A pouco mais de duas semanas das diretas do PSD houve uma verdadeira corrida ao multibanco. Na última semana em que era possível — entre 4 e 10 de maio — 8.669 militantes sociais-democratas pagaram as quotas no partido, o que representa um quinto do universo eleitoral nas diretas de 28 de maio.
A maioria dos movimentos aconteceram no G4 das distritais (Porto, Braga, Lisboa e Aveiro), onde nos mesmos sete dias foram pagas as quotas a 5.308 militantes (73% do total de pagamentos de última hora). É nestes locais que estão as maiores concelhias, onde tudo se decide. O crescimento de votantes mostra o empenho em concelhias afetas a ambos os candidatos, mas o favoritismo não muda: Luís Montenegro vai na frente. E não é por pouco.
A surpresa que deu a vitória a Rui Rio contra o favoritismo de Paulo Rangel nas últimas diretas continua a alimentar a esperança de Jorge Moreira da Silva. Mas Luís Montenegro não só tem já mais apoio nas estruturas do que tinha o eurodeputado, como Moreira da Silva tem muito menos apoios (mesmo nas estruturas) do que aqueles que colecionava o líder em funções — que a seu favor ainda tinha a ideia de que poderia derrubar António Costa nas legislativas que então se aproximavam.
A distrital que mais cresceu foi Braga, onde Moreira da Silva acredita que pode fazer uma surpresa, jogando com o fator casa: é de Famalicão e do distrito de Braga. Mas se foi nessa distrital que houve mais quotas pagas de última hora nas últimas semanas, também foi aí que a tendência, que há duas semanas se podia dizer indefinida, está a cair para Luís Montenegro. Isto apesar de os apoiantes de Moreira da Silva terem dado sinais de mobilização.
Contagem de espingardas. Montenegro favorito, Moreira da Silva com fé na herança de Rio
Braga: militantes em condições de votar crescem 46%
As três maiores concelhias do distrito (Barcelos, Famalicão e Vila Verde) cresceram nos cadernos cerca de 500 militantes cada uma na última semana de regularização de quotas. Isto mostra que os acertos não alteraram a correlação de forças. É importante, até na percentagem geral, que Carlos Eduardo Reis, o diretor de campanha de Moreira da Silva, esteja a conseguir afirmar a concelhia de Barcelos como a maior do distrito em votantes, mas isso não chega.
Barcelos terá 1810 militantes em condições de votar (mais 461 do que a 4 de maio) e a concelhia deverá ser facilmente vencida por Jorge Moreira da Silva. Carlos Eduardo Reis não deverá dar hipótese, naquela que será uma importante vitória para impulsionar a votação do antigo líder da JSD.
Por outro lado, Vila Nova de Famalicão, que cairá naturalmente para Luís Montenegro — apesar de Moreira da Silva ser natural da cidade — cresceu em 480 militantes (para 1410). É impossível ignorar que Montenegro tem ao seu lado Paulo Cunha, o antigo presidente de Câmara e líder da distrital, que sempre que se envolveu numa eleição, conseguiu que o seu candidato vencesse a concelhia.
Montenegro sai ainda mais reforçado destes acertos das últimas semanas a partir do momento em que em Vila Verde há o maior pagamento de quotas de última hora do país: são mais 583 militantes, num total de 1015. José Manuel Fernandes, chefe da delegação dos eurodeputados do PSD e homem forte de Vila Verde (onde foi autarca muitos anos e onde a sua mulher é presidente de câmara), declarou o seu apoio de forma inequívoca ao espinhense a 10 de maio. É uma demonstração de força. De José Manuel Fernandes e, por arrasto, de Montenegro.
Braga (mais 141 votantes) e Guimarães (mais 127 votantes) também cresceram, mas não têm tanto impacto nas contas finais do distrito. O antigo líder parlamentar Hugo Soares ajudará Montenegro em Braga (Rui Morais está com Moreira da Silva, mas não deverá ser suficiente para vencer a concelhia) e o ainda vice-presidente do PSD, André Coelho Lima, deverá estar do lado de Moreira da Silva, o que deverá ser suficiente para vencer Guimarães (apesar de Emídio Guerreiro estar com Montenegro).
Facto: com o novo pagamento de quotas, em sete dias Braga voltou a superar Lisboa como segunda maior distrital. Tendência: Montenegro é agora de forma clara o favorito.
Porto: Montenegro hegemónico na maior distrital
O Porto cresce menos do que Braga com os pagamentos de última hora, mas mantém-se como a maior distrital com 7650 votantes em condições de votar. O crescimento de 23% à partida favorece quem melhor está no distrito: Luís Montenegro, que consegue juntar apoiantes que estiveram com Rio e com Rangel nas últimas diretas.
Luís Montenegro tem o líder distrital, Alberto Machado, que apoiou Rangel, mas também tem Paulo Rios Oliveira, o mandatário distrital de Rio. É o melhor de dois mundos. Isso é replicado para Gaia, que volta a entrar no rol de seis concelhias acima dos mil militantes (são 1097 contando com os pagamentos de última hora), onde Luís Montenegro tem do seu lado líderes de duas importantes fações locais: António Cancela Moura, que tinha apoiado Rangel, e Firmino Pereira, que apoiou Rio em novembro.
Montenegro segue ainda na frente em Gondomar, Trofa, Lousada, Penafiel e Valongo. Na Maia, a tendência também é agora favorável a Luís Montenegro. A confiança é tanta que, como o Observador escreveu no início de maio, a candidatura conta ter cerca de 80% dos votos neste distrito.
