Incursões no sul de Israel, a declaração de guerra ao Hamas, ataques aéreos, um cerco a Gaza, uma ordem de evacuação e uma possível invasão. De forma resumida, estes foram os desenvolvimentos do conflito que opõe as tropas israelitas ao grupo islâmico, que já vai no oitavo dia.

À medida que os dias passam, teme-se uma possível escalada no conflito entre o Hamas e Israel. Uma invasão terrestre podia gerar uma verdadeira catástrofe humanitária na Faixa de Gaza, uma região do mundo com uma elevada densidade populacional, principalmente na capital, a cidade de Gaza.

Enquanto uma invasão terrestre em que Israel prometeu “erradicar” o Hamas não chega, as autoridades de Telavive apelaram a que população no norte se deslocasse para sul para minimizar os danos. No entanto, os ataques aéreos israelitas já destruíram centros residenciais e até campos de refugiados. Israel argumenta que o grupo islâmico usa civis como escudos, escondendo armas em lugares como escolas e mesquitas, enquanto o Hamas acusa as forças israelitas da morte de civis.

A deslocação na Faixa de Gaza também não é fácil, mesmo que Israel tenha prometido que não ia atacar as vias de deslocação. Há apenas duas estradas que ligam o norte ao sul e o Hamas tem aconselhado a população a ficar em casa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ao mesmo tempo que a situação em Gaza se torna cada vez mais complicada, pode haver a abertura de mais duas frentes nesta guerra. Uma na Cisjordânia, território controlado pela Autoridade Palestiniana, e também no Líbano, devido às ações do grupo pró-Irão, Hezbollah.

Pode ver os desenvolvimentos do conflito entre Israel e o Hamas durante os últimos dias nos mapas que o Observador preparou.

Os ataques a Gaza, incluindo a infraestruturas a civis

Os bombardeamentos a Isarel

Desde o passado sábado, em que Israel declarou guerra ao Hamas, as forças israelitas já bombardearam mais de seis mil vezes a Faixa de Gaza, principalmente a parte norte da região.

Israel alega que os bombardeamentos servem para destruir os centros logísticos e de operação do Hamas e para matar os “terroristas”. Não obstante, as imagens de satélite consultadas pelo jornal New York Times mostram uma realidade diferente com mesquitas, casas e até campos de refugiados atacados.

Enquanto Israel defende que o Hamas utiliza civis como escudos humanos e esconde armas perto da população civil, o grupo islâmico apresenta uma versão diferente — e acusa Telavive de matar civis. Segundo dados de organizações internacionais e das próprias instituições atacadas, desde o início da guerra, as tropas israelitas já bombardearam locais que não são, à primeira vista, alvos militares.

Os deslocados internos 

Os deslocados na guerra

Após cinco dias de um cerco, na sexta-feira, Israel ordenava que a população que vive no norte de Gaza se deslocasse para sul. Segundo as forças armadas israelitas, era mais a norte que o Hamas desenvolve “operações militares” em “túneis debaixo de casas e dentro de edifícios onde vivem civis de Gaza”. “Civis de Gaza, vão para o sul pela vossa própria segurança e a segurança das vossas famílias.”

Israel deixou bem claro que esta ordem de evacuação, que afeta — segundo as Nações Unidas — cerca de 1,1 milhões de pessoas, é antecedida por uma invasão terrestre à Faixa de Gaza. É expectável que as tropas israelitas entrem na região nos próximos dias.

Em sentido inverso, mesmo com estas ameaças de Israel, o Hamas apelou a que a população não saísse das suas casas e não fosse para o sul da Faixa de Gaza. Num discurso televisivo este sábado, um dos líderes do grupo islâmico, Ismail Haniyeh garantiu que a população estava “comprometida com as suas terras” e não ia “abandonar as suas terras”.

Mesmo assim, parte da população decidiu abandonar as suas casas, antes mesmo da ordem de evacuação de Israel. Até esta quinta-feira, cerca de 423.378 palestinianos na Faixa de Gaza já se deslocaram internamente para outras partes do território. Sem surpresa, é do Norte de Gaza que saíram mais pessoas: já são 112.367 que saíram daquele território.

Os números deverão disparar nos próximos dias, isto num momento em que se torna cada vez mais provável uma invasão terrestre israelita a Gaza.

A deslocação nas estradas de Gaza

As estradas que permitem a deslocação entre norte e sul de Gaza

Para sair do norte de Gaza, há, no entanto, alguns desafios. Há apenas duas estradas que ligam o norte ao sul do enclave: a estrada costeira (perto do Mar Mediterrâneo) e a Al Karameh.

Há ainda a estrada Salah Al Deen, que vem desde o extremo norte de Gaza, sendo necessário, para chegar a sul, mudar para a Al Karameh a meio do percurso.

Israel garantiu a segurança das estradas, mas a Faixa de Gaza está sob um cerco que impede que combustível entre na região, complicando a vida à população. Além disso, há relatos de que o Hamas — que se opõe à ordem de evacuação — colocou entraves no trânsito.

A densidade populacional da Faixa de Gaza

A densidade populacional em Gaza

A Faixa de Gaza é uma das zonas do mundo com maior densidade populacional: é de cerca de 6.500 habitantes por quilómetro quadrado — e supera inclusivamente cidades como Londres, Lisboa ou Berlim. Vivem, num território de 365 quilómetros quadrados, mais de dois milhões de pessoas.

A distribuição de população não é homogénea em todo o enclave. A região de Gaza, que acolhe a cidade de Gaza, é a que tem uma maior densidade populacional, superando, em certas regiões, as nove mil pessoas por metro quadrado. Segue-se Deir al Balah, o Norte de Gaza, Khan Younis e Rafah — estas duas regiões no sul.

No centro da cidade de Gaza, a densidade populacional chega mesmo a 13 mil pessoas por quilómetro quadrado.

Os ataques na Cisjordânia

Os ataques na Cisjordânia

O conflito entre o Hamas e Israel está centrado na Faixa de Gaza, um território controlado militar e politicamente pelo grupo islâmico, e na possível invasão das tropas israelitas àquele território.

Sem embargo, continua a haver confrontos entre as forças israelitas na Cisjordânia, apesar de ser controlada pela Autoridade Palestiniana e não pelo Hamas. As tensões têm vindo a diminuir ao longo dos dias, nota o think tank norte-americano Instituto para o Estudo da Guerra, ainda que realce que o grupo islâmico quer expandir a guerra para aquela região. Seria a abertura de uma nova frente numa zona, que também possui colonatos judaicos.

Segundo o Ministério da Saúde da Palestina, pelo menos 54 pessoas morreram desde sábado na Cisjordânia, enquanto 1.110 ficaram feridos.

Os ataques no norte de Israel, vindos do Líbano

Os ataques vindos do Líbano

A norte de Israel, também tem havido tensões, principalmente junto da fronteira com o Líbano. E devem-se, em parte, às ações do grupo libanês pró-Irão Hezbollah. Apoiante do Hamas, a organização paramilitar, que controla o sul do Líbano, está a tentar desestabilizar as tropas israelitas com o lançamento de rockets para norte do território israelita.

Já houve inclusivamente incursões de parte a parte e já se contaram algumas dezenas de mortos. Existe, a par das baixas, uma pergunta no ar: será que o Hezbollah vai entrar na guerra?

O Hezbollah tem deixado várias ameaças no ar de que poderá entrar (oficialmente) no conflito, o que abriria uma nova frente a norte. Israel, por seu turno, diz que não está “interessada” nesse cenário, mas garantiu que, se o grupo pró-Irão entrar na guerra, pagará um “preço elevado”.