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ELEIÇOES LEGISLATIVAS: Rui Rio, lider do Partido Social Democrata (PSD), desce a Rua de Santa Catarina no Porto acompanhado de centenas de apoiantes do partido. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de Janeiro. 27 de Janeiro de 2022, Porto TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
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TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Rui Rio. Do Porto para Lisboa nas asas de Pedro Nuno

Sondagens internas do PSD dão vitória contra Costa. Rio acredita que pode governar com "abstenção violenta" de Pedro Nuno Santos. Aparecer na foto ao lado de André Ventura está fora de hipótese.

Rui Rio está na Madeira a lutar pelo último quinhão de votos para neutralizar Paulo Rangel. O resultado das diretas do PSD é incerto, mas, nos bastidores, os homens do líder social-democrata acreditam que podem vencer. Mas vencer para quê? Faltam quase três meses para as legislativas e não há cenário algum que aponte para a vitória contra António Costa. Pior: não há cenário algum que aponte sequer para uma maioria de direita. Rio está preparado para perder contra Rangel. Mas acredita numa coisa: se vencer as diretas, tem tudo para ganhar as legislativas e governar com o apoio de um PS em convulsão. A maioria de direita é dispensável.

Passaram exatamente três meses desde esse dia. Rui Rio discursa para um mar de gente a partir de uma varanda na Baixa do Porto. Foi recebido em apoteose. Ao seu lado estão Paulo Rangel, Luís Filipe Menezes e José Pedro Aguiar-Branco, num quadro carregado de simbolismo: todos eles passaram de aliados a ferozes adversários de Rui Rio em algum período do percurso político comum. Agora, estão ali. “Na história de Portugal, só uma vez um presidente da Câmara do Porto chegou a primeiro-ministro, em 1909. 113 anos depois, um ex-presidente da Câmara do Porto pode chegar a primeiro-ministro”, recorda Rio. É um homem a querer fazer história.

Pela primeira vez desde que é líder do PSD, Rui Rio acredita que pode de facto vencer as legislativas. Os sociais-democratas têm sondagens internas que lhes dão a vitória contra António Costa – e Rio, o mesmo que sempre desprezou as mesmíssimas sondagens, sabe disso. As sondagens oficiais, que vão chegando à caravana e aos jornalistas muito antes de serem publicadas, têm resultados para todos os gostos. Mas ninguém ignora o óbvio: a vitória, a acontecer, será por pouco; formar governo num clima particularmente hostil será o próximo grande desafio de Rui Rio.

[Pode ouvir aqui a reportagem da Rádio Observador]

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Apoiantes do PSD abrem caminho a apoiantes da IL no Porto

É aí que entra Pedro Nuno Santos, transformado em personagem principal nestas eleições. Se o PSD vencer as legislativas, os socialistas não terão outra hipótese que não deixar o PSD governar, acredita-se na direção de Rio. Pelo menos, até arrumar em casa e entregar a chave a Pedro Nuno Santos, o filho pródigo da ala mais à esquerda do partido, o PS está neutralizado. O mesmo homem que se rebelou contra a “abstenção violenta” de António José Seguro terá poucas alternativas a não ser permitir a Rio que governe enquanto ganha fôlego para novas eleições. A curto prazo é isso que conforta Rui Rio.

ELEIÇOES LEGISLATIVAS: Rui Rio, lider do Partido Social Democrata (PSD), desce a Rua de Santa Catarina no Porto acompanhado de centenas de apoiantes do partido. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de Janeiro. 27 de Janeiro de 2022, Porto TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Depois virá o terceiro ato de uma peça que o líder social-democrata já ensaiou mentalmente. Quando os bloqueios à esquerda e a gritaria à direita tornarem a governação insustentável, Rio acredita que pode caminhar triunfalmente até à maioria (absoluta ou quase) e reeditar a história já desenhada uma vez por Aníbal Cavaco Silva. Rio, o mal-amado que derrotou Santana, Montenegro e Rangel; Rio, o homem que derrotou Costa contra todas as expectativas; Rio, o absoluto. São estas as páginas que o líder social-democrata, aquele que mais tempo aguentou no papel de líder da oposição, quer escrever.

