao novo ciclo olímpico de quatro anos (até 2020) e todos os prémios por rendimento desportivo que já existiam antes. A seguir, silêncio. Por telefone, por mensagem, por email ou por amigos próximos. Só mesmo a 22 de outubro, 12 dias depois desse encontro, o atleta voltou a falar com alguém dos encarnados, neste caso o seu líder e para dizer que a proposta em cima da mesa ficava aquém do que merecia. O acordo celebrado com o Sporting até 2020, tinha um vencimento mensal maior (rondaria os 10.000 euros), bónus por conquistas superiores e ainda o prémio de assinatura.

Nelson Évora teve o primeiro duelo internacional frente a Pedro Pablo Pichardo nos Mundiais de 2015, ganhos por Christian Taylor

Andy Lyons

“Não vos quero convencer de nada, não me quero justificar de nada, nem me desculpar de nada! Apenas dizer que foi uma honra para mim envergar a camisola do Sport Lisboa e Benfica… E não vos vou falar no âmbito profissional, porque desse ninguém duvida da minha entrega e dedicação ao clube. Hoje quero falar de amor! Porque podem dizer-me tudo o que quiserem, mas quem está indignado comigo é porque ama o Benfica e quem está feliz por mim é porque ama o Sporting!”

No meio disto tudo estou eu, um profissional que esteve 12 anos no Benfica, honrado por ter tido a oportunidade de envergar a águia ao peito, honrado por ter recebido o amor das pessoas que hoje lançam a sua ira sobre mim! Quantos de nós já pensámos que gostamos de alguém para sempre e as coisas de facto não resultaram? Quantas relações acabam com as pessoas a gostarem uma da outra, mas não se entenderam em relação aos objectivos comuns? Muitas!”

“O Benfica terá sempre um lugar guardado no meu coração, por tudo o que vivi e conquistei, mas acima de tudo pelo carinho que vocês me deram e acreditem, que isso fica 100 vezes mais na minha cabeça, do que as palavras que me dirigiram nas últimas 24 horas. Obrigado ao Benfica porque juntos passámos por muitas coisas que fizeram a nação benfiquista ficar orgulhosa! Por fim, obrigado ao Sporting Clube de Portugal, por acreditar em mim como atleta e pessoa que ainda tem muito para dar ao país!”

"Hoje quero falar de amor! Porque podem dizer-me tudo o que quiserem, mas quem está indignado comigo é porque ama o Benfica e quem está feliz por mim é porque ama o Sporting!", escreveu Nelson Évora na mensagem de despedida aos encarnados antes de ser apresentado em Alvalade.

A guerra jurídica chegou ao ponto de se discutir uma vírgula no ponto 4 da cláusula 5.ª do contrato com o Benfica, com os encarnados a defenderem que tinham do seu lado a possibilidade de acionar uma cláusula de opção para renovar esse contrato caso fosse aprovado pelos serviços do Centro de Medicina e pelos serviços médicos do clube e os verde e brancos a responderem com uma visão distinta que colocava um hipotético prolongamento do vínculo mediante aprovação das duas partes em causa. Em termos internos, na Luz, houve mesmo quem defendesse que se a Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) aceitasse a inscrição do campeão olímpico pelo Sporting, o clube deveria abandonar a modalidade – sendo que a batalha nos tribunais, no máximo, poderia levar a um pagamento de 37.500 euros, equivalentes a mais uma temporada de contrato. Até mesmo depois da prova de estreia pelos leões, no meeting francês de de Val de Reuil em fevereiro de 2017, o Benfica não queria deixar cair o descontentamento. No entanto, estava também a procurar soluções.

Em abril de 2017, um mês depois de Nelson Évora ter conquistado a medalha de ouro nos Europeus de Pista Coberta pela segunda vez consecutiva, Pedro Pablo Pichardo desertava de um estágio da seleção cubana na Alemanha, em Estugarda. Não foi algo instintivo, do momento. Tinha antecedentes, incluindo episódios que considerava terem marcado a sua carreira até aí entre o que era e o que podia ter sido. Ponto curioso: quando isso aconteceu, foi notícia em Portugal porque Nelson Évora tinha perdido um adversário nos Campeonatos do Mundo de Londres. O que poucos ou quase nenhum sabiam era que estava prestes a ganhar aquele que ficaria como “adversário” não só no plano nacional mas para todo o resto da sua carreira. Até hoje.

