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TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Sem berros, com gatos, sem erros e com Emanuel. PSD acredita que vitória já não foge

Rio continua a milhas de Costa entre mais velhos e pobres. Balas do socialista estão a fazer mossa, mas PSD acredita que a campanha, pensada para segurar eleitores e convencer indecisos, venceu.

Emanuel e as quatro bailarinas, body de lantejoulas branco e saia de tule da mesma cor, esforçam-se por aquecer uma tarde que se vai pondo fria no jardim público de Évora. O músico já ensaiou alguns dos seus maiores sucessos e começa agora a cantar um clássico de 2005. “Vamos ao céu / Eh! / Vamos ao céu / Eh! / Olhem que o céu, olhem que o céu tem muito gosto / Vamos ao céu / Eh! / Vamos ao céu / Eh! / Quem quiser ir vai-se sentir mais bem disposto”. A cada “Eh!” o público, sobretudo mulheres nos seus entas, é desafiado a levantar o braço e o dedo em direção ao céu. Na fila da frente, sentado, Rui Rio não falha uma. Está a divertir-se.

Foi a segunda aparição de Emanuel nesta campanha do PSD. Na primeira, em Aveiro, Rio saltou o concerto e só se juntou mesmo no fim, bem a tempo de ouvir “O Ritmo do Amor (kuduro)” e os elogios rasgados do músico, que aceitou ser o autor do hino de campanha de Rio. “Quando se conhece um homem competente, seguro, com emoção e coração, é fácil”, concedeu o músico. Em Évora, Emanuel renova os elogios e engrossa a esperança: “Espero que o Sol brilhe no dia 30”.

A escolha de Emanuel como estrela da campanha, bem como a aposta numa dupla de comediantes que vai ensaiando rábulas em jeito de revista à portuguesa para enquadrar cada sessão de esclarecimento, as referências permanentes ao gato Zé Albino (que saíram diretamente de um improviso de Rio), a insistência em dizer que, ao contrário dos seus adversários, não está ali para “berrar”, tudo isto até pode ser genuíno; mas serve uma estratégia clara: chegar onde o atual PSD, o PSD pós-2015, deixou de conseguir chegar.

Eleitoral e aritmeticamente faz sentido, acredita o núcleo duro de Rui Rio. A direção do PSD sabe que o período em que o partido teve de aplicar o memorando da troika cortou e secou raízes sociais importantes que o ligavam ao país, sobretudo entre os mais velhos. De resto, esse mesmo diagnóstico é assumido claramente na moção estratégica com que Rui Rio disputou as diretas com Paulo Rangel. É preciso voltar a entrar nesse eleitorado – e esta campanha é também pensada com esse objetivo.

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À boleia do tal mito do homem pelo povo, sério, frontal, estadista, inflexível nos seu valores e imperturbável nas suas convicções que o partido e o próprio líder se esforçam por construir, o objetivo final é voltar a fazer do PSD, como em tempos foi conhecido, o “partido mais português de Portugal”. É essa, pelo menos, a história que se quer contar. E para que ela faça sentido é preciso parecer-se popular e não hostilizar verdadeiramente ninguém.

Rio sabe que tem de falar para um eleitorado mais abrangente do que aquele que veste sempre a camisola laranja e pratica-o em cada discurso, intervenção ou declaração aos jornalistas. Mesmo quando diz que não faz oposição como os outros. “Quem vai ali, como diz o Emanuel, e pimba, pimba, pimba, não fica comprometido com nada”, explicou em Évora.

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PS está a atacar onde dói mais

Até porque as balas que António Costa vai disparando continuam a fazer mossa. A insistência do socialista em colar a Rio à direita da troika, ao congelamento do salário mínimo nacional ou à privatização da Segurança Social e da Saúde, tem obrigado o líder social-democrata a repetir, dia após dia, que o adversário “mente” e “deturpa” as propostas do PSD.

Se é verdade que a ofensiva de Costa permite alimentar a narrativa de vitimização, que o social-democrata tem usado para tentar pintar o socialista como alguém que “joga feio” e que quer a todo custo vencer as eleições, também não é menos verdade que se Rio não for capaz de neutralizar o discurso de Costa corre um risco real e assumido de hipotecar as hipóteses de vencer estas legislativas.

