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Quando foi anunciado que Harry iria lançar um livro de memórias já os duques de Sussex estavam de costas voltadas para a família real e adivinhava-se um abanão no palácio. Com a morte da Rainha Isabel II o lançamento foi adiado, e agora que a chegada às bancas está por dias (na próxima terça-feira) já começaram a rebentar as primeiras bombas de todo um arsenal que o príncipe tem para lançar.
Enquanto William sempre foi o herdeiro do trono, Harry ficou com o segundo lugar (ou “Spare”, no título original da obra que em Portugal será “Na Sombra”, da Objetiva). Embora a posição lhe tenha dado liberdade para pisar (e até cruzar) a linha do comportamento aceitável para um membro da realeza, tem mostrado ressentir-se do seu papel secundário. O príncipe que sempre foi um pouco rebelde, desde que em pequeno deitava a língua de fora, até ter trocado os estudos pelo exército, sempre teve um lugar no coração dos britânicos, como um dos herdeiros de Diana. As festas e fotografias embaraçosas viriam a dar lugar a uma presença carismática em nome de muitas causas. Harry era um dos membros mais queridos da família real quando decidiu deixá-la.
Antes que os suas memórias do passado impludam no presente e comprometam o futuro, relembramos os altos e baixos da vida do príncipe Harry.
O preferido (dos britânicos e da avó)
Henry Charles Albert David nasceu a 15 de setembro de 1984, às 16h20, no hospital de St. Mary, em Londres. Foi o segundo filho dos príncipes de Gales e assumiu o lugar de terceiro na linha se sucessão ao trono. Segundo Diana contou ao seu biógrafo, Andrew Morton, Carlos queria uma menina e quando olhou pela primeira vez para o bebé disse: “Oh Deus, é um rapaz” e terá acrescentado: “E até tem cabelo ruivo”. Quando o príncipe fez estas mesmas observações à Rainha, esta ter-lhe-á respondido: “Devias estar agradecido por teres tido uma criança que é normal”, conta o Sunday Times. O pequeno foi batizado na mítica Capela de St. George no Castelo de Windsor, um local cheio de simbolismo e tradição. Reza a história que Harry era o neto preferido de Isabel II, pelo seu sentido de humor.
Depois de uma fase de rebeldia na adolescência que tantas dores de cabeça deu ao palácio, Harry conseguiu transformar-se num príncipe encantado do século XXI com as suas próprias regras. O talento natural para lidar com as pessoas que tantos destacam na sua personalidade tornou-se a sua assinatura. O príncipe outrora problemático passou a assumir causas e a ser mesmo um dos membros mais populares da família real. No final de 2018, ano do seu casamento, Harry destronou a própria avó como membro mais popular da família real para os britânicos, segundo uma sondagem do YouGov.
Em 2012 a rainha Isabel II celebrou o seu Jubileu de Diamante, 60 anos no trono britânico. Segundo Tina Brown conta no livro “The Palace Papers”, a única instrução que a monarca deu para as celebrações foi que se gastasse pouco e o orçamento ficou limitado a um milhão de libras, no máximo. Nesse ano toda a família real partiu em viagens pelos países da Commonwealth e a Harry coube visitar as Bahamas, a Jamaica e o Belize, na sua primeira viagem a solo em representação da Rainha. Correr com Usain Bolt, o homem mais rápido do mundo, foi apenas um dos momentos que valeram imagens de ouro. “Agora que William estava fora do mercado, Harry com 27 anos tinha assumido o manto de símbolo sexual desgrenhado”, escreve a autora.
A dificuldade de passar do serviço militar para a vida civil foi um desafio que Harry também experienciou, à semelhança de muitos militares, quando em 2015 deixou o exército. Por esta altura já William e Kate eram o casal sensação de duques de Cambridge, Harry era já tio do pequeno príncipe George e foi neste ano que nasceu também a princesa Charlotte. Durante algum tempo William, Kate e Harry foram o poderoso trio que estava a mudar o rosto da família real britânica. O príncipe mais novo sempre gostou muito da cunhada e via-a mesmo como uma irmã mais velha. O (outrora) príncipe rebelde precisava agora de encontrar o seu próprio lugar. Harry tinha muitas causas a que se queria dedicar, mas como irmão mais novo do príncipe William não podia destacar-se mais do que ele.
