Por estes dias, a frase mais repetida no PSD, mais palavra menos palavra, é: “Não se esqueçam do que aconteceu com Paulo Rangel”. Tem uma razão de ser. Numa altura em que os vários líderes distritais e concelhios vão assumindo o sentido de voto nas próximas eleições do PSD, torna-se ainda mais evidente o favoritismo teórico de Luís Montenegro. Ainda assim, há quem não esqueça a vitória surpreendente de Rui Rio e vá pondo algumas fichas em Jorge Moreira da Silva.

Não é exatamente um salto de fé. Apesar de se esforçar por vender a narrativa do homem livre das lógicas do aparelho, por oposição a Luís Montenegro, o antigo ministro do Ambiente tem argumentos de peso. Desde logo, os três homens que ajudaram a garantir a vitória de Rui Rio nas últimas diretas: Carlos Eduardo Reis, Salvador Malheiro e João Montenegro.

Os três — com perfis muito diferentes — conseguiram contrariar o teórico favoritismo de Rangel nas últimas diretas. Carlos Eduardo Reis, agora no papel de diretor de campanha, é uma figura em ascensão no aparelho social-democrata e tem forte influência no distrito de Braga. Malheiro dispensa apresentações, tendo sido um dos mais próximos colaboradores de Rui Rio nestes anos de liderança.

Ouça aqui o episódio de “A História do Dia” sobre as eleições no PSD.

Montenegro ou Moreira da Silva, quem vai ganhar a liderança do PSD?

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João Montenegro, mais discreto, até começou no outro lado da barricada: homem do terreno do PSD de Passos Coelho, foi depois diretor de campanha de Pedro Santana Lopes nas diretas de 2018; depois, foi-se aproximando de Rui Rio até se tornar secretário-geral adjunto do partido. Nas últimas diretas, foi determinante na pesca à linha que deu a vitória ao ainda líder do PSD.

Se Moreira da Silva joga com a força da técnica, Montenegro responde com a técnica da força: a cerca de um mês das eleições que vão ditar o sucessor de Rio, o antigo líder parlamentar conta com o apoio dos líderes das quatro grandes estruturas do partido – Porto, Braga, Lisboa e Aveiro –, que, juntas, concentram quase 19 mil eleitores, mais de metade dos militantes em condições de votar à data de hoje. No entanto, ter os líderes, como se provou a 27 de novembro, nem sempre é ter as distritais.

Mais uma nota prévia: o partido está mais desmobilizado — até porque não há legislativas à porta como aconteceu nas diretas de novembro — e a comprová-lo está o número de quotas pagas quando faltam menos de trinta dias para as eleições: são apenas 35.975 (cerca de 42%) de um total de 85.628 militantes ativos. Quando há menos gente a votar, há menos ‘voto livre’ e as estruturas acabam por contar mais. Mais uma vantagem para Luís Montenegro.

O favoritismo do antigo líder parlamentar do PSD reflete-se ainda nos aparelhistas que já tem do seu lado: dos 19 líderes distritais (o distrito de Lisboa está dividido em duas distritais), há onze (Aveiro, Lisboa AM, Lisboa AO, Braga, Viana do Castelo, Guarda, Viseu, Setúbal, Porto, Leiria, Coimbra) que já manifestaram o apoio (com o apoio da estrutura ou a título pessoal) a Luís Montenegro. É uma demonstração de força.

O G4 visto à lupa

Porto. Tendência: Montenegro

No Porto, a grande expectativa era perceber o que faria Alberto Machado, líder da distrital do PSD/Porto. Outrora apoiante de Rui Rio, o presidente da junta de Paranhos abriu uma exceção nas últimas diretas e apoiou publicamente Paulo Rangel – tal como a esmagadora maioria dos líderes concelhios e autarcas do distrito. O resultado não foi brilhante: Rio ganhou por quase 10 pontos percentuais de diferença e com mais de 1.200 votos de diferença num distrito em que Rangel contava ganhar por larga vantagem.

Desta vez, Montenegro está nos sapatos outrora calçados por Rangel: Alberto Machado e as estruturas mais importantes do distrito – Gondomar, Trofa (onde conta com o autarca Sérgio Humberto), Lousada e Penafiel – vão apoiar o antigo líder parlamentar. Na cabeça dos apoiantes de Montenegro, a percentagem rondará a casa dos 80%.

