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O presidente do PSD, Luis Montenegro, fala à comunicação social após um reunião na Escola Superior de Gestão em Idanha-a-Nova no decorrer de uma semana que está a passar no Distrito de Castelo Branco no âmibito do programa "Sentir Portugal", Idanha-a-Nova, 15 de dezembro de 2022. MIGUEL PEREIRA DA SILVA/LUSA
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Fazendo a média de todas as sondagens, Montenegro continua a mais de 10 pontos percentuais de distância de Costa

MIGUEL PEREIRA DA SILVA/LUSA

Fazendo a média de todas as sondagens, Montenegro continua a mais de 10 pontos percentuais de distância de Costa

MIGUEL PEREIRA DA SILVA/LUSA

PSD sem pressa para repetir caminho das pedras de Passos

Sociais-democratas esperam que o PS seja politicamente responsabilizado pela crise antes de lutarem pelo poder. Volatilidade de Marcelo e do calendário preocupa. Sabotagem de Pedro Nuno será trunfo.

Gato escaldado de água fria tem medo. Uma semana depois da demissão de Pedro Nuno Santos, as hostes sociais–democratas têm uma convicção cada vez mais firme: este é o momento de o PS assumir responsabilidades e de lidar com as consequências das decisões que tomou; precipitar agora o fim de ciclo, além de objetivamente impossível, seria um erro estratégico – é preciso que a perceção de que a crise é da responsabilidade dos socialistas se instale verdadeiramente antes de tentar herdar o poder, sob pena de se repetir a experiência da troika e os danos reputacionais que daí resultaram.

A forma como Luís Montenegro e os vários dirigentes sociais-democratas foram justificando a resistência do partido à ideia de demissão de António Costa causou urticária em alguns setores do PSD – em particular, junto dos apoiantes de Rui Rio, que não se cansaram de lembrar, em surdina, as vezes em que o anterior líder social-democrata foi acusado de ser frouxo sempre que insistia na necessidade de pôr os interesses do país à frente dos do partido.

Mas não foram só os apoiantes de Rio que o disseram. Na CNN, Miguel Relvas, antigo número dois de Pedro Passos Coelho, insuspeito de nutrir qualquer simpatia pelo antigo líder social-democrata e próximo da atual direção, não escondeu que gostaria de ver o PSD a votar favoravelmente a moção de censura que esta quinta-feira vai ser discutida no Parlamento. Não foi esse o entendimento de Montenegro.

De resto, a narrativa encontrada pela atual direção do PSD não foi muito diferente da de Rio noutros momentos. Foi isso, aliás, que foi sendo dito várias vezes publicamente: o “país real”, ao contrário da bolha “mediática e política”, não perceberia que se somasse uma crise política a uma crise social e económica. “Este não é tempo”, sublinhou Luís Montenegro na primeira declaração que fez ao país sobre os mais recentes casos que abalaram o Governo de António Costa.

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No entanto, e apesar de ser esse o aspeto dominante da leitura que se vai fazendo na direção do PSD, há outro dado que ninguém ignora: se há lição que se pode retirar do que foi a passagem de testemunho entre José Sócrates e Pedro Passos Coelho é a de que o PS é pródigo em criar na opinião pública a ideia de que não tem qualquer responsabilidade nas crises em que o país mergulha. No passado, isso já fez mossa no PSD; importa impedir a todo o custo que isso volte a acontecer.

Não que se culpe Pedro Passos Coelho por ter tirado o tapete a José Sócrates aquando do chumbo do PEC IV. Mas o pior veio a seguir: o PSD nunca conseguiu liderar discussão sobre a paternidade das medidas de austeridade e ainda hoje os sociais-democratas têm dificuldades objetivas em descolar da narrativa da troika.

Curiosamente, uma das frases mais ouvidas por estes dias na São Caetano tornou-se um clássico instantâneo da política portuguesa quando proferida por António José Seguro na antecâmara do duelo com António Costa. “Qual é a pressa? Não temos pressa. A crise só agora começou. É António Costa que tem de lidar com ela”, diz ao Observador um dos notáveis do PSD.

Agora, a cautela é outra: perante a convicção de que crise económica e social se vai acentuar nos próximos meses, e que o clima político se vai degradar rapidamente, é importante que fique claro para todos que o PS é o grande responsável pelo estado das coisas. Ao mesmo tempo, o PSD tentará fazer a sua parte: cozer António Costa em lume brando até chegar o momento certo.