O rebelde sem causas
Diana “fazia um grande esforço para separar o seu papel de mãe do seu papel de esposa do herdeiro do trono. Ao fazê-lo , esperava fornecer aos rapazes uma infância tão normal quanto era possível dentro das paredes de um palácio. Levava-os ao cinema, a parques temáticos e a restaurantes de hambúrgueres, cada atividade permitindo aos rapazes ter uma vida em comum com os seus amigos”, conta Dicki Arbiter, assessor de imprensa da família real entre 1988 e 2000, no livro “Ao Serviço de Sua Majestade”.
Quando a princesa de Gales morreu a nação britânica estava em estado de choque e queria a Rainha de volta a Londres, mas a monarca estava na Escócia com os netos quando soube da notícia e por lá continuou. “A Rainha e a família estavam a lidar com a tragédia à sua maneira particular. A preocupação mais importante de Sua Majestade era proteger os príncipes William e Harry das notícias e do número sem precedentes de pessoas enlutadas que chegavam a Londres — visões para as quais os rapazes tinham de se preparar quando chegasse o momento de voltarem a casa”, conta Dicki Arbiter. O príncipe Carlos deixou os filhos em Balmoral com os avós e foi a Paris buscar o corpo de Diana para trazer a ex-mulher de regresso a casa.
Não havia um plano de funeral aprovado pela princesa, mas havia um plano para funerais reais em Londres e o único contributo que o governo deu foi “um cheque em branco para cobrir os custos”, revela Arbiter que teve a seu cargo a gestão dos media em várias cerimónias oficiais, incluindo o funeral da princesa de Gales. Quando foi decidida a data do funeral, no sábado 6 de setembro, haveria apenas cinco dias para o organizar com a indicação de que seria um “funeral real sem cerimónia”. Por outro lado, acabou por ser “o maior evento mediático internacional da história da realeza”, desde o casamento da própria princesa 16 anos antes.
O cortejo fúnebre pelas ruas de Londres seria o mesmo do funeral da rainha-mãe, que viria a morrer em 2002. Percurso que, ironicamente, Arbiter tinha percorrido 10 dias antes para definir os planos do funeral da rainha Isabel. A dada altura colocou-se a questão se os membros masculinos da família real deveriam caminhar atrás da carreta, cumprindo assim uma tradição antiga que ditava que os homens da realeza com ligações militares assim o fizessem em funerais reais. “Julgo que toda a gente concordava que os jovens príncipes, com 12 e 15 anos, deviam ser dispensados”, escreve Arbiter. Contudo revela que o príncipe Filipe fez um acordo com os netos e lhes perguntou “Se eu for a pé no cortejo vocês também vão?” Ao que eles responderam que sim. E assim o mundo assistiu a um cortejo fúnebre por Londres no qual se destacava o pequeno príncipe Harry, prestes a cumprir 13 anos. E fica também na memória daquele dia a coroa de flores em cima do caixão com um envelope onde se lia a palavra “Mummy” e que continha uma carta escrita por Harry para a mãe.
A trágica perda terá marcado a adolescência de Harry que não foi fácil, nem, por consequência, para a família real, uma vez que o príncipe protagonizou uma série de escândalos. Enquanto estudava no colégio de Eton também fez das suas. Aos 15 anos foi apanhado a conduzir um todo-o-terreno, fumava pelos corredores do colégio e chegou a rapar o cabelo por causa de uma crista Moicana que correu mal, segundo conta a revista Vanity Fair.
E fora da escola também dava que falar. Harry fumava erva com os amigos na cave de Highgrove, a casa do pai, onde durante a adolescência os dois irmãos tinham uma espécie de refúgio a que chamavam Club H, conta Tina Brown. E quando estavam por lá instalados frequentavam um pub do século XVI, Rattlebone Inn onde, em 2001, Harry terá andado à pancada com um empregado francês.