Com um dado curioso: até dois velhos rivais de Gaia, ricos em votos – António Cancela Moura e Firmino Pereira –,  fizeram questão de aparecer ao lado de Montenegro. Rangel tinha Cancela Moura, mas não tinha Firmino Pereira. Jackpot para Luís Montenegro.

O antigo líder parlamentar conta ainda com dois trunfos a nível da maior concelhia do distrito: conseguiu convencer os apoiantes quer de Miguel Pinto Luz (como Hugo Neto ou Miguel Côrte-Real, da própria concelhia do PSD/Porto) e de Rui Rio (como é o caso de Paulo Rios Oliveira, que foi o mandatário de Rio no distrito nas diretas) que assim aumentam as chances de vitória por números redondos. A isto, Montenegro junta ainda outros nomes como Miguel Santos, importante para outra concelhia do distrito, em tempos dominada por Marco António Costa: Valongo.

No caso da Maia, o presidente da autarquia, António Silva Tiago, normalmente alinha com Montenegro, mas Paulo Ramalho, vereador no executivo e com influência na estrutura, pode vir a ser útil se alinhar com Jorge Moreira da Silva. Estas movimentações, muitas ainda em fase de definição, podem ser preponderantes para o resultado final.

Existe, ainda assim, um lado impossível de medir: no passado, o rioísmo já infligiu traumáticas derrotas a candidatos teoricamente favoritos; ora, se os militantes mais anónimos voltarem a chumbar Montenegro, isso pode dar uma hipótese a Moreira da Silva de discutir aquela distrital, que pode valer, ao dia de hoje, mais de 6 mil votos, a maior do partido. Em novembro, terá havido uma grande mobilização de militantes mais antigos, com mais de 65 anos, que terão ajudado Rio a consumar a vitória com 1.201 votos de diferença.

Lisboa. Tendência: Luís Montenegro

Lisboa foi uma das pedras no sapato das primeiras diretas de Luís Montenegro, que perdeu o distrito, tendencialmente viveiro anti-Rio, para Miguel Pinto Luz na primeira volta. Na segunda volta, o espinhense venceu o distrito, mas teve quase menos 400 votos do que a soma da votação que ele próprio e Pinto Luz haviam tido na primeira volta. Isso é a prova de que Luís Montenegro tinha anti-corpos no distrito, onde Rio ainda conseguiu, nessa altura, mais de 1.300 votos.

Agora, Luís Montenegro já meteu a carne, ou melhor, o peixe todo no assador. No dia 26 de abril, num jantar não anunciado à comunicação social, Luís Montenegro juntou no restaurante D’Bacalhau, no Parque das Nações, em Lisboa, não só o líder distrital, Ângelo Pereira, como também os presidentes das dez concelhias do distrito. “É a primeira vez que alguém junta os dez numa eleição a dois”, diz fonte presente no jantar.

Luís Montenegro conta com o apoio das mais influentes tendências na própria concelhia de Lisboa, a maior do país (1.831 militantes em condição de votar a 28 de maio), tendo ao seu lado várias fações e caciques locais. Com o ex-líder parlamentar estão o líder do PSD/Lisboa e presidente da junta de freguesia da Estrela, Luís Newton, e também a família Gonçalves (Rodrigo e o pai, Daniel, presidente da junta das Avenidas Novas) que continuam a representar importantes sindicatos de votos na capital.

Montenegro conta ainda com Jorge Barata, ex-vogal da concelhia, da órbita da família Gonçalves e que viu-se envolvido na polémica dos perfis falsos que levaram à saída de Rodrigo Gonçalves da sede do PSD, onde trabalhava na fase inicial do primeiro mandato de Rui Rio.

Jorge Barata, Rodrigo Gonçalves, Luís Montenegro, Luís Newton e Daniel Gonçalves, numa ação de campanha do candidato à liderança do PSD. Fotografia do Instagram de Jorge Barata

Em Lisboa, resta a Jorge Moreira da Silva arregimentar quem costuma estar do lado oposto ao de Luís Newton, como o antigo líder concelhio Paulo Ribeiro, que foi um dos homens fortes da campanha de Rangel e que é amigo de Carlos Moedas (o posicionamento do autarca — e de muitos dos que colaboraram de perto com ele — é um dos pontos de interesse a seguir nas próximas semanas).

