Mais um exemplo da fraude que envolve supostas plataformas de criptomoedas, sem habilitação para exercer em Portugal, que usam entrevistas reais e manipulam imagens de sites de órgãos de comunicação social e outros para se promoverem. Desta vez, a tentativa de captar utilizadores recorre a uma entrevista ao ator Pedro Barroso feita pelo apresentador da TVI Manuel Luís Goucha.
A informação partilhada no Facebook em publicações que envolvem diversas figuras públicas tem quase sempre a mesma forma. Neste caso concreto, aparece uma fotografia da entrevista a Pedro Barroso, com um link que remete para um site que nada tem a ver com o que é referido. “Anmalbort.com” é logo um endereço suspeito que reencaminha o utilizador para a página “Animal Cyst”, supostamente relativa a animais mas onde está uma notícia sobre uma entrevista na SIC ao especialista em finanças pessoais Pedro Andersson — também ele já alvo destas publicações falsas, como o Observador analisou.
A imagem é a única coisa verdadeira nesta publicação, tendo sido retirada da entrevista real. Ou seja, a entrevista ao ator aconteceu mesmo na TVI e feita por Manuel Luís Goucha.
Os restantes elementos surgem da mesma forma noutras publicações igualmente fraudulentas e que o Banco de Portugal já sinalizou como podendo “integrar-se num esquema de natureza fraudulenta, dirigido a obter ganhos patrimoniais de potenciais clientes que julgam (erradamente) estar a investir em ativos virtuais”, numa resposta ao Observador a propósito de outras situações semelhantes.
Primeiro o texto da publicação, sempre igual, e a indicar que a figura pública terá revelado “em direto” informações financeiras de uma “magnitude que pode abalar as fundações da sociedade portuguesa”. Depois, por baixo da fotografia surge um título a dizer que “a entrevista foi interrompida pelas autoridades, mas era tarde demais por causa [sic] Pedro Barroso já falou sobre tudo”. E, por fim, o clique que reencaminha para outra página que nada tem a ver como o que consta na publicação.
Neste caso, o texto que abre é relativo à temática “Como superar a inflação” – Os conselhos de Pedro Andersson para poupar no orçamento familiar”, naquilo que é o registo de uma entrevista dada pelo especialista a um programa de entretenimento da SIC.
O Banco de Portugal já tinha avisado que tem “tido conhecimento de situações similares à relatada, envolvendo outras figuras públicas e outras supostas entidades/plataformas que afirmam dedicar-se a atividades com ativos virtuais, quando, na realidade, desenvolvem apenas esquemas fraudulentos”. Não são adiantados dados concretos devido ao segredo bancário e ao segredo de justiça, no entanto, a entidade afirma que “o número de processos de averiguação abertos relacionados com este tema aumentaram significativamente nos últimos tempos”.
Têm sido publicados “alertas genéricos sobre os riscos dos ativos virtuais”, por parte do Banco de Portugal, bem como “avisos públicos alertando para o facto de determinada(s) entidade(s), pessoas singulares e coletivas, marcas e websites, não se encontrarem registadas junto do Banco de Portugal para desenvolverem atividades com ativos virtuais”, refere a instituição. Além disso, o BdP adianta que “tem igualmente comunicado às autoridades com competência para a investigação criminal todos os indícios de crime que apura no exercício das suas competências”.
Conclusão
As autoridades não interromperam a entrevista de Manuel Luís Goucha ao ator Pedro Barroso. Trata-se de uma tentativa de fraude, usando a imagem de uma entrevista onde não foi dito nada do que é referido na publicação. O Banco de Portugal diz que a publicação “poderá integrar-se num esquema de natureza fraudulenta”, que usa supostas plataformas de criptomoedas, e alerta para a existência de várias situações similares envolvendo outras figuras públicas.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.