Naturalização em 225 dias, uma “farpa” após os Europeus e as críticas que foram até à RTP

“O que se passou aqui hoje [em Tóquio] foi uma vingança de tudo o que me fizeram em Cuba. Em 2014, chegaram mesmo a sancioná-lo por seis meses e cumpriu dez meses sem saltar. A mim despediram-me do trabalho, disseram que não estava capacitado para trabalhar com ele e tive de ir para o basebol. Disseram que eu ali já não estava capacitado, que eu tinha mesmo de sair do INDER (Instituto Nacional do Desporto, Educação Física e Recriação). Foi esta a resposta”, comentou após a medalha olímpica de Pichardo o seu pai, Jorge. Pai, confidente, treinador, pessoa com quem tem a ligação mais próxima. A cumplicidade entre ambos é daquelas que não precisa de palavras mas existe mais do que isso tendo em conta que, de certa forma, a carreira do campeão olímpico, mundial e europeu no triplo salto ficou também marcada pelo trajeto do pai.

A fuga de Cuba por o pai não o poder treinar, a naturalização polémica e o refúgio em Setúbal. A vida a (triplo) salto de Pedro Pichardo

Os choques entre Pichardo e a Federação Cubana de Atletismo tinham começado em 2014, quando não teve autorização para deixar de trabalhar com o técnico Ricardo Ponce e ficar apenas com pai. Também por isso, houve quase um “jogo de escondidas”, com o atleta a trabalhar com quem não queria e a “treinar” com quem não deixavam. No entanto, a colisão que levou à rutura aconteceu nos Jogos Olímpicos. “O filho do Fidel Castro, o António Castro Soto del Valle, que era responsável pelas equipas médicas desportivas e o chefe dos médicos em Cuba, mandou uma equipa à vila olímpica. Fizeram-lhe testes e queriam que competisse com a fratura. Disse que não e foi levado novamente para Cuba”, explicou Jorge, que não teve também uma outra solução a não ser trocar de país para trabalhar. Rumou à Suécia. Em abril de 2017, o filho Pedro deixou a concentração cubana aproveitando uma porta aberta e fugiu numa viagem de 30 horas de carro.

Pichardo foi apresentado como atleta do Benfica poucas semanas depois de ter desertado de um estágio da seleção cubana em Estugarda, em abril de 2017

Muito antes disso, e perante um mal-estar que se tornou do conhecimento de todos quando não competiu nos Jogos do Rio de Janeiro, Pedro Pablo Pichardo foi começando a receber contactos de outras federações. Umas davam-lhe muito mais dinheiro, casos de Azerbaijão (que tinha já naturalizado Alexis Copello, entre outros) ou Bahrain. Outros davam-lhe muito melhores condições, casos de Espanha ou Itália. Por escolha própria, trocaria a neve (que nunca tinha visto) da Suécia, onde esteve apenas umas semanas, por Portugal e pelo Benfica. Pelo Benfica e por Portugal. No final de abril, o atleta era anunciado pelos encarnados.

“Encontro-me em excelente forma, física e psicológica. Sinto um grande apoio do clube para voltar a alcançar bons resultados e um dos objetivos é voltar a saltar mais de 18 metros ainda durante este ano. E tentar ser campeão. Foi o que sempre quis. Estou em boas condições e espero integrar-me bem neste novo grupo de atletas. Quero representar o clube da melhor forma possível”, referiu Pichardo na apresentação feita com pompa e circunstância em pleno Estádio da Luz, um mês e meio antes de fazer a estreia com a camisola do Benfica no meeting organizado pelo clube no 1.º de Maio. Nessa altura, em junho de 2017, começava a ser falada a possibilidade de naturalização, algo que na verdade já tinha sido pensado como plano desde início.

