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O que é a insuficiência cardíaca?

É uma doença grave e crónica que não tem cura. Caracteriza-se pela incapacidade do coração em bombear o sangue para o corpo na quantidade necessária ou de relaxar e receber o sangue novamente para ser oxigenado nos pulmões e voltar a fazer o circuito normal — essencial para fornecer os nutrientes e o oxigénio necessário para o bom funcionamento do organismo.

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É grave? O que provoca no nosso corpo?

A insuficiência cardíaca pode provocar várias complicações. “Alterações na função renal e hepática [fígado],  arritmias, formação de coágulos sanguíneos, que podem levar a embolia pulmonar ou a acidentes vasculares cerebrais (AVC)”, diz a cardiologista Maria José Rebocho. Pode ainda ser responsável por edema pulmonar (excesso de líquido nos pulmões). Na prática, a insuficiência cardíaca acaba por ser responsável por mais mortes do que alguns tipos de cancro. Pode ainda levar a hospitalização.

 

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Quais os sinais de alerta?

Tonturas, desmaios, cansaço diferente do habitual – que começa a impossibilitar tarefas do dia a dia, como tomar banho ou vestir-se – e inchaço nas pernas devem ser valorizados e motivar uma ida ao médico.

“Mas é difícil para as pessoas valorizarem o cansaço extremo”, explica Maria José Rebocho. “Até porque a dificuldade em respirar também pode ser associada a outras doenças respiratórias.”

Sentir o coração a bater mais rapidamente de forma permanente pode ser um sinal de que este órgão “está a tentar compensar a incapacidade de contração para bombear o sangue”.

 

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Como se faz o diagnóstico da insuficiência cardíaca?

“Há uma percentagem muito elevada de pessoas cujo primeiro diagnóstico é feito numa ida à urgência, numa fase já muito descompensada”, alerta Maria José Rebocho. A “porta de entrada” destes doentes deverá ser feita, idealmente, através da medicina geral e familiar.

Existe uma análise ao sangue muito importante para avaliar a insuficiência cardíaca, a NTproBNP, que ainda não é comparticipada pelo SNS e que consegue diagnosticar a doença de forma rápida e eficaz. “Se a análise for negativa, os sintomas não são de uma possível insuficiência cardíaca, o que faz com que o médico possa avaliar outras hipóteses. Se for positiva, deve então orientar e pedir exame específico, ecocardiograma com doppler, que ajuda a diferenciar o diagnóstico”, explica a cardiologista.

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Quais os fatores de risco?

Além da idade e da hereditariedade, fatores de risco que não podem ser modificados, as grandes causas que levam a que o coração tenha problemas na sua contração “são as doenças das artérias coronárias e uma pressão arterial elevada que não foi devidamente controlada e que leva ao esforço do coração durante anos e anos”, diz Maria José Rebocho. Mas existem outros fatores de risco:

  • Tabaco;
  • Álcool;
  • Diabetes;
  • Obesidade;
  • Sedentarismo.
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Como se trata a insuficiência cardíaca?

Apesar de não ter cura, nos últimos anos têm surgido mais formas de tratamento, que além de melhorarem os sintomas, têm também impacto na qualidade de vida.

Normalmente, a medicação é prescrita para tratar os sintomas e para modificar o percurso da doença, diz Maria José Rebocho. “Um dos medicamentos adequa-se aos dois tipos de insuficiência cardíaca e é um diurético [para aumentar o volume de urina ajudando a eliminar o excesso de líquidos no organismo]. E há dois medicamentos específicos cuja função ajuda a melhorar a contração do coração e outro (betabloqueante) que ajuda na diminuição da taquicardia e da frequência cardíaca do doente.”

Segundo as recomendações científicas, “sempre que há o diagnóstico e a indicação para a toma da medicação, esta deve ser logo iniciada com doses progressivas que vão sendo ajustadas conforme o doente vai sendo acompanhado”. Alguns centros de saúde trabalham também com Clínicas de Insuficiência Cardíaca, geridas por especialistas em Medicina Interna e Cardiologia.

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Que apoio dão essas clínicas de insuficiência cardíaca aos doentes?

Nestas clínicas, essenciais no seguimento destes doentes, “as pessoas podem fazer medicação pela veia para melhorar a contração do coração ou a libertação de líquidos”, diz Maria José Rebocho. Os enfermeiros ajudam também a verificar se os doentes tomam corretamente a medicação e tiram dúvidas e dão explicações sobre alimentação e exercício físico mais recomendado.

Podem também ter o apoio de assistentes sociais, nutricionistas e psicólogos e orientar os doentes à distância, através de um contacto telefónico direto, quando surgem dúvidas”.

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Que cuidados devem ter os doentes?

Os doentes devem seguir estilos de vida saudáveis:

  1. Ter uma alimentação saudável com especial atenção ao consumo de sal. Recomenda-se que não comam fritos, comam mais peixe e sigam a dieta mediterrânica;
  2. Exercício físico moderado regular. A Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca (AADIC) tem uma aula online gratuita uma vez por semana para os seus associados através da plataforma Teams;
  3. Controle de peso regular;
  4. Não fumar e não beber álcool;
  5. Não interromper a medicação. Uma das causas principais da descompensação da doença é a toma inadequada e a interrupção dos medicamentos. “Por cada internamento por descompensação, a situação clínica do doente vai-se agravando e é isso que é preciso evitar”, explica a cardiologista Maria José Rebocho.
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A Insuficiência Cardíaca afeta muita gente?

Na Europa, cerca de 15 milhões de pessoas têm insuficiência cardíaca e 80% dos doentes têm mais de 65 anos. “Esta é uma doença que está a aumentar, mais do que o enfarte agudo do miocárdio e o AVC isquémico porque temos uma população que está a envelhecer”, explica Maria José Rebocho.

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Portugal não tem bons resultados no que respeita a anos de vida saudável, muito devido a alguns fatores de risco. “Temos uma grande incidência de diabetes [9,1% em Portugal, quando a média da OCDE é 7]; de consumo de álcool, de excesso de peso e de obesidade.” Dados da Direção-Geral da Saúde “indicam que temos 42,6% de pessoas hipertensas em Portugal. Isto tudo somado demonstra que temos pior qualidade de vida do que outros países da Europa.”

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É uma doença desconhecida para a maioria dos doentes em Portugal?

Um projeto-piloto conduzido pela ULS Matosinhos concluiu que mais de 90% dos doentes identificados em 22 concelhos não estavam diagnosticados previamente. E segundo o estudo Phortos (Portuguese Heart failure Observational Study), um em cada seis portugueses acima dos 50 anos tem insuficiência cardíaca, o que resulta numa estimativa de mais de 700 mil pessoas a viver com esta síndrome (conjunto de sinais e sintomas.