Cascais é neste momento a segunda maior concelhia do distrito (685 militantes em condições de votar), num concelho onde domina a dupla Carreiras-Pinto Luz. O antigo candidato à liderança do PSD e vice-presidente da câmara de Cascais, Miguel Pinto Luz, disse recentemente em entrevista ao Observador que ainda não tinha decidido em qual dos dois candidatos ia votar. Mas o Observador sabe que a maior parte dos antigos apoiantes de Pinto Luz na concelhia estão com Luís Montenegro.

Em Sintra, Luís Montenegro conta com a presidente da concelhia, Ana Sofia Bettencourt, que nas eleições para a concelhia foi eleita com a maioria dos votos (312), mas enfrentou uma oposição sólida (221 votos) da outra fação, mais próxima do antigo candidato à autarquia Marco Almeida.

Existe ainda o caso de Oeiras: Jorge Moreira da Silva tem boas relações com muita gente que orbita em torno de Isaltino Morais e escolheu aquele território para instalar a sede de campanha da sua candidatura. É a estas fações concorrentes que Jorge Moreira da Silva pode ir à “pesca”. Tarefa difícil já que, só no D’Bacalhau, Montenegro juntou os tais dez presidentes concelhios.

Braga. Tendência: Indefinida

É um dos palcos onde se vai decidir esta eleição e onde a indefinição é maior. Luís Montenegro conta com o apoio de Paulo Cunha, líder da distrital e figura de peso em Famalicão, e tudo indica que terá a bênção do eurodeputado, chefe da delegação do PSD em Bruxelas e homem forte de Vila Verde, José Manuel Fernandes. E ainda da dupla Hugo Soares e João Granja, ambos de Braga. Ricardo Rio, presidente de Braga, deve manter-se neutral, depois de ter apoiado Paulo Rangel nas últimas diretas.

Jorge Moreira da Silva, natural de Famalicão, tentará neutralizar o efeito Paulo Cunha na sua cidade natal. Mas o apoio mais importante chega de Barcelos, a maior estrutura do distrito: Carlos Eduardo Reis, um dos homens mais poderosos do aparelho social-democrata, será diretor de campanha.

Nas últimas autárquicas, impôs a candidatura de Mário Constantino à Câmara de Barcelos contra a vontade das próprias estruturas (incluindo a de Paulo Cunha) e venceu a aposta, o que redobrou o seu peso político. Nas eleições internas, ajudou Rui Rio a conquistar Barcelos — uma das estruturas mais expressivas do partido — por mais de 300 votos.

Além de Carlos Eduardo Reis, é muito provável que se juntem Rui Morais (mandatário concelhio de Rio em Braga) e André Coelho Lima, ainda vice-presidente de Rio e homem forte do partido em Guimarães.

Se conseguir partir o distrito – ou até ganhá-lo –, Jorge Moreira da Silva pode anular algumas perdas em territórios onde não será tão forte. Montenegro está, no entanto, mais forte do que Rangel, desde logo porque tem Paulo Cunha ao seu lado (o não-alinhamento do antigo autarca de Famalicão ajudou Rio a vencer o eurodeputado no distrito de Braga).

Aveiro. Tendência: Indefinida

Tal como Braga, Aveiro é a outra incógnita desta eleição. Os dois candidatos têm argumentos de peso: Montenegro conta com o apoio de Emídio Sousa, novo líder da distrital e autarca de Santa Maria da Feira; Jorge Moreira da Silva conta com Salvador Malheiro, vice de Rio, uma das figuras determinantes nas três eleições internas conquistadas pelo ainda líder do PSD e antecessor de Emídio Sousa na distrital de Aveiro.

O apoio de Emídio Sousa, embora Santa Maria da Feira fosse nos cadernos eleitorais a maior concelhia de Aveiro, não foi suficiente para Luís Montenegro (em 2020), nem para Rangel (em 2021) vencerem o distrito. Salvador Malheiro foi o verdadeiro vice-rei de Aveiro e fez contra-fogo com eficácia e distinção.

A grande dúvida é perceber que influência ainda mantém Salvador Malheiro depois de ter passado o testemunho e sabendo que não prosseguirá como homem do aparelho do próximo líder. Nas últimas diretas, muitos apostaram na alegada perda de influência de Malheiro e nas disputas internas naquelas estruturas para antecipar uma disputa taco a taco. Aconteceu tudo ao contrário: em Aveiro, Rui Rio ganhou por quase 1.000 votos de diferença e Malheiro fez uma prova de força inequívoca.

