Uma publicação do passado dia 19 de setembro recomenda uma intervenção de um alegado cardiologista, de seu nome Peter McCoulough, no Parlamento Europeu. “São 16 minutos em que explica rigorosamente tudo. Com números, factos, literatura médica e experiência própria, quer com pacientes, quer com autópsias. De forma sóbria, categórica, profissional e metódica”, refere o autor da publicação. E diz: “Todos os países deviam deixar de seguir diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS) e de ter sequer ligação à mesma.” O autor está, claro, a referir-se à pandemia de Covid-19. Trata-se, no entanto, de uma publicação enganadora.

Publicação viral alega que parlamento europeu financiou e organizou evento que criticava actuação da Organização Mundial de Saúde

Primeiro, é preciso dizer que, de facto, McCullough fez mesmo esta intervenção no passado dia 18 de setembro nas instalações do Parlamento Europeu, pedindo que se retirassem todas as vacinas contra a Covid-19 do mercado durante um discurso que durou aproximadamente 17m30. Deixou também críticas à OMS. Essa intervenção está disponível no Youtube e é de consulta livre.

Depois, é necessário dizer que este cardiologista norte-americano foi uma das muitas vozes contra a vacinação do novo coronavírus durante a pandemia, tendo sido referido e verificado em diferentes artigos de fact-checking. Chegou mesmo já a ser desmentido por fact-checkers ligados à área da saúde. Um dos seus argumentos, por exemplo, era o de que quem contraía a doença por causa do novo coronavírus ganharia imunidade natural, ou seja, não precisava de ser vacinado. McCullough negava assim todos os relatórios e estudos científicos conhecidos do público sobre esta matéria.

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Também é importante dizer que Peter Mccullough confirmou a sua presença neste evento através da sua conta oficial de Twitter: “Dei ao Parlamento Europeu a minha análise pandémica, onde falei de três falsas narrativas, de um mega complexo farmacêutico e de duas ondas populacionais de prejuízo.” Por fim, convém esclarecer que o Parlamento Europeu aprovou recentemente uma resolução sobre o “sucesso da vacinação contra a Covid-19 contra a doença severa, morte e morbilidade”. Esta declaração surge no ponto 96 de um documento denominado “lições aprendidas e recomendações para o futuro a propósito a pandemia de Covid-19”.  O documento pode ser consultado aqui.

Por outro lado, a intervenção de Peter Mccullough não teve lugar num evento oficial do Parlamento Europeu. Na página oficial daquela instituição, existe um parâmetro chamado “audiências” (“hearings” em inglês) onde se lê o seguinte: “A um comité é permitido que organize uma audiência com especialistas, algo que é considerado como fundamental. Estas audiências podem ser feitas também com mais de um comité”. Ou seja, existe a possibilidade de os eurodeputados, de diferentes campos políticos, da extrema-esquerda à extrema-direita passando pelo centro, organizarem eventos deste género. Iniciativas que não vinculam o Parlamento Europeu, enquanto entidade oficial.

Nesse sentido, e via Twitter, a eurodeputada alemã Christine Anderson, da AfD (partido de extrema-direita da Alemanha), que faz parte do grupo Identidade e Democracia no Parlamento Europeu, referiu um evento, a 13 de setembro deste ano, onde Peter McCoulough iria participar. A eurodeputada alegou que a OMS “persegue cada vez mais poder e aumento de financiamento, sendo o principal responsável das emergências pandémicas, tal como a deriva anti-democrática, não eleita e supra nacionalista de organizações que já não podem prestar contas aos cidadãos”. Uma linha de pensamento que se prende ao que Peter McCoulough alegou sobre aquela instituição de saúde.

Emilie Tourner, do gabinete de imprensa do Parlamento Europeu, disse ao Observador que, de facto, “o evento em que Peter McCoulough falou não era um evento oficial e financiado pelo Parlamento Europeu”. “Além disso, as visões expressadas no vídeo não reflectem a posição desta instituição. Grupos políticos e eurodeputados podem organizar os seus próprios eventos deste mesmo espaço”, alegou.

Conclusão

O gabinete de imprensa do Parlamento Europeu negou que o evento em que a Organização Mundial de Saúde foi criticada tenha sido financiado e organizado por aquela instituião. A palestra aconteceu, de facto, este ano, mas foi organizada por um grupo de eurodeputados onde se incluem elementos do grupo Identidade e Democracia, que é conotado como sendo de extrema-direita e um dos que mais criticou a gestão política e social da pandemia de Covid-19.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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