Um máquina de lavar roupa, vários baldes com detergentes, uma cortina vermelha feita com retalhos e um chão pintado de cor de rosa, exatamente o mesmo tom das luvas de limpeza. Em silêncio, “Maria” limpa o cenário, primeiro com a vassoura e depois com a esfregona, ouve-se apenas a água a cair no balde e os passos da atriz, já de avental vestido e cabelo preso.
Com a ajuda de um rádio antigo e de cartas manuscritas com testemunhos reais, Sara Barros Leitão conta a história da fundação do primeiro Sindicato de Serviço Doméstico em Portugal, criado em 1974, e fala de mulheres, principalmente aquelas “que eram como se fossem da família”. Da elaboração de uma lei à primeira greve, há cem anos, quando em 1921 milhares de empregadas domésticas se mobilizaram pela primeira vez e perceberam que tinham uma voz, há, no entanto, uma certeza: “Se estas mulheres param, o mundo também para”.
A posição correta, o tom de voz acertado e as múltiplas tarefas a cumprir, mas também os relatos de medo, solidão, assédio laboral, violência ou sofrimento. Tudo é trazido para cima do palco à boleia de um texto que é também um apontar de dedo a nós próprios enquanto sociedade. Em “Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa” — título roubado a um texto do livro Novas Cartas Portuguesas (1971) — Sara Barros Leitão resgata uma história que foi escondida para debaixo do tapete e enaltece protagonistas que foram apagadas da memória coletiva.
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Numa vénia à capacidade de união, organização e reivindicação no feminino, a atriz, encenadora e dramaturga espera dar o mote para que a mudança aconteça, embora não carregue o peso dessa responsabilidade. “O que é feito depois do espetáculo é feito pela sociedade civil, eu como cidadã também o faço, mas não acho que os artistas tenham de o fazer. Sou artista e faço no palco aquilo que é parte da minha militância.”
Insatisfeita, inconformada e consciente do seu privilégio, Sara Barros Leitão tem urgência em mudar o mundo, entre lutas e incertezas. No ato da criação sofre e é feliz, ao mesmo tempo e na mesma medida, e distinções como o Prémio Revelação do Teatro Nacional D. Maria II não a condicionam nem a inibem de tocar na ferida, as vezes que forem necessárias. Tanto no palco como na rua, de papel ou megafone na mão, Sara só quer dar voz aos que não a têm e para isso não precisa de gritar, basta representar.
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Depois das criações Teoria das Três Idades (2018), feita a partir do estudo do arquivo do Teatro Experimental do Porto, e Todos Os Dias Me Sujo De Coisas Eternas (2019), um trabalho de investigação sobre a toponímia portuense, este espetáculo encerra a trilogia de monólogos, sendo o primeiro produzido pela estrutura artística, Cassandra, que fundou em 2020. Com estreia marcada para esta quinta-feira, 4 de novembro, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, a peça irá percorrer depois 14 cidades do país até abril de 2022.
Como surgiu este tema? Estava guardado algures ou cruzou-se com ele recentemente?
Se calhar estava guardado, mas não de uma forma consciente. Ao fazer este espetáculo fui-me apercebendo que já andava a pensar sobre ele, mesmo antes de saber que andava a pensar sobre ele. Em 2018 fui convidada pela Casa da Música para fazer uma visita guiada performativa a um grupo restrito, de 20 pessoas. Estive mais ou menos uma semana a preparar essa visita com guias, a tentar perceber toda aquela questão da arquitetura, e decidi fazer uma viagem sobre os percursos que as empregadas de limpeza fazem para fugir ao contacto com as pessoas. Acabei por mostrar uma visão da Casa da Música escondida, que as próprias pessoas que trabalham lá não conheciam. Se por um lado os guias diziam que os chão era todo em inox porque o arquiteto queria dar uma frieza ao edifício, elas diziam-me que para limpar aqui era um castigo, depois o facto de as portas não terem puxadores e de toda a gente colocar lá os dedos. Elas deram-me uma outra leitura daquele espaço e isso interessou-me muito, acho que foi o início de alguma coisa.