Olhando para os indicadores da tracking poll da Pitagórica para a TVI e CNN Portugal, que tem medido a evolução do sentido de voto todos os dias desde 13 de janeiro, se há dado que fica evidente é que, apesar da objetiva aproximação de Rui Rio a António Costa, o líder social-democrata continua a perder destacadamente precisamente em três segmentos: no eleitorado com 55 ou mais anos de idade, no eleitorado mais pobre e no eleitorado que reside no Sul do país.

ELEIÇOES LEGISLATIVAS: Rui Rio, lider do Partido Social Democrata (PSD), durante uma arruada em Faro. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de Janeiro. 25 de Janeiro de 2022, Faro TOMÁS SILVA/OBSERVADOR ELEIÇOES LEGISLATIVAS: Rui Rio, lider do Partido Social Democrata (PSD), durante uma arruada em Beja. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de Janeiro. 25 de Janeiro de 2022, Beja TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Pior: ao contrário do que acontece em todos os outros indicadores, o fosso para Costa nestes três segmentos continua praticamente ao mesmo nível desde o início da campanha. De acordo com esta tracking poll, a campanha socialista está de facto a fazer estragos na capacidade de Rio atrair os mais velhos, a classe média, média-baixa e classe baixa – o que ajuda a explicar o porquê de Costa continuar a insistir em acusar Rio de querer pôr a classe média a pagar o SNS, congelar o salário mínimo e privatizar pensões.

Em contrapartida, Rio parece ter anulado definitivamente a vantagem de Costa junto do eleitorado mais jovem, de classe mais alta, a Norte e no Centro do país. Até no eleitorado mais feminino, onde o socialista tinha larga vantagem, Rio parece estar a conseguir esbater as diferenças. Indícios de que a tal campanha menos hostil (sem “berraria”), focada numa mensagem simples (romper com a estagnação para ter melhores empregos e melhores salários, com rigor e reformismo) também estará a dar os seus frutos. Mas pode faltar o resto. E o resto pode ser importante.

Segurar onde se é mais frágil, respirar fundo graças aos indecisos

Os homens do núcleo duro de Rui Rio não ignoram as dificuldades em conseguir captar o eleitorado que fugiu ao partido. A equação não é fácil: se se quiser manter fiel ao programa eleitoral do partido, o líder social-democrata não pode simplesmente acenar com o aumento do salário mínimo sem mais ou prometer subir as pensões e outras prestações sociais – seria repetir a receita socialista que o PSD diz condenar. A alternativa, por isso, é jogar com o que o PS não tem: a “marca Rui Rio” e as características que se esforçam por lhe associar, como a credibilidade, autenticidade, seriedade ou o rigor.

“A única forma de chegarmos ao eleitorado que desconfia de nós, e esse eleitorado é sobretudo o eleitorado mais velho e aquele que sofreu mais com a troika, é jogar na credibilidade de Rui Rio”, diz ao Observador fonte da direção do partido. Mas todos têm consciência da realidade: é praticamente impossível voltar aos valores pré-2015; a solução é tentar, pelo menos, não perder por muitos votos nestes segmentos.

Em todas as sessões de esclarecimento que vai fazendo de Norte a Sul do país, Rio vai repetindo que não tem as respostas todas, que não pode “vender gato por lebre”, que “não é um super-homem que sabe tudo”, que “ninguém pode saber tudo, nem o primeiro-ministro”.

E mantém margem para tudo. Se no Alentejo lhe pedem que não ceda à “agenda extremista” do PAN, Rio não fecha a porta mas diz que não claudicará. Se em Viana do Castelo lhe pedem um homem do mar para a Secretaria das Pescas, Rio promete uma pessoa “sensata”. Se em Viseu lhe falam das escolas, Rio promete contrapor o rigor social-democrata ao facilitismo socialista para “não estragar o futuro daquelas crianças”.

