Um utilizador do Facebook pôs a circular uma reportagem de uma televisão americana onde é noticiado o impedimento de doação de plasma convalescente por parte de quem tenha tomado uma vacina contra a Covid-19. O conteúdo, sem data ou identificação do órgão de comunicação social, surge com uma frase que levanta dúvidas sobre a segurança das vacinas: “Se quem foi vacinado não pode doar sangue é porque algo está profundamente errado”, escreve este utilizador.
Este conteúdo chega agora a Portugal depois de já se ter tornado viral nos Estados Unidos, o que levou a Cruz Vermelha a emitir um comunicado onde clarifica esta questão. Em primeiro lugar, é preciso explicar que em nenhum momento é dito na reportagem que quem tomou uma das vacinas contra a Covid-19 está impedido de doar sangue. As limitações estão relacionadas com o plasma convalescente, um dos elementos do sangue que tem sido usado em alguns tratamentos de doentes que desenvolveram uma forma grave de Covid-19.
As doações de plasma (apenas plasma e não plasma convalescente) são usadas para ajudar a tratar distúrbios hemorrágicos, doenças graves do fígado, problemas de coagulação e perda de sangue após traumas ou cirurgias graves. Já o plasma convalescente usa o sangue de pessoas que se recuperaram de uma doença para ajudar outras pessoas que estão a lutar ativamente contra essa doença”, explica à Reuters Jenelle Eli, Diretora de Comunicação da Cruz Vermelha Americana.
Estabelecida que está a diferença entre estes dois elementos do sangue, importa dizer que, de facto, a Cruz Vermelha americana está a bloquear as dádivas de plasma convalescente por parte de quem já foi vacinado, apesar disso o comunicado da instituição deixa claro que “estes indivíduos podem doar outros produtos sanguíneos, como o sangue completo e plaquetas”.
O impedimento levado a cabo pela Cruz Vermelha em nada está relacionado com a alegada falta de segurança das vacinas, mas sim com a necessidade de “garantir que o plasma convalescente recolhido de doadores contem anticorpos diretamente relacionados com as respostas imunológicas à infecção por SARS-CoV2 e não com a resposta dada pela vacina”. No fundo, as autoridades de saúde querem garantir que os anticorpos foram criados pelo organismo dos doentes e não pela vacina, uma vez que ainda não é claro que tenham o mesmo efeito.
Em Portugal também não há restrições à dádiva de sangue por parte de quem já tomou uma vacina contra a Covid-19. Contactado pelo Observador, o Instituto Português do Sangue e Transplantação (IPST) explica que “desde que sem sintomas, quem já tomou a vacina contra a Covid-19 está apto para doar sangue sem nenhum período de suspensão”.
A entidade que gere as reservas de sangue em Portugal explica ainda que “há outras vacinas que impedem a dádiva de sangue de forma temporária, uma vez que são vacinas vivas”, dando como exemplo “a vacina contra a febre amarela, a vacina contra o sarampo, papeira e rubéola (VASPR) e a vacina contra a Hepatite B”. Nenhuma das vacinas contra a Covid-19 a serem administradas “são vivas”, por isso “não há diferenças de critério de elegibilidade de dadores”.
Conclusão
Ao contrário do que escreve este utilizador de Facebook, ninguém que tenha tomado a vacina contra a Covid-19 está impedido de doar sangue. O Instituto Português do Sangue e Transplantação explica que “desde que sem sintomas, quem já tomou a vacina contra a Covid-19 está apto para doar sangue sem nenhum período de suspensão”.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.