Em contraponto ao Projeto 2025 — da autoria da Heritage Foundation e que defende políticas conservadoras para os Estados Unidos, que os autores querem ver implementados no caso de Donald Trump voltar a ser eleito Presidente —, estão a circular no Facebook publicações com o que se designa como o “Projeto Kamala 2025”.

Trata-se de uma alegada coletânea das propostas da candidata do Partido Democrata à presidência dos EUA, de que fazem parte a vacinação obrigatória, a concessão de cidadania a 20 milhões de imigrantes ilegais, o fim dos carros a combustão, a substituição dos agentes da polícia por assistentes sociais, as cirurgias de mudança de sexo para menores de idade, o aumento do número de juízes do Supremo Tribunal, a censura das grandes empresas tecnológicas, o uso de impostos para financiar abortos, a libertação de criminosos violentos sem fiança, em outras. Mas terá a atual vice-presidente dos EUA afirmado ou sugerido a possibilidade de avançar com estas medidas a partir de 20 de janeiro do próximo ano, dia em que tomam posse os presidentes eleitos?

A resposta é não. Quanto à obrigatoriedade da vacinação, Harris nunca fez qualquer referência nesse sentido, apesar de ter encorajado os norte-americanos a serem vacinados durante a pandemia de Covid-19 e de ter sublinhado a importância da vacinação na prevenção da doença grave causada pelo vírus. Quanto à imigração, a questão não é tão clara. É verdade que Kamala Harris propõe a concessão de cidadania norte-americana aos imigrantes sem documentos que se encontrem no país. A diferença está nos números: segundo o Washington Post, são 11 milhões, metade dos referidos na publicação — aliás, o número referido (20 milhões, com origem em declarações do senador republicano Marco Rubio) é falso.

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No que diz respeito a banir carros a combustão, é verdade que Kamala Harris já defendeu (quando foi candidata à nomeação democrata em 2020) o fim destes veículos até ao ano de 2035, como lembra o New York Post. No entanto, ainda não voltou a defender o mesmo na campanha deste ano. Quanto ao financiamento público às cirurgias de mudança de sexo para menores, a atual vice-presidente nunca se pronunciou publicamente sobre o assunto, mas a administração Biden-Kamala posicionou-se, há apenas dois meses, contra a realização destas cirurgias em menores de idade.

Também na campanha para a nomeação democrata em 2020 (ganha por Joe Biden, que viria a ser eleito Presidente), Kamala Harris reiterou, por diversas vezes, que não se oporia a um aumento do número de juízes do Supremo Tribunal, o que teoricamente poderia fazer com que os juízes liberais ficassem em maioria, escreve a Fox News. Recorde-se que, atualmente, o Supremo Tribunal conta com nove magistrados, seis conservadores e três progressistas.

Quanto à alegação de que Kamala Harris defende o fim da fiança para a libertação de criminosos violentos, esta é, no mínimo, enganadora. À Fox News, o porta-voz da campanha de Harris, James Singer, esclareceu que a vice-presidente acredita que o país “precisa de um sistema onde a segurança pública, e não a riqueza, determine quem deve ficar atrás das grades”. Já em 2019, Harris defendera que o sistema baseado nas fianças era “injusto” e que prejudicava a população negra e de comunidades mais desfavorecidas. Mas essas declarações não contemplavam, de forma clara, a defesa de mudanças no sistema quando estivessem em causa crimes violentos.

Conclusão

Algumas das medidas que constam do designado Projeto Kamala 2025 nunca foram defendidas pela candidata à presidência dos EUA. Outras, como o aumento de juízes do Supremo Tribunal ou a concessão de cidadania a imigrante ilegais, já foram sugeridas pela atual vice-presidente, mas não nos termos apresentados na publicação do Facebook.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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