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Sismo de Marrocos não deverá ter relação com os pequenos abalos sentidos em Portugal: "Ocorrem em contextos tectónicos muito distintos"

Sismo de Marrocos não é motivo de preocupação para Portugal e não deverá ter relação com os episódios sentidos terça-feira. No futuro, espera-se que o país seja atingido por abalo da mesma magnitude.

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Nas últimas 24 horas, Marrocos já sofreu 61 abalos de terra. Uns são pequenos sismos. Outros réplicas do inesperado e raro, o maior de sempre no país, sentido por volta das 23h11 desta sexta-feira, com uma magnitude de 6.9 na escala de Richter, com epicentro na Cordilheira do Atlas, a cerca de 70 km a sul de Marraquexe, que já fez mais de mil mortos. São números provisórios que deverão subir de forma significativa nas próximas horas.

Em Portugal, as ondas sísmicas deste terramoto marroquino também foram sentidas (tal como em Espanha e no Norte de África), com relatos nos distritos de Faro, Lisboa, Setúbal, Coimbra e Porto. Poderá esta ocorrência estar ligada com os episódios sísmicos que ocorreram no nosso território esta semana? Apesar de ainda ser cedo para o confirmarem, os especialistas acreditam que não.

Fernando Carrilho, sismólogo do IPMA, explicou ao Observador que, “à partida”, não houve uma correlação entre os sismos sentidos nas zonas de Olhão, Albufeira, Évora e Arouca, na passada terça-feira, e o sismo sentido esta sexta-feira no país africano, uma vez que os contextos tectónicos em que ocorreram são “muito distintos”.

Quatro sismos num dia. “Devemos estar atentos: Portugal está numa região sismicamente ativa, o que representa um perigo real na nossa vida”

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"O que acontece é que as ondas sísmicas se propagam ao longo da estrutura. E nós, quando estamos próximos do epicentro, sentimos por cá uma propagação."
João Fontiela, sismólogo

Também o geólogo João Duarte, em conversa com o Observador, afirmou que, em princípio, não há uma relação direta, mas que só depois de estudarem os últimos dias o poderão afirmar com certeza. “Sempre que há um pico na sismicidade não implica que vá acontecer um sismo grande. A posteriori, se calhar, é possível dizer que sim, que aqueles sismos que ocorreram já estavam a dar um sinal que havia uma destabilização das tensões. Mas sempre que há muitos sismos, dizer que vai haver um sismo grande, é isso que nós não conseguimos dizer”, explicou.

“Claro que nós agora vamos estudar os últimos dias. Não estou a dizer que não há ligação, mas se calhar pode haver num registo algum sismo premonitório. Ou seja, haver uma sequência de sismos, mas neste momento não conseguimos dizer”, acrescentou.

Porque é que o abalo foi sentido em Portugal?

Uma vez que o sismo ocorreu na cordilheira do Atlas, uma estrutura tectónica que se encontra dentro da Placa Africana (onde se situa Marrocos), longe do limite com a Placa Euroasiática (onde está Portugal) — a cerca de 550 quilómetros —, não há uma interferência com a segunda que possa servir de motivo para que o abalo tenha sido sentido em território português.

Segundo o sismólogo João Fontiela, especialista do Instituto de Ciências da Terra da Universidade de Évora, o facto de termos sentido o sismo “tem a ver mesmo com a natureza do sismo, com a propagação da onda sísmica.”

"Já houve sismos desta magnitude em Portugal e vão voltar a haver, não podemos é dizer que agora como aconteceu este vai haver um próximo."
João Duarte, geólogo

“O que acontece é que as ondas sísmicas se propagam ao longo da estrutura. E nós, quando estamos próximos do epicentro, sentimos por cá uma propagação. As ondas sísmicas vão-se propagando”, explicou ao Observador.

Desta forma, não há também relação entre as placas Americana (onde está, como o nome indica, o continente americano, e que que se afasta da Europa e de África, cavando um fosso a meio do Atlântico) e Euroasiática e o tremor de terra naquela zona de Marrocos: “A parte da placa Euroasiática também está descartada porque está muito a norte. Portanto, é um sistema muito próprio e que limita completamente o sistema das montanhas do Atlas. As montanhas do Atlas, como já tinha referido, é uma estrutura tectónica regional, pode-se dizer assim. É uma estrutura regional que tem sua expressão, uma grande expressão, digamos, de ser regional e que vai através de Marrocos e estende-se ao longo da Axial. Então, é um sistema muito longo”.