Já valorizavas estas mulheres, esta profissão e estas tarefas?
Elas sempre estiveram presentes na minha vida de várias maneiras, em minha casa, em casas de amigos ou de familiares e tudo o que vou dizendo durante o espetáculo são coisas que me foram acompanhando durante a minha infância, que ouvi pessoas de quem gosto muito dizer e que muito provavelmente também disse em algum momento da minha vida. Ao começar a pensar sobre o assunto, percebo que há coisas que não são aceitáveis de dizer ou pedir, há uma espécie de convenção mundial de que a estas mulheres se pode pedir mais do que a outros trabalhadores, são como se fossem da nossa família. Vão aos aniversários, aos casamentos, cozinham fora do horário de trabalho, rodam as casas das várias pessoas da família e nada disso é suposto.
Há uma legitimidade, é isso?
Sempre houve essa legitimidade, explico no espetáculo que isso vem de um resquício esclavagista, as empregadas domésticas surgem dessa tradição esclavagista de ter alguém que está em tua casa para te servir. Historicamente elas servem uma burguesia, mas muito recentemente a necessidade de ter uma empregada doméstica é uma coisa mais abrangente. A Organização Internacional do Trabalho fez um inquérito recente em que perguntaram a estas mulheres se viam mais vantagens ou desvantagens em serem consideradas da família e mais de 80% disse que havia mais desvantagens, porque a relação profissional fica completamente pervertida. É uma relação de trabalho, mas não aceitamos que assim seja porque não aceitamos que somos patrões e não aceitamos que a nossa casa constitui um posto de trabalho.
São estas questões que levanta na peça?
Há muitas questões que levanto com o espetáculo e não o faço para purgar a minha própria vida ou para me desculpar sobre o que acontece na minha própria casa. Tenho é a vontade de trazer um debate público que me inquieta e para o qual também não tenho solução. Há muitos países do mundo que estão a refletir sobre o futuro do trabalho doméstico. Portugal é um dos países que mais empregadas domésticas tem, os países do sul têm todos muito mais empregadas domésticas e no entanto são países muito mais pobres, logo estas empregadas não servem necessariamente as pessoas ricas e esse é um fenómeno interessante. Quando se pergunta a uma empregada doméstica o que ela faz, são milhares de profissões. Ela cozinha, é cuidadora, faz recados, faz limpezas, é psicóloga, ajuda nos trabalhos de casa, desentope a fossa… Isso é completamente insólito quando olhamos para aquilo que é o direito do trabalho e para as conquistas dos trabalhadores no código geral do trabalho.
Porque é que Portugal, sendo um país pobre, é dos que tem mais empregadas domésticas?
Porque há um lado do Estado que não é cumprido, como por exemplo a ausência de uma rede de creches públicas. Imaginemos que tenho dois filhos e quero continuar a trabalhar, tento pô-los numa creche, mas a mensalidade é o que ganho por mês. Então, ou fico em casa com eles ou pego nesse dinheiro e pago por mês a uma pessoa para tomar conta deles eles e que ainda me faça o jantar, limpe a casa e vá às compras. Isso acontece porque as empregadas estão a colmatar uma falha do Estado. Outra coisa que as empregadas fazem é cuidar dos idosos, fazem-lhes companhia, fazem a sua higiene, tiram-nos de casa. O Estado também se devia responsabilizar pelas pessoas quando elas ficam velhas.
Nesta peça fala da origem do sindicato do serviço doméstico, com muitos detalhes históricos, mas deixa também pistas sobre o que poderá ser o futuro?