Aveiro. Moreira da Silva ainda na luta à boleia de Malheiro
Jorge Moreira da Silva não terá facilidades em distrito nenhum, mas continua a disputar Aveiro. A maior concelhia continua a ser Santa Maria da Feira, que aumenta ainda em 184 votantes (para um total de 914). Se é certo que o líder distrital e autarca local, Emídio Sousa, apoia Montenegro sem tibiezas, também está confirmado que Jorge Moreira da Silva terá António Topa Gomes como mandatário distrital. O peso da família Topa fez com que Rangel perdesse na concelhia, apesar de também ter, na altura, o apoio do presidente da câmara de Santa Maria da Feira.
A concelhia de Aveiro, que também cresce — embora menos — é igualmente importante para as contas do distrito. Por outro lado, a tradição é a concelhia partir ao meio. De um lado, as tropas de Vítor Martins, o ex-presidente da concelhia (que esteve com Rangel e venceu à tangente Rio na concelhia); do outro o presidente da autarquia, Ribau Esteves. Se tudo seguir a forma natural das coisas, a primeira fação estará com Montenegro e a segunda com Moreira da Silva, esperando-se uma divisão de votos na concelhia.
E se Montenegro deverá ganhar com facilidade na sua terra, Espinho — onde não deixa de ter alguns anticorpos — a concelhia de Ovar é atualmente muito mais relevante para as contas do distrito. Salvador Malheiro, que está na sombra a ajudar o amigo Jorge Moreira da Silva, tem 523 pessoas em condições de votar na concelhia que controla.
Salvador Malheiro é o maior ativo de Moreira da Silva no distrito e só ele pode evitar que Luís Montenegro vença Aveiro. É um distrito ainda em aberto.
Lisboa: Montenegrista, com mais mil votantes, mas atrás de Braga
Lisboa continua a ser uma importante distrital, mas o pagamento de última hora atirou-a para o terceiro lugar, mantendo-se atrás do Porto e sendo ultrapassada por Braga. Nos últimos sete dias de pagamento de quotas, aumentaram em mais de mil os militantes em condições de votar, num crescimento de 22%.
Dentro da distrital, a concelhia de Lisboa manteve-se como a maior do país (com 2167) e ainda tem mais 336 votantes. Se nas últimas diretas em que participou, o espinhense descurou Lisboa, agora Luís Montenegro conta com o apoio das mais influentes tendências, tendo ao seu lado várias fações e caciques locais. Com o ex-líder parlamentar estão figuras como o líder do PSD/Lisboa e presidente da junta de freguesia da Estrela, Luís Newton, ou a família Gonçalves.
Moreira da Silva não tem grandes armas para contrariar a força de Montenegro na capital, nem em outras concelhias do distrito. Cascais mantém-se como segunda maior concelhia do distrito e soma mais 193 votantes, num total de 878 em condições de votar. Mesmo que a dupla Carreiras-Pinto Luz, a mais influente no concelho e na concelhia, não morra de amores por Luís Montenegro, as suas tropas estão a trabalhar para o candidato que mais rompe com Rui Rio.
Em Sintra, a terceira maior concelhia, como o Observador já tinha avançado, Luís Montenegro conta com a presidente do PSD/Sintra, Ana Sofia Bettencourt, restando a Moreira da Silva a outra ala — mais próxima do antigo candidato à autarquia Marco Almeida.
A mandatária escolhida por Jorge Moreira da Silva em Lisboa, a bastonária da Ordem dos Advogados, Ana Rita Cavaco, mostra como o antigo líder da JSD escolhe figuras mais mediáticas e com menos peso no aparelho.
São figuras que, como os históricos do partido Francisco Pinto Balsemão ou Manuela Ferreira Leite, valem, em termos práticos, o seu próprio voto. E, claro, o peso mediático que têm — embora isso costume valer pouco em eleições diretas. O aparelho é, por norma, mais forte que os barões assinalados.
O resto do país não é paisagem, mas conta menos
A Madeira continua a ser a distrital (neste caso, a região) que mais conta fora das big four. São 2266 militantes, que devem cair de forma esmagadora para Luís Montenegro. O espinhense tem não só como mandatário o presidente do PSD/Madeira, Miguel Albuquerque, como conta ainda com o histórico Alberto João Jardim. Com esta conjugação de fações, é muito difícil a Moreira da Silva vingar na Madeira.
Nos Açores, que têm menos peso eleitoral que alguns concelhias do continente, Montenegro também conseguiu ter o apoio do presidente do Governo regional, José Manuel Bolieiro. O facto de Moreira da Silva dizer que não teria aceitado o acordo com o Chega nos Açores, fez com que perdesse qualquer hipótese de ter o apoio da estrutura do PSD/A.
Em Viseu, Leiria, Santarém, Coimbra, Guarda, Viana do Castelo e Setúbal Luís Montenegro continua a ser o favorito e as oscilações do número de votantes não são tão significativas como acontece nas maiores distritais.
A doze dias das diretas, Luís Montenegro é ainda mais favorito. Os apoiantes de Moreira da Silva até estão a “trabalhar” bem (não falharam na mobilização das estruturas nas concelhias em que é favorito), mas isso não será suficiente para anular os múltiplos apoios que o espinhense continua a acumular.
O antigo líder da JSD, continua, no entanto, a acreditar que as estruturas não terão tanta influência nas contas finais. Na recente entrevista que deu Observador falou mesmo com algum desprezo pela contagem de espingardas e contas que se fazem aos apoios:
“Se as pessoas continuarem a fazer contas, como tenho visto, partindo do pressuposto que há donos de votos, vão-se enganar. Podem continuar a fazer as análises que quiserem, partindo do pressuposto que, no PSD, a circunstância de um dirigente apoiar leva atrás não sei quantas pessoas só porque vivem no mesmo distrito ou no mesmo concelho”. Terá razão?