Ou seja, é um zona sísmica conhecida, mas que não está no limite de nenhuma das grandes placas — as maiores falhas —, onde ‘nascem’, por assim dizer, os grandes sismos. Daí que não se esperasse, naquela zona, sismos acima de 5 a 6, como costuma acontecer, e este se tenha tornado no maior terramoto em Marrocos desde que há registos, ou seja, em 120 anos.

Prevê-se um sismo em Portugal no futuro?

Sobre se, no futuro, Portugal poderá ser atingido por um sismo da mesma magnitude, ou superior, os especialistas acreditam que seja possível acontecer, tal como ocorreu em 1531, 1755 e 1969. Apesar de não se conseguir prever.

Contudo, o facto de ter havido um abalo em Marrocos não é “nenhuma indicação” de que vá haver um igual no nosso território. “Só se estivessem muito próximos ou nas mesmas falhas. Este sismo ocorreu na outra placa, é difícil que haja uma ligação direta”, explicou o geólogo João Duarte.

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“Como a velocidade de movimento das placas é lento, o intervalo entre os sismos tende a ser grande, demora mais tempo a acumular as tensões. A resposta direta é: já houve sismos desta magnitude em Portugal e vão voltar a haver, não podemos é dizer que agora como aconteceu este vai haver um próximo“, afirmou.

“Esse assunto é independente. Devemos assumir que um dia pode haver. E em principio as construções em Portugal têm capacidade para aguentar sismos destes, pelo menos uma parte significativa. Ao mesmo tempo que dizemos que pode haver um sismo destes, também temos obrigação de dizer que há muito que já foi feito e que as casas estão preparadas para aguentar mas, obviamente, nunca nos devemos desleixar e devemos reforçar os edifícios”, acrescentou.

Em Portugal o abalo foi sentido com intensidade máxima III/IV nos distritos de Faro, Lisboa e Setúbal.

O último grande sismo em Portugal aconteceu a 28 de fevereiro de 1969, quando eram 3h41 da madrugada, teve o seu epicentro ao largo de Sagres e uma magnitude calculada em 7.9, mais um grau que o de Marrocos, o que significa uma muito maior libertação de energia. Atingiu todas as regiões de Portugal (sentindo-se sobretudo no Algarve e na região Sul e também Lisboa), norte de Marrocos e parte de Espanha, mas como aconteceu no mar e a maior profundidade, fez apenas 13 vítimas mortais.

Já o grande sismo de 1755, teve lugar no Dia de Todos os Santos, 1 de novembro, às 9h40, e dele resultou a destruição de quase toda a baixa da cidade de Lisboa, bem como do litoral algarvio (na altura muito pouco povoado) e da zona de Setúbal. Terá sido um dos maiores terramotos da história, quando ainda não havia medições, tendo atingido magnitudes entre 8,7 a 9 na escala de Richter. Mas o que dizimou a cidade foi o tsunami que se lhe seguiu — os registos falam em ondas superiores a 20 metros que entraram pelo Tejo e inundaram a capital. Os historiadores apontam seguramente para mais de 10 mil mortos, resultado da destruição, das inundações e dos incêndios — muitas pessoas estavam nas igrejas, num dia Santo, com velas acesas e os fogos alastraram-se. Quanto ao epicentro, continua sem haver certezas, mas tudo aponta para o mesmo local do de 69, ao largo de Sagres, no banco de Gorringe, um cordilheira montanhosa subaquática, na confluências das placas africana e euroasiática.

Na última atualização, o sistema europeu de controlo de sismos indica que o epicentro do sismo de Marrocos ocorreu a 12 quilómetros de profundidade, na Cordilheira do Atlas, a 61 quilómetros da pequena cidade de Oukaïmedene.

Em Portugal, segundo os dados o IPMA, o abalo foi sentido com intensidade máxima III/IV (escala de Mercalli modificada) nos concelhos de Castro Marim, Faro, Loulé, Portimão, Vila Real de Santo António (Faro), Cascais, Lisboa, Torres Vedras, Vila Franca de Xira (Lisboa), Almada, Setúbal e Sines (Setúbal)”.

“Foi ainda sentido com menor intensidade nos concelhos de Coimbra (Coimbra), Albufeira, Olhão, Silves (Faro), Alenquer, Loures, Mafra, Oeiras, Sintra, Amadora, Odivelas (Lisboa), Santo Tirso, Vila Nova de Gaia (Porto), Santiago do Cacém, Seixal e Sesimbra (Setúbal), referiu o IPMA.

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