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TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Um Livre entre o suspiro por Pedro Nuno e o medo de ser o novo PAN

Teve o seu melhor resultado nas legislativas e sonha com outros voos: chegar ao poder com Pedro Nuno, crescer nas autarquias e ajudar a definir Belém. Mas divisões internas trazem fantasma da implosão

Entrou pela primeira vez no Parlamento às costas de Joacine Katar Moreira. E mergulhou num pesadelo que ia fazendo implodir o partido. Recuperou e fez eleger Rui Tavares, num cenário ingrato, o de maioria absoluta, em que contava pouco ou quase nada. Depois, quando toda a esquerda minguou, conseguiu fazer eleger quatro deputados, um resultado notável atendendo ao passado recente. Mas, num quadro de grande imprevisibilidade, com um Governo de direita, o parceiro natural (o PS) a fazer pela vida, o adversário de eleição (o Chega) insuflado, e os três num clima pré-eleitoral que não favorece um partido com o perfil do Livre, o partido liderado por Rui Tavares vai sonhando em ser mais qualquer coisa. Mas o medo assumido de cair (novamente) nos erros de outros partidos emergente mantém vivo o fantasma da implosão.

Foi isso mesmo que ficou evidente nos primeiros dois dias do XIV do Congresso do Livre. Num partido a sofrer com as naturais dores de crescimento, depois do drama chamado Joacine Katar Moreira (“brutalmente traumático”, chamou-lhe Rui Tavares), depois de um processo turbulento na escolha de Francisco Paupério como cabeça de lista para as europeias, o Livre chegou a esta reunião magna a discutir (durante muito tempo) regulamentos internos, com muitas acusações de tentativa de controlo interno por parte da linha oficial. E a linha oficial reagiu lembrando o que aconteceu a outros partidos que, tendo mergulhado em guerras internas, desbaratou o que tinha conquistado no Parlamento – o PAN, leia-se. No Pavilhão Municipal da Costa da Caparica, os recados multiplicaram-se nesse sentido.

“Já vimos partidos que crescem e que se perdem em lutas pelo poder. E perdem o apoio das pessoas. Essa não será a história do Livre”, arrancou Paulo Muacho, deputado, fundador e uma das caras mais reconhecidas de um Livre que continua a viver muito da imagem (e à imagem) de Rui Tavares. “Não nos podemos perder em disputas estéreis”, pediu Isabel Mendes Lopes, líder parlamentar do Livre. “Temos muito mais a dar à política portuguesa. Saibamos fazê-lo”, frisou Tomás Cardoso Pereira, chefe de gabinete do partido na Assembleia da República, a partir do palco. “Estes pequenos partidos facilmente podem implodir. Temos de estar vigilantes”, reconheceu ao Observador Ricardo Sá Fernandes.

O advogado e fundador do Livre disse mais: é preciso fazer tudo para garantir que o partido não é tomado por dentro ou que morra à custa de disputas internas. “As pessoas são terríveis umas com as outras. Tenho noção do que é a natureza humana. Mas um partido com esta luminosidade do Livre, com este espírito democrático, com esta perspetiva de discutir tudo, é um partido que tem, à partida, do ponto de vista ideológico e regulamentar, condições para resistir. Mas temos que de noção de que esse risco existe”, sublinhou. A verdade é que sempre que houve casos de eleições internas com algum tipo de divergência – Joacine e Paupério –, o Livre acabou a braços com crises internas; o reconhecimento desta instabilidade (interna e externa) teve muitas vezes presente nas várias intervenções que se foram ouvindo.

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Coube, claro, a Rui Tavares, enquanto pai-fundador do Livre, fazer uma intervenção de fundo no Congresso para tentar lembrar a todos os presentes que, algures no tempo, o partido nasceu precisamente para ser uma plataforma de convergência, aberta e plural. “Fomos nós que criámos isto”, foi repetindo o historiador. Nas entrelinhas: não destruam o que demorou tanto a construir. Mais à frente, aliás, Tavares diria mesmo que, depois de ter mostrado ser um “partido viável”, que consegue eleger e corresponder no Parlamento, o Livre precisa agora de provar que é um “partido fiável“, que não vive refém das questiúnculas internas, como métodos “coerentes” e que não sejam “o assunto principal”, porque isso impede o partido de “falar de todos os outros assuntos que importam”.

Em entrevista ao Observador, a partir do Congresso do Livre, Rui Tavares alertou precisamente para esse risco. “Partidos que foram de deputado único para quatro deputados ficaram muito perdidos, ensimesmados no discurso dentro do partido, e voltaram para trás. E até tendo a possibilidade de evoluir para uma ecologia mais ampla, ficaram muito num nicho mais ambientalista e animalista. É bom a gente aprender com os nossos erros e também com o percurso dos outros partidos, e enquanto aprendermos, enquanto houver gente que lembra isso, acho que estamos a vacinar-nos contra essa possibilidade.”