Se o conseguir, Rui Rio terá um reencontro com uma história tantas vezes adiada. Em 2008, era ele o favorito para suceder a Luís Filipe Menezes à frente do PSD, mas recuou na 25ª hora. Um ano depois de 2009, era o favorito de uma parte considerável do partido para enfrentar Pedro Passos Coelho, mas pôs-se fora da corrida.

Em 2015, alimentou sonhos presidenciais, mas desistiu perante o avanço de Marcelo Rebelo de Sousa. Chegou à presidência do partido condenado a ser um líder de transição, uma nota de rodapé na história do partido. Quatorze anos depois de ter dito que não ao desafio para ser líder do PSD arrisca-se a ser primeiro-ministro. Falhou três vezes o check-in para voos nacionais; agora quer chegar lá à boleia de Pedro Nuno Santos.

O tabu (quase) desfeito sobre o Chega. Até ver

Ultrapassado o obstáculo do PS, Rio só terá pela frente um barulhento André Ventura. Com o CDS aparentemente relegado para a terceira liga – se conseguir eleger qualquer deputado será já uma vitória –, com a Iniciativa Liberal cada vez mais dentro do barco – esta quinta-feira, as duas caravanas cruzaram-se e o partido foi recebido com guarda honra pelo PSD –, o Chega é a única dor de cabeça do líder social-democrata.

Tantas vezes ambíguo em relação ao partido de André Ventura, Rui Rio foi evoluindo no discurso sobre o Chega. Primeiro, era um potencial parceiro caso se moderasse. Depois, passou a ser parceiro de papel passado nos Açores. A seguir, passou a estar excluído de qualquer solução governamental. Agora, a acreditar nas palavras de Rui Rio, está completamente proscrito das contas do PSD. Esta quinta-feira, o líder social-democrata não só deixou claro que não negociaria nos bastidores qualquer Orçamento com Ventura, como comparou as hipóteses de dialogar com o Chega às chances de um eventual entendimento com o Bloco de Esquerda ou o PCP.

Para lá de toda a retórica, o núcleo duro de Rui Rio sabe que não restam grandes alternativas. Vencendo ou não as legislativas, se há algo que ficou evidente nestas legislativas é que a estratégia de Rio – recusar o papel de federador das direitas, disputar as eleições ao centro moderado – foi o que o permitiu ao PSD voltar a estar perto da vitória. Aparecer ao lado de André Ventura na fotografia seria atirar borda fora tudo o que foi conquistado nestes anos de liderança.

Além disso, Rio já percebeu que a natureza de Ventura nunca fará dele um parceiro confiável. Se dúvidas houvesse, o que aconteceu nos Açores foi o teste de algodão. Qualquer aproximação, qualquer tentativa de negociação com o Chega, permitirá a André Ventura reclamar publicamente que vergou o PSD – tal qual a fábula da rã e do escorpião.

A estratégia será chantagear o Chega, deixando bem claro que o partido liderado por André Ventura só tem uma de duas hipóteses: ou permite ao PSD governar ou contribui para o regresso da esquerda ao poder. É isto que está no guião da direção do PSD; se Rio vencer, logo se verá se a prática parlamentar será assim ou não. Até lá, vão valendo as palavras do líder social-democrata.

Venceslau Lima, o exemplo que Rui Rio deu como o único ex-presidente da Câmara do Porto que chegou a primeiro-ministro, teve uma passagem efémera pelo cargo, menos de sete meses e em circunstâncias muito hostis. No passado, o líder social-democrata já deu provas de resiliência contra todas as expectativas. Resta saber se, derrotando António Costa, voltará a enganar o destino que lhe traçaram.

ELEIÇOES LEGISLATIVAS: Rui Rio, lider do Partido Social Democrata (PSD), desce a Rua de Santa Catarina no Porto acompanhado de centenas de apoiantes do partido. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de Janeiro. 27 de Janeiro de 2022, Porto TOMÁS SILVA/OBSERVADOR ELEIÇOES LEGISLATIVAS: Rui Rio, lider do Partido Social Democrata (PSD), desce a Rua de Santa Catarina no Porto acompanhado de centenas de apoiantes do partido. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de Janeiro. 27 de Janeiro de 2022, Porto TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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