Em 2004 esmurrou um fotógrafo, em 2005 usou um disfarce de soldado nazi com uma suástica numa braçadeira numa festa de máscaras e em 2012 participou numa festa em Las Vegas e chegaram à imprensa imagens dele nu. Qualquer uma destas três histórias pôs o jovem príncipe em destaque na imprensa pelos piores motivos e gerou grandes embaraços à casa real. O príncipe Carlos decidiu aplicar ao filho o “choque curto e aguçado” de ver os efeitos das drogas numa clínica de reabilitação. Harry terá dado os seus dias de festa por terminados. “Foi um erro e aprendi a minha lição”, cita o The Times.
“Enquanto William se tornava cada vez mais um Windsor com o passar dos anos, o sangue Spencer amaldiçoava as veias de Harry. Ele parece ter incorporado isso”, analisou Tina Brown. E depois acrescenta que na cerimónia em memória de Diana, no 10º aniversário da sua morte (em 2007), enquanto William se sentou ao lado da Rainha e do príncipe Filipe, Harry escolheu sentar-se ao pé dos Spencer.
Herdeiro de Diana
Diana contou a Andrew Morton que as seis semanas antes de Harry nascer foram o tempo em que ela e o marido estiveram mais próximos. Mas depois do nascimento do filho o casamento acabou.
Durante uma fase da sua vida Harry teve de lidar com rumores que insinuavam que poderia não ser filho do príncipe Carlos. O característico cabelo ruivo foi um dos motivos que acentuou as suspeitas de que Harry poderia ser fruto do relacionamento de Diana com o amante, James Hewitt, cavaleiro e instrutor de equitação dos filhos. Segundo o próprio Hewitt, ele só conheceu Diana em 1986, quando Harry já tinha 20 meses, dá conta o Sunday Times. A relação durou até 1991. “Antes do primeiro período em Eton no outono de 1998, Carlos sentou-se com Harry e disse-lhe categoricamente que ele, não Hewitt, era seu pai. Harry ouviu com atenção e não disse nada. Isso não parou os rumores, nem as provocações em Eton”, conta Tina Brown no livro Palace Papers.
Harry adora a Natureza e o continente africano. A primeira experiência de deslumbramento terá acontecido quando acompanhou o pai numa viagem oficial, semanas depois da morte da mãe. Passou pela África do Sul, Suazilândia e Lesoto. Esteve no mato no Botswana a apreciar a vida selvagem e o país ter-lhe-á ficado no coração, porque regressou várias vezes, e foi lá que levou Meghan Markle quando a quis deslumbrar no terceiro encontro que tiveram. O príncipe interessa-se há muito pela conservação do património natural e da vida selvagem e, depois de deixar o exército em 2015, esteve três meses a trabalhar numa série de projetos deste género em países como a Namíbia, e Tanzânia, a África do Sul e o Botswana.
A luta contra a SIDA é uma das bandeiras da mãe que Harry continuou a carregar. Se há tema em que Diana foi revolucionária foi na forma como abordou pacientes com esta doença no final do século XX, abraçava-os sem medos e contribuiu muito para uma desmistificação do pânico que o desconhecimento da altura provocava.
Em 2003, no ano de intervalo depois de sair de Eton e ingressar na academia de Sandhurst, Harry passou algum tempo no Lesoto e desenvolveu uma forte relação de amizade com o príncipe Seeiso, vinte anos mais velho, mas ambos partilharam a experiência de terem perdido a mãe. Em 2006 abriu uma instituição de caridade naquele país, em parceria com o seu amigo e príncipe para crianças órfãs por causa da pandemia de SIDA, que afetou bastante o país. O nome escolhido foi Sentebale, palavra que Lesoto é usada para as pessoas se despedirem umas das outras e tem um significado semelhante a “não te esqueças de mim”.
Em julho de 2016 Harry deu que falar quando fez um teste ao VIH num hospital londrino em direto para o Facebook da família real, para chamar a atenção para a importância e facilidade do gesto. Em dezembro do mesmo ano o príncipe voltou a fazê-lo, mas desta vez durante uma visita a Barbados e ao lado de Rihanna, no Dia Mundial da SIDA.