Benfica contrata cubano Pichardo, um dos melhores do mundo no triplo salto

“Não sei explicar bem a questão do processo de naturalização. No início foi o Benfica, a Federação e o Comité que trataram dos documentos mas o motivo não sei… Eu acho que deve ser por uma questão política. Ainda hoje não posso voltar a Cuba e o meu pai também não. Se moro em Portugal, onde poderia ficar? O que ia ser da minha vida? Antes de ser português tinha outras opções, ainda hoje tenho. De Cuba também! Se sou um campeão olímpico… O Azerbaijão dava-me muito mais do que o Benfica e do que Portugal. Não foi uma escolha feita assim… As pessoas acham que foi uma questão por causa do Nelson Évora mas não foi… Aliás, em Cuba não há clubes, não sabia daquela confusão de Sporting e Benfica antes de chegar…”, referiu na zona mista do Estádio Olímpico de Tóquio, após ganhar a medalha de ouro nos Jogos de 2021.

“A naturalização do Pichardo não teve a ver com o Comité, foi o Benfica que tratou depois de o ter ido contratar. Entenderam que, ao fim de um determinado período de presença em Portugal e sendo essa a manifesta vontade do atleta, a de naturalizar-se, deveriam proceder em conformidade e avançar. Depois teve de aguardar até ser aceite pela Federação Internacional de Atletismo e, a partir desse momento em que ficou tudo resolvido, entrou nos apoios do Comité”, resumiu nessa altura José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal. A forma célere como a naturalização foi tratada em 225 dias, com as condições de “caso de interesse nacional” e de refugiado, abriu ainda mais feridas com profundo impacto em todas as partes envolvidas: Pichardo sentiu-se muitas vezes ostracizado por algo que não tinha culpa. Nelson Évora sentiu-se atingido pelo facto de ter trocado de clube. O Sporting aproveitou também para atacar o Benfica.

“O Sporting defende princípios, critérios rigorosos e claros. Obviamente que esta naturalização de aviário, que foi feita à pressa e de forma totalmente desenquadrada com aquilo que tem sido uma prática recorrente ao longo dos últimos anos, não nos pareceu razoável. Percebemos agora que é a maneira que entenderam começar a fazer as coisas. Uma prática que vai, pelos vistos, começar a ser aquela que vai imperar. Portanto, à face disso só podemos mostrar o nosso desacordo e expressá-lo publicamente, tal como o fizemos com a carta enviada à Federação Portuguesa de Atletismo”, defenderam os leões em comunicado.

Pedro Pablo Pichardo vence primeiro duelo com Nelson Évora em solo português

O primeiro duelo entre ambos ainda a nível de clubes teve lugar nos Nacionais de Pista Coberta, com a vitória de Pichardo sobre Nelson Évora (17,19-17,05) a dar um ponto a mais que seria fundamental para a conquista do título que só foi confirmada na última estafeta dos 4×400 (100-99). “Não há nenhuma pressão, é só uma competição. Só tínhamos competido uma vez, em Madrid, onde ele saiu vitorioso. Penso que é um bom rival mas não me aumenta a pressão, porque dou sempre o máximo nos treinos e na competição”, comentou então de forma quase diplomática Pedro Pablo Pichardo, que em maio de 2018 começaria a saga dos recordes nacionais com a marca de 17,95 no meeting de Doha, a contar para a Liga Diamante desse ano e onde Nelson Évora estava também, não indo além dos 17,04 que lhe valeram o quarto lugar na competição.

“Sem a minha presença é fácil. Campeão!”, escreveu Pichardo nas redes sociais após o título europeu ao Ar Livre de Nelson Évora em 2018.

Nesse mesmo ano, Nelson Évora teria a sua derradeira época de glória: após ter ganho a medalha de bronze nos Mundiais ao Ar Livre de Londres em 2017 (17,19), tendo apenas os inevitáveis Christian Taylor e Will Claye à frente, e de ter ficado a três centímetros do título Mundial em Pista Coberta em Birmingham com 17,40, o atleta ganhou uma das poucas provas que ainda lhe faltavam nos Europeus ao Ar Livre de Berlim, batendo Alexis Copello (cubano com cidadania azeri) e Dimitrios Tsiamis. “Não me podia sentir melhor! Foi uma prova bastante difícil, como viram, mas tive de jogar com a experiência. O pódio fala por si, pois os mais velhos foram também os medalhados. Esta era uma pista extremamente difícil para saltar mas sabia que tinha bons saltos para fazer. Até aos 16,93 teria só de melhorar pequenas coisas para ir mais longo e jogo sempre pelo seguro. Há atletas que arriscam em demasia sem necessidade. Os campeonatos são feitos para ganhar e há que assegurar os títulos. Foi isso que fiz”, comentou de forma visivelmente emocionada.