Esta é uma discussão dura, há coisas que o espetáculo não pode resolver, mas deixa sementes para que possamos pensar sobre elas. Ele toca em questões mesmo difíceis porque é mesmo sobre as nossas casas, sobre a forma como nos organizamos enquanto sociedade. Em 1991, o sindicato serviço doméstico fundiu-se com o STAD [Sindicato dos Trabalhadores de Serviços de Portaria, Vigilância, Limpeza, Domésticas e Atividades Diversas] e neste momento representa poucas empregadas de limpeza, apenas empresas dessa área. As mulheres de quem falo no espetáculo, que fundaram este sindicato em 1974, mobilizaram 9 mil mulheres em todo o país, foram a cada uma das casas bater à porta, num altura em que ainda não havia internet, e durante 16 anos esse sindicato existiu. Através da sua fundadora, a Conceição Ramos que tive a sorte de conhecer pessoalmente, o que elas propõem é completamente revolucionário, ela deu entrevistas na época a dizer que o objetivo daquele sindicato era extinguir a profissão nos moldes atuais e propunha soluções. Não está na história, ninguém sabe, mas estas mulheres ocuparam dois prédios, um no Porto e outro em Lisboa, durante dez anos e fizeram um refeitório, uma creche e uma lavandaria comunitárias, muitos baratas, que puderam servir os operários de forma aliviar o trabalho das suas companheiras nas casas. Esta história não é contada quando falamos da história de trabalho das mulheres.
Tudo isto acontece muito próximo da revolução em Portugal, porque é que acha que estes episódios foram escondidos ou pouco lembrados?
Elas encontraram muitas dificuldades porque são mulheres, porque esta é uma profissão altamente feminizada e ninguém quer acabar com este trabalho. Quando dizemos que vamos acabar com o serviço doméstico em Portugal, geram-se grandes discussões, é quase o fim do mundo e ninguém está preparado para que isto deixe de acontecer de repente. Há pouco tempo ouvi a deputada Joacine Katar Moreira dizer que não é possível ser feminista e ter empregada doméstica.
Concorda com isso?
Compreendo perfeitamente o que ela diz, até porque já pensei sobre isso neste espetáculo, mas há muitas camadas. Acho que abolir as empregadas domésticas desta maneira, sem criar alternativas, vai fazer com que caia em cima das mulheres esse peso de ficar em casa com os filhos e deixar o mundo do trabalho. No entanto, entendo o que ela diz. As mulheres conseguem, de facto, ir trabalhar à custa de outras que vão para as suas casas fazer aquilo que elas não querem fazer. Se trabalhássemos menos horas, se existissem refeitórios, creches, lares, centros de dia ou lavandarias públicas, isto não aconteceria. A [ativista, académica e escritora] Angela Davis propõe que o Estado crie equipas e, tal como faz para a limpeza das ruas, entre nas casas e as limpe também. Quem beneficia com o trabalho doméstico é o capital, o trabalho doméstico prepara-nos para estarmos prontas para o mercado trabalho, somos mais felizes e mais disponíveis sem esses encargos. Que mundo é este onde educamos os nossos filhos para alguém limpar aquilo que eles sujam? É este o mundo que queremos?
O que gostava que acontecesse?
Sei que há grupos parlamentares que estão trabalhar neste momento uma revisão à lei, será apresentada em breve e espero que o espetáculo mobilize isso. A lei que protege as empregadas domésticas continua a ser do tempo da escravatura, é uma do Código Civil e isto é muito importante. O facto das trabalhadoras serem regidas pelo Código Civil e não pelo Código do Trabalho demonstra a nossa dificuldade em aceitar que aquilo é um posto de trabalho, achamos que é um acordo entre as partes. Na história, elas nunca conseguiram ter o apoio dos trabalhadores na sua luta para conseguirem ser incluídas na lei do trabalho. As conserveiras, por exemplo, também são mulheres, mas trabalhavam numa fábrica, conseguiam ter sindicatos e fazer greves. A organização dos sindicatos está pensada para um contexto fabril, no fim do espetáculo faço uma crítica a isso, ao facto de neste momento o sindicato não ter capacidade para representar estas mulheres, representa as limpezas industriais e tudo o que se assemelha ao funcionamento uma fábrica. Hoje em dia as empregadas domésticas têm uma lei à margem da lei geral do trabalho, é de 1992, e permite, entre outras coisas, que trabalhem 44 horas semanais, enquanto que todos os outros trabalhadores em Portugal trabalham 40, ou que recebemos menos que o ordenado mínimo. Isto pode ser considerado constitucional.
Esta peça encerra uma trilogia de monólogos que abordam temas diferentes, mas partem de coisas comuns.
