Durante mais de dois minutos, vários agentes do FBI carregam e colocam caixas no interior de um camião. As legendas que acompanham o vídeo, já partilhado milhares de vezes no Facebook, garantem que dentro das embalagens estão máscaras contaminadas com o novo coronavírus, chegadas aos Estados Unidos diretamente da China. Esta informação é falsa e não corresponde ao que acontece nas imagens.
É preciso recuar até 29 de março para perceber o que se está a passar no vídeo. Nesse dia, o FBI deteve um homem, Baruch Feldheim, que estava a armazenar e a vender ilegalmente material médico essencial no combate à Covid-19. Nas imagens, os agentes estão a apreender caixotes com 192 mil máscaras N95, material que encontraram numa oficina em Irvington, Nova Jérsia, Estados Unidos. No local, havia também 598 mil luvas, 130 mil máscaras de outras tipologias, batas, toalhitas, desinfetantes, álcool gel para as mãos e spray desinfetante, anunciaram as autoridades num comunicado enviados aos meios de comunicação social norte-americanos.
O esquema foi descoberto depois de Feldheim, de 43 anos, ter tentado vender material a um médico de Nova Jérsia — este tinha admitido numa entrevista dada à NBC News que recorria ao mercado negro para comprar o equipamento de proteção que faltava nos hospitais, tudo a preços exorbitantes, chegando às vezes a ser 700% mais caro do que o valor de mercado. Foi contactado pelo FBI e falou às autoridades de um grupo no WhatsApp onde as transações eram combinadas.
Quando Baruch Feldheim foi interpelado, terá mentido sobre os motivos de ter tanta coisa armazenada e ainda “tossido para cima dos agentes a quem mais tarde disse que tinha coronavírus”, pode ler-se numa notícia da CNN.
Para já, os procuradores envolvidos no caso ainda estão a investigar e a ponderar exatamente que acusações vão mover contra o homem. O material — que, de acordo com as autoridades, seria suficiente para equipar um hospital — foi todo atribuído a hospitais da área de Nova Iorque, que conta com mais de 11 mil mortes provocadas pela Covid-19 e cerca de 146 mil casos confirmados.
O vídeo foi publicado no YouTube a 1 de abril com a informação correta. A história circulou pelo Reddit e foi contada pela imprensa norte-americana . Entretanto, alguém retirou a história do contexto e a sequência começou a ser partilhada garantindo que o carregamento apreendido vinha da China já infetado. As imagens de um acontecimento real acabaram por se multiplicar rapidamente em milhares de perfis no Facebook, com uma mensagem que era falsa: as máscaras não vieram da China contaminadas com o novo coronavírus.
Conclusão
O FBI apreendeu material de proteção escondido numa oficina em Nova Jérsia e está a ocorrer uma investigação sobre o que aconteceu. As máscaras, contudo, não chegaram da China contaminadas, contrariamente ao que está a ser partilhado. O equipamento era novo e estava em tão boas condições que foi distribuído pelos hospitais locais. O homem responsável pelo carregamento estava a tentar lucrar milhões com a venda dos produtos no mercado negro.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
De acordo com a classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.
Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.