Nelson aponta aos Jogos de Tóquio, Pichardo “pica” campeão e Benfica faz comunicado (contra a transmissão)

“Se sei que estou na galeria dos melhores do atletismo português? Sei. Sei e era esse o meu sonho quando comecei a minha carreira. O meu principal objetivo era fazer história e orgulhar todos os portugueses que gostam de desporto e que apoiam os seus. Tenho de agradecer esse apoio e reconhecimento dado ao longo destes anos”, acrescentou. Nas redes sociais, Pichardo, que falhara a prova pela falta de uma resposta positiva da Federação Internacional de Atletismo sem a qual a Associação Europeia de Atletismo poderia validar a presença, deixou uma “farpa”: “Sem a minha presença é fácil. Campeão!”. E também o Benfica não passou ao lado da prova, neste caso para criticar a transmissão da RTP: “Os comentários colocando em causa a naturalização do atleta Pedro Pablo Pichardo, assim como a sua postura discriminatória em relação aos atletas do Benfica durante a competição de Berlim, são inqualificáveis e intoleráveis num canal público. O clube critica veementemente este comportamento xenófobo e racista inaceitável (…) Pedro Pichardo tem todas as qualidades para levar o atletismo português a um patamar superior na disciplina do triplo salto”.

Nelson trocou a sapatilha pela bandeira portuguesa, guardou um pedaço de areia e defendeu a aposta nos atletas nacionais

Só em outubro de 2018, quase um ano depois de ter a cidadania portuguesa, a Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF) oficializou as transferências de nacionalidade autorizadas pelo seu Painel de Revisão da Nacionalidade. Pedro Pablo Pichardo estava incluído nesse lote de atletas, sendo o único com uma cláusula de exceção que lhe permitia apenas competir por Portugal a partir de 1 de agosto de 2019. As novas regras exigiam um período mínimo de espera de três anos antes que um atleta pudesse transferir-se para representar outra federação filiada e nenhum atleta poderia transferir-se para outra federação antes dos 20 anos ou voltar a mudar de nacionalidade. “O novo sistema está a funcionar como o organismo pretendia, “permitindo que atletas com uma conexão genuína com um novo país representem esse país após verificações e investigação adequadas”, explicou Sebastien Coe, líder da IAAF.

Federação internacional de atletismo oficializa nacionalidade de Pedro Pichardo

Nelson chorou, Pichardo voou e um mal-entendido fez do cachimbo da paz mais guerra

2019 marcaria o início dos duelos entre Nelson Évora e Pedro Pablo Pichardo também nas grandes provas internacionais representando ambos Portugal. E, logo no início desse ano, o campeão olímpico em Pequim não teve problemas em criticar de forma aberta a celeridade do processo de naturalização, apontando mais uma vez de forma aberta a uma espécie de “vingança” por parte do anterior clube, o Benfica. “No início não vi com bons olhos todo o processo de naturalização dele. Foi e continua a ser, para mim e para muitos outros, algo de muita luta e um processo bastante longo. Todos têm o direito de mudar de nacionalidade. Somos cidadãos do mundo. Acho é que não temos o direito de passar por cima de muitas coisas, de uma história. Por interesses clubísticos fizeram-se coisas inacreditáveis”, assumiu na altura Nelson Évora.

Nelson Évora e a naturalização de Pichardo: “Foi um ataque pessoal. Não sei porque é que deram a volta ao mundo para fazer esta borrada”

“Foi tudo feito por questões clubísticas e com o objetivo de ataque pessoal quando não houve nenhuma má intenção da minha parte na mudança de um clube para o outro. Foi o próprio clube que foi negligente com a minha pessoa. Não sei porque é que deram a volta ao mundo para fazer esta borrada. Críticas por ter perdido o recorde nacional? Não tem a ver com isso, na pista não tenho qualquer problema. A Federação Portuguesa de Atletismo paga-nos 35 euros por bater o recorde nacional. Eu, quando bato o recorde nacional, sinto o meu país e a minha pátria. Na pista não tenho qualquer tipo de problema, quem tem problemas são eles. Eu divirto-me. Não tenho nada a provar a ninguém”, acrescentou ainda o então atleta do Sporting.