Malheiro, que entrou na montra do PSD pela mão de Jorge Moreira da Silva, não está sozinho. A trabalhar para o antigo ministro do Ambiente estarão ainda Ribau Esteves (que nunca morreu de amores por Montenegro) e António Topa Gomes, deputado e cabeça de lista por Aveiro, que vão tentar evitar a vitória de Montenegro.

António Topa Gomes herdou parte da máquina do tio, António Topa, figura querida dos militantes do PSD e influente no distrito, que morreu a meio do processo das últimas diretas. A família Topa é importante para fazer o tal contra-fogo a Emídio Sousa em Santa Maria da Feira.

Já Montenegro tem a particularidade de jogar em casa – é natural de Espinho – e de ter a bênção de toda a distrital do PSD/Aveiro, que aprovou por unanimidade o apoio à candidatura de Luís Montenegro à sucessão de Rui Rio. Na concelhia de Aveiro , resta saber para que lado cai Vítor Martins (que esteve com Rangel e venceu à tangente a ala de Ribau) na concelhia aveirense. Em Vagos, o mais natural é que os militantes se mobilizem em torno de Montenegro, tendo como grande impulsionador local o montenegrista Silvério Regalado.

Por outro lado, Ovar tornou-se uma importante concelhia para as contas do distrito e até para as contas globais a nível nacional. Qualquer candidato que seja apoiado pela estrutura da cidade de Malheiro sabe que leva logo 400 votos de avanço. Com o número de militantes em condições de votar atualmente — substancialmente inferior a novembro —, ainda mais relevante se torna: há 470 militantes que podem participar nas diretas a 28 de maio só em Ovar, contra, por exemplo, os 292 em Espinho, a terra do ex-líder parlamentar.

Luís Montenegro tentou fazer uma jogada que passou por arregimentar como apoiante a deputada indicada por Ovar e amiga de Salvador Malheiro, Carla Madureira. Salvador e Carla são amigos de longa data e ambos de Esmoriz. Aliás, a agora deputada ocupou cargos nas coletividades da zona piscatória que são relevantes para a estratégia de Salvador Malheiro.

Carla Madureira não terá consultado o amigo, o que terá deixado o vice-presidente de Rui Rio irritado. Ainda assim, só há uma pessoa capaz de mobilizar em massa a concelhia de Ovar em torno de um candidato, e essa pessoa chama-se Salvador Malheiro.

As contas feitas e as contas por fazer fora dos ‘big four’

A Madeira e os seus quase 2 mil militantes em condições de votar nesta altura fazem da região a maior das mais pequenas distritais. Se for contabilizado o PSD/M como distrital, a Madeira é a quinta maior. Pedro Calado, autarca de Funchal, que encabeçou a lista de Montenegro ao Conselho Nacional do PSD, é mandatário de Montenegro. Calado é um homem forte de Albuquerque, presidente da  Câmara do Funchal e um dos candidatos para liderar o PSD/Madeira no pós-Albuquerque.

A grande surpresa foi mesmo o apoio de Alberto João Jardim a Luís Montenegro — figura que o madeirense nunca deixou de criticar e até desconsiderar com enorme ferocidade. A inclusão do ex-presidente do Governo Regional da Madeira nestas contas pode tornar a tarefa de Jorge Moreira da Silva muito difícil.

No caso dos Açores, a equipa de Jorge Moreira da Silva espera convencer a região como Rui Rio fez nas últimas diretas, podendo contar com o apoio de Victor Cruz e sonhava com o apoio (que seria sempre informal e não declarado) do presidente do PSD/Açores e do Governo Regional, José Manuel Bolieiro. Rio teve ali cerca de 78% dos votos (485) — algo que não veio a acontecer.

Em Leiria, Luís Montenegro conta já com o apoio de Hugo Oliveira, que foi eleito presidente da distrital há poucos meses. E ainda tem  Margarida Balseiro Lopes, que já foi presidente da JSD e é uma das figuras do distrito. Ainda no mesmo distrito, conta com o apoio do presidente da câmara de Pombal, Pedro Pimpão. O antigo líder parlamentar leva, por isso, vantagem.

Em Viseu, Luís Montenegro conta com o líder distrital, Pedro Alves, que sempre fez parte do núcleo duro do antigo líder parlamentar, e ainda com o antigo secretário de Estado António Leitão Amaro. Ambos apoiaram Paulo Rangel, mas foi Rui Rio quem acabou por vencer no distrito. E mesmo Montenegro, na segunda volta em 2020, venceu por apenas quatro votos.