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O líder Pedro Nuno, as autárquicas e o sonho de Belém

Não foi apenas o medo de repetir erros que animou os primeiros dias de Congresso do Livre. Depois de crescer de um para quatro deputados, existe agora uma vontade assumida de entrar num novo ciclo de crescimento – o do poder. Algo que só acontecerá, naturalmente, se o PS e Pedro Nuno Santos chegarem rapidamente ao poder. Atendendo ao que foi sendo dito pelos principais dirigentes do Livre, parece ser esse, de resto, o plano e a ambição do partido.

Logo à chegada ao Congresso, por entre críticas aos adversários do partido à direita nas europeias – Sebastião Bugalho e António Tânger Correia, Tavares assumiu que o partido vai agora preparar a sua nova fase da afirmação: transformar-se numa força com vocação de poder. “As legislativas podem ocorrer antes das autárquicas ou depois. O que é que o Livre tem que ter? Tem que estar preparado para governar. Ou seja, tem que passar de ser um partido que é de projeto e de proposta, que sempre fomos, mas de implementação, de poder e de governação”, disse. Mais tarde, em cima do palco, repetiria a mesma ideia-chave: “Temos de nos preparar para governar este país.”

A admiração política por Pedro Nuno Santos nem sequer é segredo. E essa convergência à esquerda, sobretudo depois da vitória da Aliança Democrática e do crescimento do Chega nas últimas legislativas, pode mesmo ser uma inevitabilidade. “Acho que as lideranças à esquerda atuais, a Mariana Mortágua, o Paulo Raimundo, o Pedro Nuno Santos, a própria liderança do Livre, têm um alinhamento, uma capacidade de construção conjunta, maior do que havia antes.”

Apesar de considerar que seria um péssimo sinal para o país entrar numa fase de micro-ciclos políticos, e de não esconder que o partido precisa de tempo para ganhar dimensão e escala, Rui Tavares assume que o objetivo é mesmo preparar o partido para um cenário de eleições antecipadas a curto prazo. “Olhando para a maneira como o país está e sendo nós progressistas e ecologistas e querendo virar o ciclo político, tenho noção de que estamos a quebrar um tabu e que aquilo que estamos a dizer é extremamente audaz e ambicioso.”

Horas antes, logo no arranque da reunião magna, a partir do palco, Isabel Mendes Lopes apontou no mesmo sentido: o partido deve estar pronto para “mudança de ciclo para o próximo governo das esquerdas. Não podemos descartar o cenário de eleições antecipadas. E nós estamos preparados. O Livre pode e deve ser força de somar. Temos uma grande responsabilidade.”, defendeu a líder parlamentar do partido. É o Livre apostado numas eleições legislativas um horizonte próximo.

A mesma Isabel Mendes Lopes, aliás, já tinha assumido, em entrevista ao Observador, no programa “Vichyssoise”, que antecipa uma crise política em breve. “Acho que para esta legislatura chegar ao fim tem de haver vontade do Governo e não é isso que temos visto. Temos visto um Governo apostado em minar tudo aquilo por onde passa, sem vontade de dialogar e sem vontade que a legislatura chegue ao fim e consideramos que de facto o Governo está já em campanha eleitoral a preparar as próximas eleições”, defendeu a líder parlamentar do Livre.

Mas Mendes Lopes assumiria mais a partir do palco do Pavilhão Municipal da Costa da Caparica: o Livre está empenhado em começar já a preparar uma candidatura conjunta à esquerda para tentar conquistar a Presidência da República em janeiro de 2026. “Há quase 20 anos que a direita ocupa o Palácio de Belém. A esquerda não se terá mobilizado como se devia. É preciso fazer um trabalho em conjunto com outras forças progressistas”, sugeriu a deputada do Livre. Recorde-se que nas últimas presidenciais, o partido acabou por apoiar Ana Gomes, que contou com o apoio assumido de Pedro Nuno Santos e de outras figuras do PS mais à esquerda. Sem efeito: Ana Gomes, Marisa Matias e João Ferreira acabaram a disputar o espaço das esquerdas.

Antes do desafio das presidenciais, o partido terá de enfrentar as eleições autárquicas de 2025. Nesta frente, que também foi referida em vários discursos, o Livre – que elegeu em Lisboa, Porto e Setúbal – assume que o objetivo é conseguir ser mais do que um partido que existe exclusivamente nos grandes centros urbanos, no litoral do país. Ganhar reconhecimento local para conquistar dimensão nacional – estável e duradoura. Algo que, à esquerda, só o PS e o PCP (agora em perda) conseguiram.

“É importante o Livre não cometer o erro em que alguma esquerda por vezes cai de tratar as autárquicas como eleições menores. Com o empenho devido, o Livre conseguirá aproveitar esta oportunidade para alargar a sua implantação local e, com isso, ajudar a travar o ímpeto da extrema-direita e começar a fazer nascer uma dinâmica progressista e ecologista que é a forma mais eficaz de combater o avanço do nacional-populismo que ameaça Portugal, a Europa e o mundo”,  resumiu Tomás Cardoso Pereira.

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