“O seu futuro está à beira de mudanças significativas”. É o começo de um vídeo que circula nas redes sociais e que mostra Cristiano Ronaldo a dar uma entrevista no estádio do Al-Nassr, na Arábia Saudita.
O capitão da seleção nacional deixou a Europa e rumou à Arábia Saudita em janeiro de 2023. Foi o primeiro de uma longa lista de jogadores de renome (como Neymar, Firmino e Benzema) e de treinadores (como Jorge Jesus) a passar a representar clubes sauditas.
No rodapé da suposta entrevista partilhada nas redes sociais, aparentemente emitida pela CNN Portugal, pode ler-se: “O projeto Cristiano Ronaldo. Isto assustou o Governo e os grandes bancos”. E, em poucos minutos, Cristiano Ronaldo promete uma “oportunidade maravilhosa” para “mudar a vida” de quem assiste.
Mas o vídeo não é verdadeiro, trata-se de uma manipulação, com recurso a Inteligência Artificial. Alguns detalhes saltam logo à vista numa primeira análise: o internacional português surge a falar em português perante uma jornalista que não é da estação portuguesa, e que aparenta ser da Arábia Saudita, e expressa-se misturando o português europeu com o português do Brasil. Além disso, é percetível que o áudio da entrevista não corresponde aos movimentos dos lábios de Cristiano Ronaldo.
“Vamos ao assunto, nós, os proprietários do clube” — e aqui vale a pena assinalar que tanto o Al-Nassr, como o Al-Ittihad, o Al-Hilal e o Al-Ahli foram comprados pelo Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita — “queremos tornar a vida dos portugueses um pouco mais fácil. Não estou a falar de quantias banais como 500 euros. Quero dizer os meios que podem ajudar a antecipar a aposentadoria e garantir segurança financeira.”
No mesmo vídeo, o atleta português, assegura alegadamente que a sua proposta não é “uma fraude” e que é diferente da de muitos “golpistas da internet”. “Para começar, eu sou o Cristiano Ronaldo. Não vou prometer a você milhões em uma noite como outros. No entanto, ganhar mil euros por dia é totalmente possível.”
Cristiano Ronaldo pede voluntários para testar um software, que utilizaria uma “potência de computação 10 mil vezes maior do que um computador normal”. As indicações são simples: “Se estiver a ver este vídeo, o seu dispositivo é compatível com a plataforma”, “dedique algum tempo a visitar o site, insira os seus dados e um gerente entrará em contacto”. A “oportunidade” é dada a “apenas 500 pessoas“, a troco de uma “breve avaliação”.
Numa análise mais aprofundada constata-se que as imagens originais são de uma entrevista concedida por Cristiano Ronaldo ao canal da Liga Saudita, que mostram o atleta português a usar a mesma roupa, no mesmo estádio, a ser entrevistado pela mesma entrevistadora. Na entrevista que aconteceu há mais de um ano, não há qualquer menção a investimentos de mil euros por dia, nem é exibido um rodapé da CNN Portugal. Cristiano Ronaldo limta-se a discutir o futebol na Liga Saudita e o seu futuro no Al Nassr.
Questionada pelo Observador, fonte da CNN Portugal afirma que não é a primeira vez que conteúdos do canal de televisão acabam por ser manipulados e transmitidos nas redes sociais. A suposta entrevista a Cristiano Ronaldo é considerada “obviamente falsa” e um conteúdo manipulado, em que é usada abusivamente a marca da CNN e a imagem do próprio jogador.
Conclusão
Uma suposta entrevista de Cristiano Ronaldo à CNN Portugal a prometer “mil euros por dia” num novo projeto de investimento está a ser partilhada no Facebook. Mas trata-se de um vídeo manipulado, a entrevista original foi dada à Liga Saudita, em inglês e não em português como aparece nas redes sociais, e em nenhuma circunstância há referências a investimentos que podem render “mil euros por dia”, com a ajudar de um novo software. Questionada pelo Observador, a CNN Portugal garantiu que o vídeo é “obviamente falso”.
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.