Sim, todos começam comigo em arquivos a estudar um tema, depois eu sozinha a escrever, a encenar e a interpretar. Esta trilogia acaba aqui, pelo menos para já, depois logo vejo o que me apetece fazer para a frente. Gosto deste percurso, que em última analise é teatro. A Mafalda Araújo é a socióloga que acompanhou todo o processo criativo deste trabalho e foi engraçado porque ela dizia-me que tinha de citar alguma coisa e eu respondia que isto era teatro. Há uma proteção, uma liberdade e um poder que é bonito nisto tudo.
Sofre muito a criar?
Sim, há uns dias acabei escrever o texto e estou mais em paz, mas foram momentos muito dolorosos. Há muita coisa que não entra no texto, muita coisa que é fundamental e não está, muitas decisões difíceis de tomar, ser obrigada a cortar histórias ou rejeitar propostas incríveis, mas tento sempre pensar que isto é um espetáculo e não um powerpoint. Esse exercício é muito doloroso.
O ato criativo tem de ser necessariamente assim, sofrido?
É doloroso de forma privada, porque sou absolutamente contra processos dolorosos para as equipas, que é uma prática muito comum no teatro. Aqui é tudo muito tranquilo, com horários de trabalho a serem cumpridos, folgas e feriados respeitados. O ato de criação é doloroso pelo ato em si, mas aqui torna-se ainda mais porque o faço sozinha e é frenética a forma como isto acontece. Estou a escrever num computador, coloco o conteúdo na drive, depois pego num tablet e vou para o palco ensaiar e ler, depois vou alterar, resolvo filmar e faço uma improvisação, depois transcrevo o que disse, depois reescrevo, depois quase que levo o computador para cima do palco e quase que estou a escrever ao mesmo tempo que estou a dizer o texto. O mais difícil para mim é quando já sei para onde vai o espetáculo e depois tenho de trabalhar nele até o ter todo marcado e decorado. É duro, muito duro, sinto o sofrimento e a felicidade e por isso é que é tão caótico. Tanto me sinto avassalada de felicidade como num sofrimento profundo. Às vezes é mesmo difícil medir estas duas coisas porque elas vêm quase na mesma medida e ao mesmo tempo.
Há um peso da responsabilidade ou uma libertação maior em palco quando se está sozinha?Não tenho um fascínio especial por fazer um monólogo, levo o trabalho da mesma forma como se estivesse num elenco gigantesco. Sobre a responsabilidade e a libertação, tenho-as na mesma medida e isso torna-se dramático. Sei que faço mal a mim própria, acho que não faria isto aos meus atores, não encerraria o texto tão tarde. Tenho noção que vou reescrever a última cena quase até ao dia de estreia, isto aconteceu em todos os outros trabalhos que fiz sozinha, mesmo depois da estreia continuo a reescrever coisas e a ajustar. Acho isto saudável, mas claro que me dá ansiedade.
O prémio revelação do D. Maria II condiciona, fortalece ou inibe alguma coisa em si?
Nunca me condicionou, pelo contrário. Não sinto que exista uma expetativa ou uma curiosidade maior sobre o meu trabalho, não sinto que agora haja mais jornalistas interessados naquilo que faço.
Mas as 14 cidades por onde vai passar com este monólogo teriam aberto as portas dos teatros da mesma forma?
Não sei responder a isso, nunca fiz essa reflexão. Não circulei com os outros espetáculos porque a produção não dependia de mim. Havia uma vontade muito grande em criar a minha própria estrutura, a Cassandra, para poder voar, organizar e fazer. Estas 14 cidades são fruto de muito trabalho, não apareceram só porque sim. Hoje posso dizer que a estrutura é sólida porque ganhei um prémio que permitiu ter um projeto financiado durante um ano, que é o Heróides – Clube do Livro Feminista.
Esse clube de leitura já vai a caminho de uma segunda edição. O que lhe tem ensinado?