O pimeiro-ministro António Costa (D) recebe o novo líder do PSD, Luís Montenegro, tendo na agenda a prazo um eventual acordo para a construção do novo aeroporto da região de Lisboa durante um encontro da residência oficial do primeiro-ministro, Lisboa, 22 de julho de 2022. JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Calendário indecifrável aconselha calma

A grande dúvida que paira entre os sociais-democratas ouvidos pelo Observador é sobre o ponto de cozedura ideal para enfrentar os socialistas. De resto, existem apostas para todos os gostos: há quem alimente a profunda convicção de que António Costa sai em 2024 para a Europa; muitos dizem que o primeiro-ministro já percebeu que não tem alternativa a não ser ficar até 2026; e há quem acredite convictamente que Costa será apeado ainda antes das eleições europeias de 2024.

A dificuldade em antecipar todos estes fatores condiciona a própria afirmação de Luís Montenegro. Quando a atual direção do partido assumiu funções, fê-lo acreditando que chegaria confortavelmente até 2026 e que, aí sim, disputaria as legislativas – pelo meio, pode haver uma ou duas disputas internas, mas, a menos que a oposição interna se organize em torno de um candidato sólido, as hipóteses de derrubar Montenegro são quase nulas.

Além disso, o plano foi sempre assumido: aproveitar os primeiros dois anos de mandato para desenhar um programa eleitoral e passar os restantes dois anos, até 2026, a explicar ao país a alternativa que o PSD quer oferecer. Neste momento, os sociais-democratas não fazem tenção de acelerar os seus próprios calendários internos. Mas muitos no partido reconhecem o óbvio: com o PS a autodestruir-se a um ritmo que poucos antecipavam, a pressão para que o maior partido da oposição diga ao que vem também vai aumentar.

Aliás, ainda que as justificações de Marcelo Rebelo de Sousa para a não dissolução da Assembleia da República (“Não é claro que surgisse uma alternativa evidente, forte e imediata”) tenham sido genericamente compreendidas pela atual direção do PSD, as palavras do Presidente da República tiveram um efeito político e mediático imediato. E obrigaram os sociais-democratas a estar numa posição mais defensiva, fazendo a interpretação da interpretação do discurso do Presidente da República.

Foi o caso de Hugo Soares. Em declarações ao Observador, e depois a vários órgãos de comunicação social, o secretário-geral do PSD sentiu-se obrigado a secundar as palavras do Chefe de Estado, mas sem abrir demasiado o flanco, repetindo várias vezes que o PSD está pronto para governar se for chamado a fazê-lo, mas que este não era o tempo de provocar uma crise política.

“É verdade que não é líquido qual seria o resultado eleitoral, por isso é que diz que não deve entrar em experimentalismos, sem ter certezas quem poderia ganhar. O PSD está a fazer um trabalho de reconciliação com o eleitorado. É importante lembrar que o PSD não ganha desde 2013 — ganhou em 2015, mas não teve condições para governar”, assumiu o secretário-geral do partido.

Em cima disto, e apesar de os sociais-democratas preferirem olhar para o copo meio cheio das sondagens, que mostram os socialistas em queda e, aqui e ali, o PSD a morder-lhes os calcanhares, fazendo a média de todas os estudos de opinião publicados até agora, Luís Montenegro continua consistentemente a mais de 10 pontos percentuais de distância de António Costa – ainda que os efeitos da última e mais grave crise política ainda não tenha sido medidos junto do eleitorado potencial. Seja como for, e fazendo fé na média acumulada de todas as sondagens, ainda falta muito para derrubar o PS nas urnas.

Mais a mais, os indicadores de vitalidade à direita continuam pelas ruas da amargura, vão-se queixando os dirigentes sociais-democratas ouvidos pelo Observador. Quando se esperava um vislumbre de alguma sintonia, Iniciativa Liberal e Chega, dois partidos que continuam sem resolver os seus problemas internos, desataram a atacar o PSD.

Esta dinâmica só reforçou uma ideia já existia na cúpula do partido: os sociais-democratas só estarão em condições de formar um governo sólido quando estiverem de facto numa posição de força negocial que permita neutralizar as ambições e a sede de protagonismo dos adversários à direita – algo que ainda não aconteceu.

Fazendo a média das 16 sondagens publicadas desde que Montenegro foi eleito líder, o PSD regista 24,90% nas intenções de voto; os socialistas têm 35,10%.

A desconfiança sobre Marcelo

No meio de todas as conjeturas que se vão fazendo, há um jogador que finta todos os prognósticos, leituras e análises: Marcelo Rebelo de Sousa. A forma como o Presidente da República foi gerindo toda a crise política voltou a fazer franzir muitos sobrolhos. As hesitações, os avanços, as pressões e os recuos de Marcelo no caso TAP permitiram-se a tantas leituras que ia sendo difícil recentrar o foco. No entanto, e no essencial, o resultado final é encarado como positivo pela direção do PSD: os recados de Marcelo resultaram num inequívoco fator de fragilização de António Costa.