ELEIÇOES LEGISLATIVAS: Rui Rio, lider do Partido Social Democrata (PSD), durante uma arruada em Faro. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de Janeiro. 25 de Janeiro de 2022, Faro TOMÁS SILVA/OBSERVADOR ELEIÇOES LEGISLATIVAS: Rui Rio, lider do Partido Social Democrata (PSD), durante uma arruada em Faro. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de Janeiro. 25 de Janeiro de 2022, Faro TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Se António Costa diz em todo o lado que o PSD quer congelar o aumento do salário mínimo, pôr a classe a média a pagar o SNS ou privatizar as pensões, Rio nega as vezes que forem precisas. “Ninguém consegue viver aceitavelmente com 700 e 800 euros”, “foi António Costa que tratou de acabar com a classe média e fazer de Portugal um país de remediados” e a “Segurança Social têm de ser pública, ponto final parágrafo”.

Tudo embrulhando numa imagem que Rui Rio começou a desenhar há dois dias, primeiro em Évora, esta terça-feira em Faro, com objetivo de tentar ridicularizar as acusações de Costa: “O que António Costa tem vindo a fazer faz-me lembrar a seguir ao 25 de abril quando diziam que os comunistas comiam criancinhas ao pequeno almoço”.

De todas as vezes que o socialista vier a repetir estas acusações, Rio vai responder com esta e outras tiradas. O sucesso de um ou de outro vai depender da capacidade do eleitorado indeciso, cada vez mais curto, virar. A direção social-democrata está convencida de que essa batalha já está ganha: a maior fatia de indecisos estava entre o eleitorado do PSD; ao dia de hoje, já se decidiu por Rui Rio. “Já virou”, convence-se um alto dirigente do partido.

ELEIÇOES LEGISLATIVAS: Rui Rio, lider do Partido Social Democrata (PSD), chega à sessão de esclarecimentos do dia, em Viana do Castelo, acompanhado de Paulo Rangel, ex-rival nas últimas diretas do partido. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de Janeiro. 23 de Janeiro de 2022, Viana do Castelo TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Atiçar o Zé Albino

Para os sociais-democratas, aliás, António Costa entregou de bandeja a vitória. Sem grandes exaltações de espírito, Rui Rio aproveitou todos os ataques dos socialistas (o episódio do “nazizinho” foi bónus) para fazer croquetes e tentar passar a imagem contrastante de um António Costa que “mente” e “deturpa”, que está “nervoso”, “desnorteado”, “sem chão” e “sem elevação”.

Aos olhos do eleitor do centrão, Rio, acredita-se na campanha do PSD, saiu como o tipo moderado, que não assusta ninguém. Se isso não serviu para convencer o eleitorado que fugiu do partido depois da troika, pelo menos terá contribuído para que não se instalasse um pânico generalizado sobre o que pode representar uma governação social-democrata. Esse campeonato, a direção social-democrata entende que já venceu. Agora é contar os dias que faltam para 30 de janeiro.

Tudo o resto que possa acontecer nestes próximos dias é para o “boneco”, que é o mesmo que dizer que serve apenas para alimentar o carnaval da campanha e os telejornais. O partido está concentrado em não cometer erros e em fazer as três últimas demonstrações de força em Leiria, Porto e, finalmente, Lisboa.

As referências ao gato Zé Albino, que começaram por resultar de um improviso de Rio, acabaram por ser úteis ao líder social-democrata precisamente por isso: de forma bizarra, tornou-se um tema de campanha, esvaziou parte da tensão eleitoral, desviou as atenções, deu-lhe um ar simpático e tornou toda a discussão mais estéril, ao ponto de Rio usar o exemplo de um gato para sugerir a António que não perdesse “tantas oportunidades” de ficar “calado“.

A derradeira provocação chegou ao décimo dia de campanha: “Procurei até dar um certo tom de humor, aqui, acolá. Acho que é importante, temos de andar bem dispostos, não vale a pena andarmos aqui todos à pancada uns aos outros. Lutamos com ideias, mas podemos andar bem dispostos. Portanto, era a última coisa que queria, sinceramente, é que a campanha acabasse dessa forma. António Costa está na iminência de perder as eleições. Podia perdê-las com dignidade”. Envelhecerão mal as palavras de Rio?

ELEIÇOES LEGISLATIVAS: Rui Rio, lider do Partido Social Democrata (PSD), durante uma arruada em Beja. As eleições legislativas realizam-se no próximo dia 30 de Janeiro. 25 de Janeiro de 2022, Beja TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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