A saúde mental é outro dos temas que mobiliza Harry. Em 2017 o príncipe em conjunto com o irmão e a cunhada, os duques de Cambridge na altura, lideraram a iniciativa Heads Together, uma parceria entre oito associações relacionadas com saúde mental, para alertar para a importância do tema.
Em novembro de 2017 a revista Vanity Fair espanhola dedicou a Harry o seu tema de capa e chamou ao artigo “Harry, de príncipe rebelde a rei de corações”. A forma como admitiu as suas dificuldades também contribuiu para a sua popularidade.
Nesse ano confessou numa entrevista ao Telegraph as dificuldades que teve em lidar com a morte da mãe. “A minha maneira de lidar com isso foi enterrar a cabeça na areia, recusar-me a pensar na minha mãe, porque é que isso ia ajudar?” Harry acabou por procurar ajuda para lidar com a perda e considera-se muito sortudo por ter passado por “apenas dois anos… de caos total”. Diz que não conseguia perceber o que se passava de errado com ele. “Posso dizer com segurança que perder a minha mãe aos 12 anos e depois desligar todas as minhas emoções durante os últimos 20 anos, teve um efeito sério não apenas na minha vida pessoal, mas também no meu trabalho”, disse o príncipe.
Harry d.M (a vida depois de conhecer Meghan)
Harry namorou com Chelsy Davy filha de Charles Davy, um importante empresário do Zimbabué e uma antiga Miss Rodésia 1973. Os negócios do pai com apoiantes do Presidente Mugabe, eventualmente levantaram problemas e o príncipe foi aconselhado a encontrar-se com a namorada em países vizinhos. Tinha um espírito selvagem e estava habituada a viver em liberdade. Chelsy estudou numa escola de raparigas em Inglaterra. Mas era em África que Harry gostava de estar com ela, longe do seu ambiente de Londres. Conheceram-se em 2004 e a paixão terá durado sete anos. Chelsy até esteve presente no casamento de William e Kate, mas o namoro, que estava sempre a acabar e a recomeçar, acabou por não vingar.
A outra namorada de Harry que deu que falar foi Cressida Bonas, uma inglesa de boas famílias e herança aristocrática que é atriz e modelo. Estiveram juntos entre 2012 e 2014, mas a jovem não aguentou a pressão da imprensa e a relação acabou. Tanto Chelsy como Cressida foram namoradas suficientemente importantes para se especular se viriam a ser noivas reais. Nenhuma chegou a ser pedida em casamento, mas ambas estiveram no casamento de Harry com Meghan Markle. O New York Times investigou e concluiu que o príncipe se mantém amigo das ex-namoradas.
Em 2016 Harry conheceu Meghan Markle e bastou o primeiro encontro para ambos perceberem que estavam diante do amor da sua vida. Tudo começou quando o príncipe viu a atriz norte-americana na rede social Instagram e uma amiga em comum pô-los em contacto. Ao terceiro encontro o príncipe elevou a fasquia e convidou Meghan para acampar no Botswana e depois disso nunca mais se largaram. Pelo menos assim conta o casal na série documental “Harry & Meghan”, da Netflix.
Harry e Meghan conheceram-se em julho de 2016, em outubro já sabia do namoro e, segundo conta a especialista em realeza da Vanity Fair, Katie Nicholl, em dezembro já Meghan estava instalada no Palácio de Kensington. Em pouco mais de um ano, no outono do ano seguinte, Harry pediu à Rainha a sua bênção para casar com Meghan e a soberana concedeu-a sem hesitar. “Foi-me dito por uma das pessoas mais próximas da Rainha pouco depois do anúncio do noivado que a monarca estava genuinamente encantada por Harry ter encontrado alguém que o faz tão feliz”, escreveu Nicholl na Vanity Fair.
