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A média dos últimos 7 dias põe o R(t) da região de Lisboa e Vale do Tejo em 1,36

Corbis via Getty Images

A média dos últimos 7 dias põe o R(t) da região de Lisboa e Vale do Tejo em 1,36

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R(t) em níveis preocupantes. Transmissão do vírus agrava-se em todo o país, em especial no Algarve, Lisboa e Madeira

Valores são mais altos que no início de janeiro, o pior mês da pandemia. Sem uma ligação direta com aumento de doentes graves e óbitos, especialistas dizem que Governo tem decisão difícil pela frente.

A ministra da Saúde já o assumiu. Os contágios de Covid-19 na região do Algarve são “preocupantes” e o R(t), o índice de transmissibilidade do vírus, “está seguramente acima de 1” naquela região. Ao que o Observador apurou, o valor está até mais próximo do 2 do que do 1. A média dos últimos 7 dias, segundo os números enviados regularmente para a Presidência da República, atribuem ao Algarve um R(t) de 1,62, o valor mais alto do país.  

Com subidas mais ou menos acentuadas, a transmissão do vírus está a disparar no país. Para os especialistas ouvidos pelo Observador, voltar a fechar o país em casa não é solução, até porque sem uma ligação direta entre o aumento dos contágios e o número de doentes graves e mortos seria difícil ao Governo justificar essa tomada de posição. Sobre Lisboa, a posição é outra e a maioria defende que é preciso parar o avanço da pandemia com o aumento das restrições. A nível nacional, testar, testar, testar e acelerar a vacinação — enquanto todos vão cumprindo as regras de segurança — continua a ser a melhor aposta.

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Olhando para o R(t), era Lisboa e Vale do Tejo quem estava na dianteira na sexta-feira passada, quando foi divulgado o último relatório das linhas vermelhas da pandemia, da responsabilidade do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa). Nessa altura, a região do Algarve estava com um R(t) de 1,19, quase colada ao valor da região de Lisboa (1,20). Agora, segundo os números mais recentes a que o Observador teve acesso, Lisboa e Vale do Tejo tem um R(t) de 1,36.

Não são as únicas subidas e apenas os Açores (desce de 1,09 para 0,95) escapam à tendência que mostra que a transmissão do vírus está a agravar-se em todo o país. No arquipélago da Madeira, encontra-se o terceiro valor mais alto, com um R(t) de 1,40 (era de 0,98). No Norte a subida é de 1,04 para 1,10; no Centro de 1,07 para 1,23; no Alentejo de 1,13 para 1,19. A nível nacional, o índice de transmissibilidade do coronavírus sobe de 1,18 para 1,29. 

A subida era previsível, diz Elisabete Ramos, presidente da Associação Portuguesa de Epidemiologia, e frisa que não se pode olhar para as subidas da mesma maneira. “Quando se olha para o valor nacional, está a olhar-se para Lisboa”, diz a investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto. No Algarve, por exemplo, defende que se partiu de uma base mais baixa de casos. O exemplo dos números desta terça-feira revela-o bem: em Lisboa e Vale do Tejo houve mais 648 novos casos, no Algarve foram 70.

Apesar disso, na região algarvia, diz a epidemiologista, é onde os contágios mais aumentam: “Estavam a duplicar a 6 dias, enquanto em Lisboa e Vale do Tejo os casos duplicam a cada 11 dias e, no Norte, a cada 40.”

Sem querer apontar o dedo, para já, à variante Delta do vírus (a indiana), Elisabete Ramos lembra que nos dois últimos fins de semana prolongados metade do país foi de férias para as praias algarvias. “Quando estamos de férias, relaxamos”, conclui.

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Nos Açores, o coordenador de saúde pública, Gustavo Tato Borges, concorda. “Lisboa e Vale do Tejo é o problema nacional.” Quanto ao resto do país, lembra que só o R(t) não mostra um retrato fiel da pandemia e que é necessário saber qual a taxa de incidência (número de casos por 100 mil habitantes), já que é isso, aliado à velocidade de transmissão, que mostra se a pandemia está, ou não, numa fase de crescimento em que ainda se pode fazer alguma coisa para a controlar. Em Lisboa, defende, faltou atuar a tempo e horas.

“Nada foi feito para parar o crescimento em Lisboa, onde a situação é mais preocupante porque há uma densidade populacional enorme. Assim que passou os 120 casos por 100 mil habitantes deveriam ter sido tomadas medidas e agora a situação estaria, com certeza, mais controlada”, defende o também vice-​presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública.

Apesar disso, Tato Borges sabe que é difícil encontrar equilíbrios entre o que deve ser feito em termos de saúde pública e o que deve ser feito para preservar a economia. “Qual é a legitimidade de restringir a liberdade das pessoas sem mortos? Em termos políticos é muito difícil passar esta mensagem”, argumenta.

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Se é rápido a defender que Lisboa devia andar para trás no desconfinamento, Tiago Correia não defende o mesmo para o resto do país. Para o investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, o momento que o país vive torna muito difícil saber como responder politicamente a esta fase da pandemia.

