São vários os estudos empíricos que provam que as ações são a classe de ativos que melhor rentabilidade proporciona no longo prazo, isto apesar de ser a classe mais volátil. As conclusões d’ O Triunfo dos Otimistas, livro publicado em 2002 pelo economista Elroy Dimson — com Paul Marsh e Mike Staunton —, baseado no estudo de 101 anos dos retornos dos investimentos globais, são prova disso. Ou Stocks for the Long Run, uma publicação sobre investimentos de Jeremy Siegel, lançada em 1994. “São mais de 200 anos de dados de retornos em várias classes de ativos”, explicou Emília Vieira, CEO e fundadora da Casa de Investimentos. Ou ainda o estudo Stocks,Bonds, Bills and lnflation de Roger G. Ibbotson, da Universidade de Yale, a que Emília se refere como A Longa Curva da Prosperidade que demonstra que prosperou mais quem investiu nas ações, a classe de ativos que melhor remunerou o capital.
A questão, salienta Emília Vieira, é que quando estamos a falar em investir a curto prazo, obviamente as ações têm muito mais risco porque são mais voláteis. Nesse cenário, se o investidor quiser sair, pode não conseguir vender e ficar positivo no seu investimento.
Volatilidade das ações pode ser positiva
Na Masterclass, Emília Vieira esclarece que a noção de risco tem, mais do que tudo, a ver com a diferença entre o preço a que a ação é comprada e o valor que o título tem. “É claro que volatilidade é a variação que a ação vai ter. Mas essa é uma consequência da liquidez. Uma consequência do facto de estar todos os dias a cotar no mercado e de haver milhões de pessoas que diariamente compram e vendem. E que tanto pesa na cotação final quem está a agir e sabe o que está a fazer, como quem está a jogar, a especular e compra e vende na expectativa de um ganho rápido”. Ou seja, para a CEO, a volatilidade não é uma boa medida de risco, apesar de admitir que, para a maior parte dos investidores, é uma dimensão assustadora e causadora de desconforto. “Na verdade, depende da postura. Se o investidor associar aquele ativo a uma fatia que continua a ter da empresa, apesar de ela variar, continua a ter o interesse económico naquele negócio. Ter muita volatilidade pode ser uma oportunidade para voltar a comprar mais barato, se cair, ou vender mais caro se, entretanto, a volatilidade for no sentido da subida”. Daí, reforça Emília Vieira, ser importante investir apenas se soubermos o que estamos a fazer. “Nessa altura, investimos com muito menos risco”.
A CEO avança mesmo que os investidores, em março de 2020 — face ao contexto de pandemia e o facto de o mercado ter chegado a variar 10% entre máximo e mínimo diário —, vendiam de qualquer forma. “Esta foi uma altura extraordinária para comprar valor. A perceção que as pessoas tinham era de que aquele momento era extraordinariamente arriscado quando, na verdade, era um excelente momento porque comprávamos mais barato”. Basicamente, diz Emília Vieira, o risco era muito menor do que a perceção que o investidor poderia ter.
Exemplo disso são ações de empresas como a Ryanair, Booking.com, Airbus, entre outras. “As empresas ligadas ao turismo e aviação tiveram a maior crise da sua história, o que nos permitiu reforçar posições e comprar extraordinariamente barato ativos que já vendemos, em alguns destes casos, e fizemos mais-valias consideráveis”. Portanto, segundo a CEO, a perceção que as pessoas têm de risco a todo o momento não deve ser ditada pela volatilidade. “Por isso é que passar este conhecimento às pessoas é muito importante para nós, Casa de Investimentos, porque traz muita tranquilidade”.
Resumindo: volatilidade não significa risco, que deve ser visto como a probabilidade de perda permanente de capital. “Quem estava muito descansado nesse período era quem tinha investido em obrigações. Mas, na verdade, foram e continuam a ser os ativos mais arriscados porque é onde a política monetária, os bancos centrais e os governos vão atuar, baixando o preço do dinheiro e tornando esses ativos maus investimentos durante um período longo”.
Espaço temporal é fundamental na análise de risco dos investimentos
Emília Vieira admite que, quando olhamos para o dividendo que uma empresa paga ao longo de 30 anos, há, de facto, grande incerteza. “Mas é onde temos o ativo em que os interesses estão muito mais alinhados entre gestores e donos das empresas”.
“A questão determinante na análise de risco é o tempo. É o espaço temporal. É extremamente arriscado se investirmos para a próxima semana, ou mês, na Google ou Amazon. Mas se o fizermos para os próximos cinco ou 10 anos, o risco baixa de uma forma brutal”.