Aliás, socialistas e sociais-democratas estão alinhados numa leitura: depois de ter andado perdido e à procura do seu papel num contexto de maioria absoluta do PS, Marcelo Rebelo de Sousa recuperou o poder e a centralidade. Ao definir o ano de 2023 como essencial, ao exigir resultados concretos, ao colocar toda a responsabilidade em cima dos ombros de António Costa e ao aflorar, ainda que num plano distante, a hipótese de dissolver a Assembleia da República, o Presidente da República deu todos os trunfos à oposição para fazer o seu próprio caminho e ir desgastando cada vez mais os socialistas.

Ainda assim, vai-se comentando nos bastidores do PSD, um bom momento não apaga todos os outros maus momentos de Marcelo. Exasperados com a cobertura constante que o Presidente da República vinha dando a António Costa, os mais próximos de Luís Montenegro até admitem que Marcelo agora esteve bem; mas ninguém sabe o que fará amanhã e depois.

Pior: ninguém sabe se, num cenário em que as coisas se degradem de tal forma que a governação seja apenas um verbo de encher, Marcelo terá, de facto, coragem para afastar Costa e convocar eleições. Numa ideia: Marcelo esteve bem nesta crise, mas o PSD continua ciente de que não pode contar com o embalo de Belém. Antes pelo contrário.

Uma das frases mais ouvidas por estes dias na São Caetano tornou-se um clássico instantâneo da política portuguesa quando proferida por António José Seguro na antecâmara do duelo com António Costa. “Qual é a pressa? Não temos pressa. A crise só agora começou. É António Costa que tem de lidar com ela”, diz ao Observador um dos notáveis do PSD.

O frenemy Pedro Nuno

Bem vistas as coisas, as ajudas presidenciais serão dispensáveis se os aliados vierem de outras paragens. Sobretudo, se vieram das trincheiras do principal adversário. Nessa equação, há um nome que salta à vista de todos: Pedro Nuno Santos.

A forma como o agora ex-ministro das Infraestruturas saiu do Governo, todas as notícias que saíram sobre a alegada traição de Fernando Medina, os ecos dos possíveis planos de Pedro Nuno para suceder a António Costa, a tensão evidente no seio da família socialista, a fragilização de António Costa aos olhos da própria máquina do PS, tudo isto fez mais pelo desgaste do Governo do que qualquer ação do PSD – e isso animou e muito os sociais-democratas.

A certeza, acredita-se na São Caetano, é a de que as coisas vão piorar (e muito) na vida interna do PS e no funcionamento do Governo. E isso é um tónico para o PSD. Os socialistas estão num processo de autofagia acelerada, Pedro Nuno Santos vai começar a ser um fator de desequilíbrio e os sociais-democratas só terão a ganhar com isso. Com um ponto extra: à luz do que foram dizendo vários elementos do PS, Pedro Nuno Santos pode ter saído reforçado no partido; mas sua imagem junto do restante eleitorado saiu (ainda mais) maculada.

O que reforça a perceção que já existia: encarado como o adversário ideal de Montenegro em futuras legislativas, por permitir, em teoria, agregar a direita, bipolarizar a disputa eleitoral e alargar a influência do PSD ao centro moderado, o facto de Pedro Nuno Santos ter saído ferido na asa dá uma enorme vantagem competitiva a Luís Montenegro caso os dois venham, de facto, a bater de frente em futuras legislativas.

PSD celebra trapalhadas de Pedro Nuno. Mas quer “maçã podre” por perto

Novo alvo: Fernando Medina

Com Pedro Nuno fora do Governo, Fernando Medina, até por ter tido intervenção direta na nomeação de Alexandra Reis como secretária de Estado do Tesouro, será, daqui em diante, o novo foco das atenções dos sociais-democratas. Mas a estratégia far-se-á a duas velocidades.

O PSD não se cansará de responsabilizar diretamente António Costa por tudo aquilo que considera serem as falhas da governação socialista – a ideia será bater a bom bater naquele que é verdadeiramente o cimento que une todo o Executivo. E esse será o primeiro alvo das críticas do PSD.

Mas, ou também por isso, ninguém ignora que atingir Fernando Medina é atingir o legado que António Costa quer deixar ao país: as contas certas, a redução da dívida pública e a redução do défice.

Depois do trunfo chamado Mário Centeno, depois do erro de casting que foi João Leão, a nomeação do delfim Fernando Medina como ministro das Finanças foi a aposta decisiva (e possivelmente a última) para cumprir esse desígnio. Mais: é o único verdadeiro peso pesado que resta a António Costa à mesa do Conselho de Ministros.

Se Fernando Medina falhar, ou se cair antes de conseguir alcançar o objetivo de reduzir o défice e a dívida política para os valores a que se propôs, o Governo socialista ruirá como um castelo de cartas. Pelo menos, o PSD vai apostando muitas fichas nisso.

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