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Tanques israelitas na Faixa de Gaza, em agosto de 2014

AFP via Getty Images

Tanques israelitas na Faixa de Gaza, em agosto de 2014

AFP via Getty Images

Operação "Margem Protetora". Israel já invadiu a Faixa de Gaza em 2014 (e, nove anos depois, o método pode ser o mesmo)

Há nove anos, Israel e Hamas começaram uma guerra que durou 49 dias e que fez mais de duas mil mortes. Na altura, tropas israelitas bombardearam Faixa de Gaza e entraram em Gaza dez dias depois.

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Na madrugada de 18 de julho de 2014, forças israelitas e carros blindados entravam na Faixa de Gaza. Era o início da segunda fase da operação Margem Protetora. Dez dias antes, tinham começado os primeiros ataques de parte a parte, mas o governo chefiado pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, queria levar a cabo “operações precisas” — principalmente para destruir os túneis usados pelo Hamas para se infiltrar em solo israelita.

O conflito, que começou oficialmente a 8 de julho de 2014, apenas acabou a 26 de agosto daquele ano. Mesmo com alguns dias em que vigorou um cessar-fogo temporário, mais de dois mil palestinianos, muitos dos quais civis, e cerca de 60 israelitas acabaram por morrer. Em entrevista à rádio NPR, o correspondente do The Economist no Médio Oriente, Gregg Carlstrom, que esteve na Faixa de Gaza pouco após o fim do conflito, lembrou o cenário de destruição: “Estava a conduzir num bairro no leste de Gaza que tinha sido fortemente bombardeado pelo exército israelita. Quarteirão a quarteirão, havia casas destruídas. Vi alguns adolescentes que estavam a recolher os escombros em carrinhos de mão”.

Mais de nove anos depois, o modus operandi das tropas israelitas pode estar prestes a repetir-se: primeiro os ataques aéreos sobre a Faixa de Gaza e depois a entrada das forças armadas naquele território controlado pelo Hamas. Porém, as circunstâncias são agora diferentes: há reféns israelitas pelo meio e pouco conhecimento sobre as capacidades defensivas do grupo islâmico. E também a intenção: Telavive quer “destruir” militar e politicamente o Hamas, o que não acontecia em 2014.

"Estava a conduzir num bairro no leste de Gaza que tinha sido fortemente bombardeado pelo exército israelita. Quarteirão a quarteirão, havia casas destruídas. Vi alguns adolescentes que estavam a recolher os escombros em carrinhos de mão."
Correspondente do The Economist no Médio Oriente, Gregg Carlstrom

“Estou a ser raptado”. A guerra de 2014 que começou por causa de três adolescentes

O Hamas e Israel sempre se assumiram como antagonistas ideológicos e religiosos, mas o clima de tensão agravou-se desde 2005, ano em que Telavive abandonou a ocupação da Faixa de Gaza. No final de 2008, dava-se o primeiro conflito armado entre o grupo islâmico e as tropas israelitas e, seis anos depois, a situação voltou a escalar — e tudo começou com três adolescentes que estavam a pedir boleia, uma prática regular em Israel.

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No colonato judaico de Alon Shvut, na Cisjordânia, Eyal Yifrach, Gilad Shaer e Naftali Fraenkel estavam a pedir boleia no dia 12 de junho de 2014, por volta das 22h00. Dois homens, Amer Abu Aysha e Marwan Kawasme, aceitaram transportá-los. Os três estudantes, com idades entre os 16 e os 19 anos, cedo se aperceberam de que tinham sido raptados; um dos jovens chegou a ligar à polícia, sussurrando “estou a ser raptado”.

O assunto ganhou relevância em Israel, ecoando junto da sociedade civil, com as autoridades do país a levarem a cabo uma investigação bastante mediatizada. A 30 de junho de 2014, Benjamin Netanyahu falava à nação não só para revelar que os três jovens tinham sido “raptados e assassinados a sangue frio por bestas selvagens”, como também para fazer uma acusação: “O Hamas é responsável. O Hamas vai pagar”.

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Uma manifestação em Nova Iorque em homenagem ao desaparecimento de Eyal Yifrach, Gilad Shaer e Naftali Fraenkel

Getty Images

Nos dias anteriores, a situação já tinha escalado, com Israel a bombardear a Faixa de Gaza, ao mesmo tempo que realizava incursões nas regiões da Cisjordânia controladas pela Autoridade Palestiniana. Também houve resposta do lado do Hamas. A partir de 30 de junho, a tensão ainda aumentou mais; o grupo islâmico deixou bem claro que as “ameaças” que Benjamin Netanyahu tinha feito “não assustavam o Hamas”. “Se quer começar uma guerra em Gaza, então as portas do inferno abrir-se-ão.”

Nos dias seguintes, um adolescente palestiniano de 16 anos, Mohammad Abu Khdair, foi assassinado em Jerusalém Oriental, o que foi encarado pelo Hamas como um ato de retaliação de Israel. No dia 7 de julho, o grupo islâmico lançou vários rockets em direção ao território israelita. Nem 24 horas depois, as forças armadas de Telavive começavam a contraofensiva Margem Protetora, inicialmente apenas no domínio aéreo.

Em comparação, em 2023, a Operação Espadas de Ferro começou de forma bastante diferente. O Hamas surpreendeu as tropas israelitas no passado sábado, fazendo um ataque combinado a várias localidades no sul de Israel, o que causou centenas de vítimas mortais e ainda 120 raptados.

epa10697977 Israeli Prime Minister Benjamin Netanyahu chairs a cabinet meeting at the prime minister's office in Jerusalem, 18 June 2023.  EPA/Ohad Zwigenberg / POOL

Benjamin Netanyahu culpou Hamas pela morte dos três adolescentes: "O Hamas é responsável. O Hamas vai pagar".