Todos sabiam da relação azeda que ambos tinham, todos tentaram secundarizar isso mesmo nos Mundiais de 2019, em Doha. Ambos ficaram aquém do que era esperado. Nelson Évora, medalha de bronze dois anos antes, não passou dos 16,80 e falhou a final. “Não é o meu registo, não é aquilo para que treino mas arrisquei. Saí da minha zona de conforto, andei a bailar com a corrida de balanço, para a frente, para trás… Milagres não se fazem, toda a gente pensa que faço milagres mas não sou santo milagreiro! As pernas estão bem, o corpo está bem e saltei com o coração mas tomei um risco e não correu bem. Agora desejo o melhor a quem está na final, tudo de bom para os colegas de grupo porque provaram que merecem estar na final”, referiu. Pichardo, em estreia por Portugal com 17,62 (melhor marca pessoal do ano), ficou em quarto atrás de Taylor, Claye e Hugues Fabrice Zango no último salto. “Não saiu como esperava. Este é o meu pior resultado de sempre, não posso ficar nada feliz. Agora, tenho de trabalhar para os Jogos Olímpicos”, assumiu.

Pedro Pablo Pichardo termina em quarto e falha medalha na final do Mundial por quatro centímetros

O próximo duelo, já depois da paragem pela pandemia, poderia ter sido nos Europeus de Pista Coberta de 2021, em Torun. Nelson Évora, lesionado, não participou. Pedro Pablo Pichardo, até com uma marca muito aquém do que esperava (17,30), ganhou de forma relativamente fácil. Paragem seguinte? Tóquio. E foi aí que uma relação há muito estragada conheceu o momento que podia ter sido de viragem mas que adensou a clivagem pessoal entre ambos, levando o Comité Olímpico de Portugal a tomar posição. “Apesar de tudo o que se passou, e da mágoa que sempre teve, o Pichardo não passaria ao lado do que estava a acontecer se ainda estivesse na pista. Podia não abraçá-lo mas não passava ao lado”, dizem ao Observador.

Pedro Pablo Pichardo sagrou-se o quinto campeão olímpico português nos Jogos de Tóquio

Ryan Pierse

Durante a qualificação, Nelson Évora lesionou-se na virilha logo no salto inicial, quis manter-se na luta entre as dores que lhe condicionavam de forma visível a corrida mas acabou por falhar o objetivo de chegar à final. Não aguentou o contexto e chorou, sendo confortado por vários outros atletas que lhe iam confidenciando que era uma das suas referências. Pichardo não estava na pista, tendo saído mal fez a marca de qualificação na primeira tentativa. “Se ele lá estivesse cumprimentava-me? Sinceramente, acho que não. Não sei porquê, não por mim, mas não teria de ser eu a abraçá-lo. O Pichardo há-de aprender com a vida. Espero que tudo lhe corra muito bem”, atirou na zona mista. “As medalhas dão estatuto mas o respeito de todos para mim foi muito reconfortante. Apoio do Will Claye? É um super atleta, super talentoso. Temos os nossos piques nas provas, respeitamo-nos todos. O desporto não é uma guerra, é uma competição. É contra nós mesmos, respeitando o adversário, depois das provas somos todos amigos, uns mais que outros”, completou.

A última imagem nos Jogos foi a que Nelson Évora não queria mas a conversa ainda foi parar a Pichardo: “Há-de aprender com a vida”

No dia da final, e apesar de não estar qualificado, Nelson Évora esteve nas bancadas. E houve uma situação que não passou ao lado de ninguém da comitiva nacional, quando o ex-campeão olímpico de 2008 começou a apoiar Hugues Fabrice Zango, que foi seu companheiro de treino durante algumas semanas mas que estava a competir contra Pichardo pelas medalhas. “Não percebo. Nunca falei mal do Nelson. Uma pessoa enviou-me um link de um comentário por causa de uma coisa do abraço… Eu não falo nada do Nelson, não falo nada do Nelson e era bom acabar com isso, para não levar os problemas para a parte pessoal. Há anos que fala de mim e eu não respondo nada. Inveja? Não sei. É como ele diz, já ganhou tudo, porque não me deixa agora fazer a minha carreira? O tempo dele passou, não falo nada, deixe-me fazer a carreira em paz… Apoio ao Zango? Todos viram, não fui eu… Para mim tanto faz, não faz diferença nenhuma”, comentou.