A 19 de maio de 2018 o mundo estava de olhos postos no Castelo de Windsor. Harry e Meghan casaram-se numa cerimónia única que quebrou várias barreiras. A Rainha Isabel II deu aos noivos os títulos de duques de Sussex e o mundo apaixonou-se pelo novo casal sensação da realeza. Mas não foi aqui que começou o seu “e viveram felizes para sempre”. Os problemas com a imprensa e com o pessoal da casa real levaram a uma insatisfação crescente que se refletiu na saúde mental de Meghan e o casal decidiu afastar-se. Em janeiro de 2020 a bomba que abalou a casa real chegou pela conta de Instagram dos duques de Sussex e em março o casal deixava a família real e o Reino Unido em direção ao Canadá. Meses mais tarde fariam da Los Angeles natal de Meghan a sua nova casa. O primeiro filho do casal, Archie Mountabatte-Windsor, ainda nasceu no Reino Unido, a 6 de maio de 2019. A segunda filha, e Lilibet Mountabatte-Windsor, já é norte-americana e nasceu a 4 de junho de 2021.
O militar empreendedor
Juntar-se ao exército salvou Harry de “descarrilar”, analisa Tina Brown no livro “The Palace Papers”, além disso, “o exército era o único sítio onde a dinâmica entre Harry e William favorecia o irmão mais novo”, conclui a autora. O príncipe Harry estudou no prestigiado colégio de Eton entre 1998 e 2003, de onde saiu com as qualificações necessárias para cumprir o seu desejo de ir para o exército. E assim fez, depois de um ano de pausa. Entrou para a academia de Sandhurst em maio de 2005 e serviu as Forças Armadas britânicas durante 10 anos, durante os quais teve duas missões no Afeganistão.
A primeira missão, entre 2007 e 2008, de ser controlador aéreo, não chegou ao fim. Eram para ser quatro meses, mas ao fim de apenas 10 semanas, apesar do secretismo, a imprensa descobriu a localização do príncipe. Ele próprio ficou a saber pelo rádio quando estava ao serviço e rapidamente o seu superior lhe disse “Tenente Gales, faça a sua mala. Está fora”, cita Tina Brown em “Palace Papers”. Em menos de uma hora deixou a missão para seguir com apertadas medidas de segurança para a base da RAF (Royal Air Force) em Oxfordshire, no Reino Unido. Já meses antes o ministro da defesa britânica tinha anunciado que Harry seria destacado para uma missão no Iraque e pôs a imprensa em alerta e, com as tropas britânicas já com ameaças suficientes, a ida de Harry acabou por ser cancelada.
Em 2009 começou a treinar como piloto do corpo aéreo do exército e, depois de três anos de formação, em julho de 2013 o Ministério da Defesa divulgou que o príncipe, na altura com 28 anos, se tinha qualificado como comandante de helicópteros Apache. O comandante do príncipe disse que ele tinha passado “com distinção”, que na gíria britânica dá pela apropriada expressão “flying colours”. A segunda missão do príncipe foi entre o final de 2012 e início de 2013 já como piloto Apache. Em março de 2015 o Palácio de Kensington anunciou que o príncipe iria deixar as Forças Armadas com o posto de Capitão.
Depois de deixar de ser militar, continuou a fazer das Forças Armadas uma das suas bandeiras. Empenhou-se em campanhas que chamam a atenção para os desafios da transição da vida de serviço para a vida civil. Dedicou-se especialmente a chamar a atenção para o pessoal ferido em serviço e participou em muitas iniciativas relativas a este tema, incluindo ser voluntário na Unidade de Recuperação de Pessoal do Exército em Londres, e fez caminhadas com soldados e mulheres no Polo Sul e no Ártico.