Fi-lo de uma forma muito egoísta, adorava ler livros que nunca li e gostava de criar um espaço onde as pessoas me dissessem o que eu haveria de ler. Esperava ter cerca de 30 e temos sempre 180 leitores, complemente fiéis e isso é incrível. Surpreende-me muito quando estou a fazer uma digressão ou vou a um casamento as pessoas vêm ter comigo a falar sobre as Heróides, dizem-me que o clube mudou a vida delas, que descobriram amizades novas, que encontraram o amor ou que aprenderam a conhecer-se melhor.
O projeto nasceu em plena pandemia num formato online, não pensa transformá-lo numa experiência presencial?
Sim, estou a trabalhar nisso, em fazer uma espécie de digressão, queremos remodelar algumas coisas e conseguir financiamento, gostávamos de não perdesse a presença no online, mas até à estreia deste espetáculo não dá para pensar em mais nada.
O Orçamento do Estado foi chumbado, mas se a quantia para a Cultura fosse realmente de 0,25%, voltaria a sair à rua?
É muito provável que sim. Honestamente, não fiquei muito surpreendida com a proposta de orçamento, é triste perceber que depois de um ano destes e apesar de vermos escrito no orçamento que a cultura é um dos pilares para a retoma da economia, isso não se verifica na prática, naquilo que é o investimento público para a cultura. Por outro lado, também já estamos habituados a que o subfinanciamento seja crónico. No entanto, seria desonesto da minha parte não dizer que a ministra da Cultura colocou em andamento algumas coisas que estavam paradas há muitos anos, como o estatuto profissional do artista ou a rede de cineteatros, há uma série de diplomas que coloca em andamento porque tem força política e vontade para que isso aconteça, ainda bem o que o faz. Em relação ao estatuto, nada seria alterado, foi mais uma estratégia política de anúncio, na proposta do OE não estava inscrita nenhuma medida de combate à precariedade e o Estado mais uma vez seria o principal beneficiário dessa precariedade. Nos teatros nacionais, que são tutela desta ministra, os assistentes de sala não têm um contrato de trabalho e são falsos recibos verdes.
Nunca mais voltou a Serralves e à Casa da Música?
Não, nem vou voltar enquanto não houver um pedido de desculpas público e uma tomada de posição em relação aquelas administrações. Sobretudo Serralves, tem sido mesmo vergonhoso o facto de não aceitar aquilo que é o parecer da Autoridade para as Condições do Trabalho.
Estes dois casos denigrem a imagem cultural do Porto?
Acho que sim, mas também acho que esta é uma cidade muito burguesa, com uma elite cultural que continua a frequentar estes espaços e que continua a ter empregadas domésticas e a precarizar. Fico triste e não tem só a ver com a cidade, mas com o país. O Ministério da Cultura tem representação nestas duas administrações e mesmo no OE ambas continuariam a receber o mesmo financiamento, ou seja, não seriam castigadas por serem dois enormes exemplos de assédio laboral e de más práticas.
Nas últimas eleições autárquicas, o Bloco de Esquerda elegeu pela primeira vez um vereador para no Porto. Que ligação tem ao partido e como vê esta conquista?
A única ligação que tenho ao partido é um rever em muitas das suas lutas e de pontualmente sentir que devo manifestar publicamente o meu sentido de voto para que as pessoas votem no geral.
É militante?
Não, não estou ligada ao partido.
Mas gostava de estar?
Não, a minha militância é no palco e cheguei a um momento em que tenho mesmo de perceber que contributo é que posso dar à sociedade e por muito que possa ser verbal em muitas questões, ligadas à cultura ou às políticas culturais, não tenho ambição de ser delegada sindical, por exemplo. Dou todo o meu apoio ao sindicato onde pertenço, votando, participando, dando contributos em reuniões, mas o facto de estar ligada à Plateia – Associação de Profissionais das Artes Cénicas foi mais uma inevitabilidade deste momento do que propriamente uma coisa que queira fazer no futuro. O meu contributo é artístico, é fazer bons espetáculos, que levantem questões e toquem em pontos que os outros depois possam trabalhar a partir deles. O que é feito depois do espetáculo é da sociedade civil, eu como cidadã também o faço, mas não acho que os artistas tenham de o fazer. Sou artista e faço no palco aquilo que é parte da minha militância.