Limpou a areia, falou com o pai, rezou e encontrou a fé para voar: o salto de recorde nacional que coroou Pichardo campeão olímpico

Mais tarde, alertado também para o impacto negativo que se sentiu por esse episódio, Nelson Évora deu os parabéns a Pichardo no Instagram com a mensagem “Muitos parabéns, Pedro. Bingo para Portugal”, numa alusão às quatro medalhas ganhas em Tóquio. No entanto, o assunto foi abordado em termos internos na Missão nacional e José Manuel Constantino, líder do COP, não deixou passar o facto no balanço que fez da participação nos Jogos mesmo sem apontar nomes em concreto mas falando de Nelson. “Portugal deve ter o maior apreço e admiração pelos seus atletas e todos os que representem são talentos nacionais, a fazerem prestações de carácter nacional. Nenhum desses nossos talentos nem ninguém está acima de Portugal. Estamos a representar Portugal e não a nós próprios, deve haver companheirismo, colaboração, entreajuda e reforço do valor. Independentemente dos estados de alma que possam ter, o que conta é o país”, disse.

Um recado para Nelson Évora: “Ninguém está acima de Portugal, independentemente dos estados de alma que possa ter”

“Dos 92 atletas desta Missão, 16 de seis modalidades em 17 não nasceram em Portugal. Destes 16, seis foi porque os pais foram para lá e a formação foi feita em Portugal. 88% da nossa Missão tinha atletas com a formação olímpica em Portugal. Porque tiveram as coisas esta dimensão? Porque houve uma medalha de ouro, a questão da naturalização… Recordo-me da polémica que houve com o Alfredo Quintana e toda a gente o reconhecia, incluindo os que o criticavam. Alguns atletas até já tinham representado outros países em Jogos Olímpicos, não foi o caso do Pichardo. É um cidadão que escolheu ser português”, complementou.

"Se ele lá estivesse cumprimentava-me? Sinceramente, acho que não. Não sei porquê, não por mim, mas não teria de ser eu a abraçá-lo. O Pichardo há-de aprender com a vida. Espero que tudo lhe corra muito bem", comentou Nelson após lesionar-se na qualificação em Tóquio. "É como ele diz, já ganhou tudo, porque não me deixa agora fazer a minha carreira? O tempo dele passou, não falo nada, deixe-me fazer a carreira em paz…", atirou Pichardo após sagrar-se campeão olímpico.

Foi também em Tóquio que Pichardo começou a deixar de lado a mágoa das críticas que foi ouvindo desde o momento em que chegou a Portugal, não só nas posições públicas mas também nas redes sociais. “É complicado porque às vezes as pessoas ofendem-me como pessoa e acho que é uma falta de respeito porque as pessoas não me conhecem e começam a falar, a chamar nomes… Saí de Cuba, para eles sou um traidor mas sou o primeiro campeão olímpico do triplo nascido em Cuba. Agora já não sou cubano, agora faço parte do grupo dos cinco portugueses campeões olímpicos. Cuba está esquecido. Não tenho documentos cubanos, não tenho nada, só a família. Ainda hoje ouvir que alguns me chamam ex-cubano… É complicado para mim. Tenho quatro anos a trabalhar para dar medalhas ao meu país e ver que um português não se sente feliz por um estrangeiro que representa o seu país e se sente feliz por representar o seu país, é um bocado complicado para mim… É um bocado ingrato. Moro em Portugal há quatro anos, a minha filha nasceu lá vou dizer sempre que estou a representar o meu país…”, admitiu entre a questão do sotaque que lhe disfarçava o português cada vez melhor (e teve aulas para isso) e o desejo de comer… “um bacalhau à brás”.

O desabafo de Pichardo: “Já não sou cubano, faço parte dos cinco portugueses campeões olímpicos. Só quero fazer a minha carreira em paz…”

No último ano, após fechar um ciclo de ouro com o primeiro lugar nos Europeus de Pista Coberta, o título olímpico, a segunda posição nos Mundiais de Pista Coberta, a vitória nos Mundiais ao Ar Livre e o triunfo nos Europeus ao Ar Livre, Pichardo encerrou de vez essa “polémica” quando explicou a frase “Nada a acrescentar, you know?”, deixada nas redes sociais após o sucesso em Munique. “Como se diz cá, mandaram-me um bocadinho de bocas, havia pessoas que não acreditavam nos meus resultados, duvidavam que ia atingir o que consegui. Fiquei chateado, isso ficou na minha cabeça. Não conseguia acreditar que havia pessoas que não acreditavam… Hoje já não tenho nenhuma contestação, agora não… A Portuguesa é o meu hino, faz parte de mim. Quando vou para as provas é fazer o melhor, ganhar e ouvir A Portuguesa”, frisou no aeroporto.

