Uma publicação com declarações do presidente dos Estados Unidos está a circular nas redes sociais, a propósito do embargo ao petróleo russo, proposto pela Comissão Europeia. Joe Biden terá alegadamente afirmado que pagaria os custos de um bloqueio europeu ao petróleo proveniente da Rússia.

“Biden: ‘Cortar o gás russo vai doer à Europa, mas estou disposto a pagar esse preço'”, pode ler-se em português e inglês na publicação em causa, que tem sido, em várias partilhas, criticada pelos utilizadores das redes sociais.

Na mesma partilha, é divulgada uma fotografia do momento da conferência de imprensa em que o líder norte-americano teria proferido tais declarações, ao lado da presidente do executivo comunitário, Ursula von der Leyen. Contudo, Joe Biden nunca afirmou que pagaria o preço do bloqueio europeu à energia russa.

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A conferência de imprensa realizou-se a propósito da viagem do presidente dos Estados Unidos a Bruxelas, a 24 de março, para participar na cimeira da NATO, do G7 e ainda com os líderes da União Europeia, precisamente um mês depois do início da invasão russa. Encontros que serviriam para reforçar a posição do Ocidente e analisar a possibilidade de reduzir a dependência europeia do gás e petróleo russos. Ora, as imagens dessa conferência de imprensa, que decorreu no dia seguinte, estão, então, a ser associadas a uma declaração que Joe Biden nunca fez.

A declaração completa foi divulgada no Youtube pelo canal oficial da Comissão Europeia e pode ser consultada aqui. Após a visualização do vídeo, é possível concluir que em nenhum momento o líder norte-americano assumiu os eventuais custos de um embargo europeu ao petróleo russo. Além disso, também a Casa Branca publicou a transcrição na íntegra da declaração de Joe Biden, onde não figura qualquer referência nesse sentido.

A meio do discurso, o líder norte-americano refere: “Senhora Presidente, eu sei que eliminar [a dependência] do gás russo terá um custo para a Europa. Mas não é apenas a coisa certa a fazer, do ponto de vista moral. Vai também colocar-nos numa base estratégica muito mais forte”, sublinhou Joe Biden. São palavras que não coincidem com aquelas que estão a ser partilhadas nas redes sociais, uma vez que em toda a declaração o presidente nunca disse que os prejuízos para a Europa com o embargo ao gás russo teriam um preço que estaria “disposto a pagar”.

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Nos encontros do presidente de Joe Biden com a NATO, o G7 e a União Europeia, no final de março, foram acordadas medidas para reduzir a dependência do bloco europeu do gás russo. Entre elas, foi estabelecido um acordo para o fornecimento de 15 mil milhões de metros cúbicos de gás à Europa este ano, a partir dos Estados Unidos.

Recorde-se que, no início de março, os Estados Unidos proibiram todas as importações de energia russa para que o país “não subsidie a guerra brutal e injustificada de Putin contra o povo da Ucrânia”, disse Joe Biden também neste discurso. Também a União Europeia se tinha comprometido na mesma altura a reduzir rapidamente a sua dependência do gás proveniente da Rússia, como forma de sancionar o país pela guerra na Ucrânia.

Conclusão

Uma publicação nas redes sociais alega que Joe Biden garantiu que estaria disposto a pagar o preço do bloqueio europeu ao petróleo proveniente da Rússia, como parte de sanções contra Moscovo devido à invasão russa da Ucrânia.

São declarações que estão a ser associadas a uma conferência de imprensa do líder norte-americano na Europa, na qual surge lado a lado com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Contudo, em nenhum momento Joe Biden referiu aquilo que está a ser difundido. Prova disso é a conferência de imprensa em vídeo, disponibilizada pela Comissão Europeia, bem como a transcrição do discurso do presidente dos Estados Unidos.

É, por isso, falso que Joe Biden tenha garantido que iria acatar com os custos de um eventual embargo da União Europeia ao petróleo ou ao gás russo.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de factchecking com o Facebook.

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