Ohad Zwigenberg / POOL/EPA

A invasão terrestre em 2014. A entrada por Shuja’iyya e os combates urbanos intensos

Foi a 18 de julho de 2014 que as tropas israelitas entraram na Faixa de Gaza. “Durante as primeiras semanas, houve apenas um conflito aéreo entre as duas partes. Isso mudou a meio da guerra e Israel enviou um número limitado de tropas. O objetivo passava por procurar e destruir os túneis transfronteiriços que o Hamas tinham escavado para Israel”, detalhou o correspondente do The Economist no Médio Oriente, Gregg Carlstrom.

Contrariamente a 2023, em que o objetivo de uma possível operação terrestre parece ser declaradamente o fim do grupo islâmico, retirando-lhe o controlo político-militar da Faixa de Gaza, a invasão de 2014 gerava algumas preocupações em Benjamin Netanyahu. “O exército disse-lhe que ia haver semanas de combate urbano sangrento”, indicou Gregg Carlstrom.

Os primeiros combates começaram a 20 de julho, com a entrada do exército israelita em Shuja’iyya, um bairro na cidade de Gaza com cerca de 100 mil pessoas que, lembrou a Forbes, o Hamas usava como base militar. Após a destruição de um blindado M-113, o que causou sete baixas entre os israelitas, irromperam intensos combates naquela localidade.

Shuja'iyya a 20 de julho de 2014

OLIVER WEIKEN/EPA

Um comandante das forças armadas israelitas confessou, segundo a Al Jazeera, que os combatentes do Hamas “mostraram uma tenacidade inesperada” e foram mais “eficazes” do que originalmente as tropas de Israel pensavam. Os combates na região terminam a 23 de julho, com a superioridade militar israelita a mostrar-se essencial para controlar aquele bairro. Ao mesmo tempo, Israel continuava a entrar em outras cidades de Gaza e os ataques aéreos não paravam, estando em coordenação as ações da infantaria.

A 1 de agosto, após alguns combates localizados, os Estados Unidos e as Nações Unidos anunciam um cessar-fogo de 72 horas, mas o mesmo foi violado poucas horas depois. O Hamas acusava Israel de continuar as atividades ofensivas no sul de Gaza, ao passo que a morte do tenente Hadar Goldin em Rafah (perto da fronteira entre Gaza e o Egito) causou revolta entre as autoridades israelitas.

Um dia depois do cessar-fogo ter sido imposto, o primeiro-ministro israelita falava à nação, anunciando o fim da “operação anti-túnel”. Mas isso não significava a retirada completa de tropas: “As Forças Armadas vão agir e vão continuar a agir de acordo com as nossas necessidades de segurança e apenas de acordo com as nossa segurança de defesa”. O discurso aumentava, simultaneamente, de tom: “[O Hamas] terá de entender que vai pagar um preço intolerável”.

A cidade de Beit Lahia, no norte de Gaza, também ficou parcialmente destruída

AFP/Getty Images

Apesar das ameaças de Benjamin Netanyahu, Israel retirava, a 5 de agosto, grande parte das tropas de Gaza. Os combates no terreno diminuíam de intensidade, ainda que continuassem os ataques com rockets de parte a parte. Tendo em conta a pacificação parcial da situação, a comunidade internacional, principalmente o Egipto e os Estados Unidos, multiplicava-se em esforços para obter um cessar-fogo total entre as duas partes.

O cessar-fogo a 26 de agosto e o fim das hostilidades

A 26 de agosto de 2014, sete semanas depois de milhares de rockets terem sido disparados, Israel e o Hamas chegaram a acordo para um cessar-fogo ilimitado, anunciado pelo presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas. Cada um dos lados reclamou a vitória para si: o grupo islâmico alegou ter infligido uma derrota às tropas israelitas; Telavive disse que os objetivos da operação militar tinham sido cumpridos e assegurou que os cidadãos podiam sentir-se mais seguros.

Para além disso, o acordo de cessar-fogo flexibilizou a abertura das fronteiras entre Gaza e Israel, sendo que este último país se comprometia a deixar entrar ajuda humanitária e materiais de construção para a região. A zona de Gaza em que era permitido pescar também foi alargada.

A guerra em Gaza em 2014

AFP/Getty Images

Mesmo com o fim da guerra, as consequências em Gaza foram devastadoras. Morreram mais de duas mil pessoas, mas os dados sobre quem são as vítimas diferem. O Ministério da Saúde da Palestina apontou que 70% dos mortos eram civis, enquanto Israel disse apenas que eram 36%. As Nações Unidas falam, por sua vez, em 65%.

Segundo a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA, sigla em inglês), para além das vítimas mortais, 11.231 palestinianos ficaram com ferimentos e cerca de um terço das crianças feridas terão de lidar com problemas de saúde para o resto da vida. Adicionalmente, o número de deslocados internos chegou a meio milhão.

Grande parte de Gaza ficou destruída, com a ONU a estimar que cerca de 12.600 edifícios residenciais “foram completamente destruídos” e 6.500 ficaram “severamente danificados” quer devido aos ataques aéreos, quer devido à invasão terrestre. “Cerca de 150 mil habitações ficaram com danos e ficaram inabitáveis”, acrescentou a organização.

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Os destroços em Beit Hanun em 2014

NurPhoto via Getty Images

Em 2023, a magnitude de uma invasão terrestre de Gaza a Israel poderá ser ainda maior.

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