Agora a Europa, a seguir o Mundo: Pedro Pablo Pichardo conquista primeira medalha de ouro por Portugal no triplo salto

Nunca houve propriamente uma tentativa aberta de reconciliação entre os atletas, que estiveram juntos no Casino do Estoril no final de 2021 quando a Federação Portuguesa de Atletismo realizou a gala do seu 100.º aniversário, mas todos consideravam que a “guerra” entre ambos teria um período de acalmia. Agora, uma entrevista de Nelson Évora ao programa “Em 40 minutos” da Rádio Observador, onde abordou a situação de Pichardo numa perspetiva de comparação para explicar as dificuldades que sentiu até alcançar a nacionalidade portuguesa apesar de ter chegado ao país com sete anos, reacendeu o despique.

“Sempre fui super educado com ele e com o pai dele, e não sei se foi por assumirem as dores de outras questões clubísticas mas deixou de me cumprimentar. Eu não tenho de correr atrás de ninguém. Sou educado para toda a gente e se eu sou educado para quem eu não conheço, porque é que não hei de ser bem educado para um colega meu de trabalho? (…) Se teve uma cunha? Teve. E é nisto que eu fui sempre contra. Não é à toa que o Pichardo está em Portugal. Houve um triplo saltador que fez as coisas que eu fiz e tive de sair de um clube para ser substituído mas Nelson Évora vai ser sempre Nelson Évora. Nem eu próprio às vezes tenho noção daquilo que eu fiz. Eu às vezes tenho de olhar duas vezes para trás para recordar isto tudo (…) Eu fico contente que ele traga medalhas mas isso é do interesse de quem? Quem é que lucrou com isso? Foi Portugal? Claro. O investimento foi feito a curto prazo. Foi comprado um atleta para poder ter resultados a curto prazo. Nós temos atletas que chegaram antes do Pichardo e que ainda não têm a nacionalidade”, disse.

“Não é à toa que Pichardo está em Portugal. Fiz o que fiz, tive de sair do clube mas Nelson Évora vai ser sempre Nelson Évora”

“Quando dizes que fui comprado estás a faltar-me ao respeito. Não sou uma prostituta nem sou como tu, que saíste mal do clube porque te ofereceram mais. Não sei quais os problemas que tens na cabeça ou se tens problemas com alguém no Benfica mas não deves misturar-me nessas coisas falando de mim (…) Passar 11 anos para teres um documento português não te faz mais português do que ninguém, ou seja, do que eu, que tive em pouco tempo. Afinal, adquirimos os dois nacionalidade portuguesa, o que quer dizer que não nascemos cá. Sempre que tens uma oportunidades falar do Pichardo. Sê homem e fala diretamente para a pessoa ou para o clube com o qual tens problemas. Podes ter a tua história e és o Nelson Évora como disseste mas eu também tenho a minha e sou o Pichardo. Quando fores vencedor da Diamond League, saltares 18 metros e tiveres os meus títulos num ano então falamos de campeões. Sou melhor do que tu… aceita. Tu sabes”, respondeu o campeão olímpico em Tóquio através da sua página pessoal no Instagram.

“Sou melhor que tu… Aceita.” Pichardo responde a Évora: “Não sou uma prostituta”

Oito anos depois do primeiro duelo internacional que terminou com uma conversa animada no momento da volta de honra pela conquista de medalhas, e cinco anos depois do primeiro duelo como portugueses em clubes diferentes, Nelson Évora e Pedro Pablo Pichardo continuam a trocar acusações sempre que a rivalidade vem à baila. Um diz que não tem nada contra e que nunca deixou de falar; outro diz que quer seguir o seu caminho e que nunca fez mal a ninguém. Pelo meio, há toda uma história que colocou dois dos cinco campeões olímpicos nacionais em choque sem perspetiva de uma verdadeira trégua à vista.

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