É mais um exemplo da desinformação que tem vindo a surgir na sequência da epidemia do novo coronavírus. Nos últimos dias, começou a circular na rede social Facebook uma imagem, partilhada centenas de vezes, que indica a existência de uma grande epidemia sempre no ano 20 de cada século. Trata-se, contudo, de um conteúdo falso, que resulta da alteração das datas em que alguns surtos efetivamente aconteceram. Além disso, a publicação ignora epidemias relevantes que ocorreram nas últimas décadas.
Vejamos o exemplo da peste negra, que matou milhões de pessoas em todo o mundo. Ao contrário do que o autor escreve, esta epidemia teve o seu auge entre 1343 e 1353, e não em 1420. Já a morte da civilização asteca não aconteceu em 1520, mas entre 1545 e 1550, devido a uma epidemia que matou mais de 15 milhões de pessoas, no México.
Aquela que ficou conhecida como a Grande Peste de Marselha aconteceu realmente em 1720, matando mais de 100 mil pessoas na cidade francesa. E a data do “surto de moléstia contagiosa” no navio Mayflower, que matou metade da tripulação, também se pode considerar correta, pois ocorreu no inverno de 1620/21. Mas existem outros erros na publicação.
A primeira pandemia de cólera surgiu no continente asiático em 1817, estendendo-se depois para todo o mundo com sucessivas pandemias. De acordo com o livro “História da Cólera”, citado pelo Público, em seis anos a doença expandiu-se do vale do Rio Ganges, na Índia, até outros países asiáticos, como a Síria e Singapura. Ora, a epidemia não aconteceu especificamente em 1820, como diz a publicação, mas no período entre 1817 e 1823.
O vírus da gripe espanhola também não apareceu em 1920, mas em 1918. Em 2018, celebrou-se o centenário desta pandemia, também conhecida como pneumónica, que matou cerca de 40 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais 50 a 70 mil em Portugal.
Por fim, o novo coronavírus, intitulado 2019-nCoV, foi relatado pela primeira vez a 31 de dezembro de 2019.
Além das imprecisões nas datas dos surtos, a publicação ignora, por exemplo, a epidemia da SARS (síndrome respiratória aguda grave), em 2003, a epidemia da gripe A, em 2009, e o surto de ébola na África Ocidental, que começou em 2014. Este último, recorde-se, foi um dos que causou mais vítimas mortais nas últimas décadas. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 11 mil pessoas morreram na sequência da epidemia da febre hemorrágica.
A publicação que agora circula nas redes sociais em português, “a propósito do coronavírus, da sua perigosidade e consequente possibilidade de destruição” já tinha sido divulgada em espanhol no Twitter, onde vários utilizadores alertavam para os erros que continha.
Conclusão
É falso que exista uma grande epidemia sempre nos anos 20 de cada século. Trata-se da republicação em português de um conteúdo que contém vários erros nas datas dos surtos e que ignora algumas pandemias de grande dimensão.
Assim, de acordo com a classificação do Observador, este conteúdo é:
Errado
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.