No antigo Cavaquistão, Jorge Moreira da Silva pode vir a beneficiar do apoio do cabeça de lista pelo distrito, Hugo Carvalho, figura em ascensão no distrito e no partido. Em Lamego e Moimenta da Beira, por exemplo, Moreira da Silva pode dar um ar da sua graça.

Quanto a Santarém, o líder distrital João Moura está com Luís Montenegro, contando ainda com apoios como o do ex-líder distrital e vice-presidente da câmara de Santarém, Nuno Serra. Além disso, tem Miguel Relvas — que já não tem o peso de outros tempos, mas ainda consegue influenciar o jogo com meia-dúzia de chamadas.

Já Jorge Moreira da Silva pode sempre, no entanto, tentar conquistar a outra parte do distrito e ir buscar votos a secções recentemente insufladas, como é o caso de Rio Maior, da vice-presidente de Rui Rio, Isaura Morais.

Em Coimbra, o presidente da distrital, Paulo Leitão — um dos rostos da campanha derrotada de Rangel —, já declarou o apoio a Luís Montenegro. Em sentido inverso, Jorge Moreira da Silva contará com as tropas de Maló de Abreu e outros rioístas do distrito.

Na Guarda, em que o líder distrital, Carlos Condesso, revelou que apoia “pessoalmente” Luís Montenegro, é pouco provável que Jorge Moreira da Silva consiga furar num universo eleitoral já de si muito curto — são pouco mais de mil militantes em condições de votar.

O presidente da distrital de Viana do Castelo, Olegário Gonçalves, declarou apoio a Luís Montenegro, mas a estrutura foi durante muito tempo um bastião de Rui Rio e dificilmente migrará toda para o antigo líder parlamentar. É um dos territórios onde Jorge Moreira da Silva pode surpreender, se conseguir amealhar o que resta do rioísmo.

Em Setúbal, o cenário repete-se: o líder distrital, Paulo Ribeiro, apoia e é o mandatário distrital de Montenegro. Jorge Moreira da Silva pode sempre ir buscar aqueles que representam oposição aos discípulos de Bruno Vitorino (que lideram a distrital), arregimentando o cabeça de lista pelo distrito nas últimas legislativas, Nuno Carvalho, e a concelhia de Setúbal.

Mais a Norte, em Bragança, Luís Montenegro deverá contar com o apoio do presidente da câmara local, Hernâni Dias, mas Moreira da Silva pode absorver a máquina de Rio e conseguir vencer o distrito, caso tenha o apoio de Adão Silva e do líder distrital, Jorge Fidalgo.

No Algarve, o candidato de Espinho conta com o apoio do antigo líder da distrital de Faro, Luís Gomes, que foi apoiante de Rui Rio nas últimas diretas e cabeça de lista pelo distrito. Jorge Moreira da Silva tem o apoio de Rogério Bacalhau, presidente da Câmara de Faro e mandatário distrital, e deverá tentar ainda compensar com apoio do deputado Rui Cristina, com influência na região e em particular na concelhia de Loulé.

Na distrital Lisboa-Área Oeste, Luís Montenegro conta com o apoio da mais conhecida figura do PSD na região, o deputado Duarte Pacheco. Também o líder da distrital de Castelo Branco, Luís Filipe Santos, já fez saber que apoiará Luís Montengro.

No que diz respeito a notáveis, Jorge Moreira da Silva conseguiu ter como mandatário nacional da sua campanha o número um do partido, Francisco Pinto Balsemão. Também Manuela Ferreira Leite fez saber o seu apoio à candidatura do antigo ministro do Ambiente. Não será de estranhar que apareçam nos próximos dias mais “barões” e “notáveis” ao lado do famalicense.

Além disso, o facto de sete distritais ainda não terem manifestado diretamente o apoio a Luís Montenegro permite-lhe, pelo menos, acreditar que pode disputar esse universo eleitoral — ainda que se tratem sobretudo de pequenas e médias estruturas partidárias.

A pouco mais de vinte dias das diretas, ainda assim, o balanço é claro: Luís Montenegro é, em teoria, o grande favorito à sucessão de Rui Rio. Mas a máquina oleada que deu a vitória ao ainda líder do PSD e a surpresa da derrota de Rangel (que dominava o aparelho como Montenegro domina) dão ânimo às tropas de Jorge Moreira da Silva.

* Artigo atualizado com os recentes posicionamentos nas estruturas do PSD/Açores e Castelo Branco