Suzana Garcia foi o nome escolhido pelo PSD para a corrida à Câmara Municipal da Amadora, nas eleições autárquicas deste ano. E foi nessa qualidade que, este fim de semana, numa entrevista ao Notícias Magazine e à TSF, o primeiro-ministro se referiu à advogada, num ataque em que o visado era o líder social-democrata. Depois de acusar o PSD de se afastar do centro, preferindo “disputar 2 ou 3% dos votos com o Chega”, António Costa acrescentou que Rui Rio “apresentou Carlos Moedas” como candidato a Lisboa “e, no concelho vizinho, uma senhora do Chega como candidata à Amadora”. Verdade?
A colagem de Suzana Garcia ao Chega tem sido frequente, sobretudo desde que a advogada e ex-comentadora televisiva foi apresentada como candidata do PSD àquela câmara dos subúrbios de Lisboa. Em causa estão, entre outras razões, os comentários que Suzana Garcia foi tecendo no programa “Você na TV”, na TVI, onde marcava presença regular para analisar temas criminais.
A defesa da castração química de pedófilos foi um desses temas. A esse respeito, a então comentadora disse ser “a favor” da intervenção química, mas não ficou por aí. “Também não me repugna, se o povo decidir [através de referendo] que é a física que tem de ser, o deputado e todos os outros que estão sentados na Assembleia da República têm de baixar as suas ideologias e respeitar a nação e respeitar o povo”. Noutra frente, foi a forma como a advogada se referiu ao ativista social Mamadou Ba, dirigente da associação SOS Racismo — a quem chamou de “traidor” da Pátria —, a motivar que Suzana Garcia fosse associada ao partido de André Ventura. E a contribuir para que lhe fossem sendo colados os rótulos de “racista” e “xenófoba”.
Na entrevista do último fim de semana, António Costa deteve-se sobre uma suposta relação política entre Garcia e o partido de Ventura. “O PSD afastou-se do centro, desistiu de disputar o centro com o PS e a única coisa que agora quer disputar é ali 2 ou 3% dos votos com o Chega. Já está entendido com eles nos Açores, já importou uma senhora do Chega para candidata à Câmara da Amadora, propõem-se ser os baluartes do ataque à independência das magistraturas, é contra o salário mínimo nacional”, começou por dizer o primeiro-ministro. Mais à frente, Costa diz taxativamente que Rio apresentou “uma senhora do Chega como candidata à Amadora” pelo PSD.
A frase sugere que Rui Rio recorreu à equipa de André Ventura para reforçar as listas do PSD para as eleições autárquicas.
A democracia é assim. A direita está em reconfiguração profunda. José Dias e Susana Garcia são dois excelentes nomes para a Amadora. Espero que vença o José Dias, mas a escolha de Susana Garcia pelo PSD é um dado digno de registo. Boa evolução de Rui Rio!
— André Ventura (@AndreCVentura) March 30, 2021
É verdade que o próprio Ventura teceu comentários elogiosos à escolha de Rio. No Twitter, o líder do Chega disse que “José Dias [candidato do PSD a Portimão] e Susana Garcia são dois excelentes nomes para a Amadora”. E ainda acrescentou que a escolha da ex-comentadora era “um dado digno de registo” e um sinal de uma “boa evolução de Rui Rio”.
Mas a candidata do PSD à Câmara Municipal da Amadora não é, nem foi, militante do Chega. Terá havido convites para que Garcia se juntasse, entre outros, ao Chega — foi a própria quem o afirmou várias vezes, sem que nunca tivesse sido desmentida — mas, publicamente, foi procurando distanciar-se daquela força política. “Nunca estive próxima do partido Chega nem tenho qualquer ligação ao partido, embora confirme que fui abordada pelo mesmo, tendo rejeitado sempre esses convites, como é aliás, de conhecimento público”, escreveu num artigo de opinião publicado no Observador a 31 de março.
Há dias, também numa conversa com o apresentador Manuel Luís Goucha, na TVI, a candidata do PSD defendeu o “extermínio” do Bloco de Esquerda. Confrontada sobre se assumiria a mesma posição relativamente ao Chega, Suzana Garcia respondeu: “Também. Para mim as extremas são todas asquerosas e são o resultado da falência dos políticos falarem ao eleitorado.”
No mesmo artigo de opinião publicado no Observador — um misto de carta de apresentação e de intenções para as autárquicas deste ano —, Suzana Garcia rejeita a ideia de que Portugal seja um país racista — “apesar de existirem, infelizmente, portugueses racistas”; posiciona-se como defensora do espaço “liberal” e “democrático”; apresenta-se como “mulher feminista, cosmopolita e aberta ao mundo”; defende “políticas concretas de inclusão, de integração, de promoção de igualdade de oportunidades” da população imigrante em Portugal e o “reconhecimento do seu trabalho e do seu mérito”; e mostra-se “contra a pena de morte” e “contra a pena de prisão perpétua”. Tudo numa linha de demarcação das posições assumidas pelo Chega.
Conclusão
Suzana Garcia tem sido associada ao Chega pelas posições que assumiu em relação aos condenados por pedofilia ou na recusa da ideia de que Portugal seja um país estruturalmente racista. Mas, ao contrário do que alegou o primeiro-ministro, Rui Rio não “importou” a advogada, e agora candidata à Câmara da Amadora pelo PSD, do partido de André Ventura.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.