“Não sabemos o que é este aumento de incidência vai significar do ponto de vista dos cuidados de saúde e esse é o critério chave”, defende. Ou seja, sem proporção direta entre contágios, internamentos em cuidados intensivos e óbitos não se pode apertar as medidas restritivas. Lisboa, defende, pode e deve ser usada como exemplo para comunicar decisões ao resto do país, já que na região se assiste a um aumento de pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde.

“Se os contágios não estão a produzir mortes na proporção direta, se não vão sobrecarregar os serviços de saúde, então é preciso encontrar um consenso político, uma interpretação política do que o país aguenta. Quando há pressão no SNS é mais fácil tomar certas decisões”, sustenta Tiago Correia.

Para já, enquanto 80 a 85% das pessoas com mais de 60 anos e das pessoas com mais de 50 com comorbilidades não estiveram vacinadas, o investigador defende que deve ser cumprida a matriz de risco e, segundo ela, Lisboa tem de andar para trás.

Mas a atual matriz de risco chega? O bastonário da Ordem dos Médicos defende que não e insiste no que já vem dizendo há várias semanas: é preciso repensar as linhas vermelhas que foram estabelecidas numa fase anterior e diferente da pandemia.

“Estamos a atingir uma situação preocupante, sobretudo em alguns locais do país como Lisboa e Vale do Tejo, Algarve e Madeira. Era importante reconsiderar com mais acutilância a matriz de risco e não ficar só pelo R(t) e pelos número de infeções por 100 mil habitantes”, considera Miguel Guimarães. Um dos fatores levados em conta deveria ser a gravidade da doença.

O bastonário sabe que o número de internados e de óbitos está longe da realidade de janeiro, o mês em que se atingiu o pico da pandemia (no dia 1, o R(t) era de 1,23), mas lembra que não podemos menosprezar as sequelas da Covid-19, quando já houve um doente a precisar de transplante bipulmonar, os doentes com Covid longo que vão chegando cada vez em maior número aos hospitais (sintomas para além das 12 semanas) e os doentes com outras patologias que ficam relegados para segundo plano quando todos os esforços são para conter a pandemia.

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“Temos menos internados e isto tem a ver com a idade e com o efeito da vacinação, mas, ainda assim, temos seis surtos em lares de idosos onde as pessoas estariam todas vacinadas. Esta nova variante, a Delta, é mais resistente às vacinas e consegue infetar com mais facilidade pessoas com esquema vacinal completo”, lembra o bastonário. Segundo dados da Direção Geral de Saúde, 5 pessoas morreram com Covid-19 apesar de já terem tomado as duas doses da vacina.

O bastonário dos Médicos diz mesmo que gostava que as pessoas percebessem, “de uma vez por todas,” que todos os internamentos são de pessoas com doença grave.

Quem está nas enfermarias são doentes graves, quem está em cuidados intensivos são doentes muito graves, frisa Miguel Guimarães. E, esta terça-feira, havia 450 doentes internados, 101 em camas de unidades de cuidados intensivos. Destas, lembra o bastonário, só há 700 disponíveis em Portugal. “Estamos a viver uma réplica do que aconteceu na passagem de dezembro para janeiro e estamos outra vez a falhar em cortar cadeias de transmissão. A pressão sobre os hospitais não é a que era, mas vamos tratando cada vez menos doentes não Covid.”

A solução passa, segundo todos os especialistas ouvidos, pelo mesmo: não descurar as medidas de segurança sanitária individuais, apertar as restrições em alguns casos, como na região de Lisboa, e garantir que elas são mesmo cumpridas. Para além disso, é preciso testar — e testar quem realmente precisa, diz Elisabete Ramos, não apenas os mais preocupados que se dirigem às farmácias.  Identificar e isolar os contactos de risco de forma a quebrar as cadeias de transmissão completam o rol.

Quarta vaga da pandemia pode atingir o pico daqui a um mês, alertam especialistas

“Estamos num momento difícil da pandemia: as pessoas mais novas que precisam mesmo de sair e de conviver, são as mesmas que ainda não estão vacinadas e as que se dão ao luxo de andar sem máscara na rua. O primeiro-ministro tem de voltar a falar ao coração dos portugueses, se não vamos acabar por voltar todos a confinar”, argumenta o bastonário da Ordem dos Médicos.

Sobre uma quarta vaga da pandemia, não tem dúvidas que ela já está aí, e mesmo sendo uma onda mais pequena do que o tsunami de janeiro não é de desvalorizar.

Tato Borges também vislumbra algo a surgir no horizonte: “Ainda é cedo para dizer que estamos numa quarta vaga, mas Lisboa está numa fase de aperto e a nova variante está a cavalgar o continente. Não tenho dúvidas nenhumas de que pode estar a chegar uma quarta vaga, se nada for feito, com epicentro em Lisboa. Nesse caso, o terceiro confinamento é sempre uma possibilidade em cima da mesa, mas espero que não seja preciso chegar lá.”

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