Mas a iniciativa com mais impacto foi, sem dúvida, a criação dos Invictus Games que, mesmo depois do afastamento da família real, continuam a acontecer. Trata-se de um evento desportivo para soldados feridos, homens e mulheres, tanto veteranos como ainda em serviço. A primeira edição aconteceu em 2014 e teve lugar em Londres e reuniu mais 400 competidores de 13 nacionalidades, mas esta competição é internacional por isso em 2016 tiveram em Orlando (no estado norte-americano da Flórida), em 2017 em Toronto (Canadá) onde Harry e Meghan causaram grande sensação ao aparecerem juntos, em 2018 em Sydney (Austrália) e, por causa da pandemia, só voltou a haver competição em abril de 2022, em Haia (nos Países Baixos). Esta última edição foi especialmente seguida de perto pela imprensa porque marcou o regresso dos duques de Sussex à Europa desde o Megxit e o casal até aproveitou a viagem para fazer uma visita a Isabel II.
Estrela do entretenimento
A nova vida dos duques de Sussex na Califórnia implicou também uma nova dinâmica financeira e o casal assinou contratos lucrativos com gigantes como a Netflix e o Spotify. Harry tem dado a cara para produções sobre as causas que defende, bem como várias entrevistas. Em 2021 estreou na Netflix a série documental “The Me You Can’t See” produzida juntamente com Oprah Winfrey e dedicada à saúde mental. No passado mês de dezembro, na mesma plataforma, estreou outra série documental, “De que é feito um líder” (“Live to Lead”) que tem os duques de Sussex como produtores executivos e é co-produzida pela Nelson Mandela Foundation.
Simpático, sociável e natural, o príncipe Harry fazia muito sucesso nos compromisso reais em que participava. Na sua nova vida em L.A. o príncipe continuou a fazer uso dos seus dons. Harry foi um dos convidados da popular rúbrica “Carpool Karake” com o apresentador James Corden, no programa “Late Late Show”, e os dois andaram numa visita turística por Los Angeles num autocarro turístico. No entanto, a entrevista da nova vida do casal que mais deu que falar foi a que Harry e Meghan deram a Oprah Winfrey, em março de 2021. Duas horas de uma conversa em que o casal fez uma série de revelações sobre a vida na família real. Dos pensamentos suicidas de Meghan, à pergunta sobre a cor da pele de Archie.
Em dezembro foi a vez de estrear a série documental “Harry & Meghan”. Em seis episódios os duques de Sussex contam a história da vida que partilharam nos últimos seis anos, com a sua versão tanto dos momentos românticos, como das polémicas. Os primeiros três capítulos focam-se no conto de fadas de dois apaixonados com a partilha de muitas imagens pessoais nunca antes vistas pelo público, a crónica de um namoro transatlântico, o ataque dos paparazzi a uma noiva real e o choque do protocolo da realeza. Já os três capítulos seguintes passam em revista o tempo de recém-casados até à nova vida na Califórnia. A luta com a comunicação social britânica, as queixas de falta de apoio por parte da casa real e a sua versão do Megxit são pontos que reacenderam a polémica no Reino Unido e terão reaberto feridas ainda por sarar com a família real e a única resposta que esta deu a todo o alvoroço que a série documental causou foi a confirmar que Harry e Meghan serão convidados para a coroação de Carlos III, que acontecerá no dia 6 de maio.
A próxima novidade será o livro de memórias do príncipe Harry. A obra tem como título original Spare, em português chama-se Na sombra e tem lançamento mundial marcado para o dia 10 de janeiro. Apesar das apertadas medidas de segurança para manter o secretismo, o conteúdo do livro começou a dar que falar cinco dias antes de chegar às mãos dos leitores. Do jornalista do jornal The Guardian que teve acesso a uma cópia, a uma cadeia de livrarias espanhola que colocou o livro à venda por engano, são muitas as revelações do príncipe que vão fazendo títulos na imprensa. Dois dias antes do lançamento do seu livro, vão também para o ar duas entrevistas que o príncipe deu, uma à cadeia televisiva britânica ITV com Tom Bradby e outra ao jornalista norte-americano Anderson Cooper para o programa “60 Minutes”.
Harry lança as suas memórias aos 38 anos de idade. Estão prometidas várias revelações sobre a sua vida privada e os familiares mais próximos, não se sabe qual será a reação da casa real, nem tão pouco o futuro desta família separada por um oceano e muitas acusações, mas as memórias e vidas deste príncipe não ficarão, certamente, por aqui.