O contra-ataque demorou menos de duas horas a concretizar-se. No Twitter, Rui Rio começou por apoiar as críticas de Angela Merkel a Portugal — por ter aceitado a entrada de turistas britânicos em território nacional — e acusou o Governo de estar a “fazer passar o país por uma vergonha desnecessária” no plano europeu. Logo a seguir, Ana Catarina Mendes disparou contra a “incoerência” do PSD, por estar a dar uma volta de 180 graus sobre o tema. Os sociais-democratas mudaram de posição?

Merkel critica Portugal por ter deixado entrar turistas britânicos apesar dos riscos associados à variante Delta

Angela Merkel falava esta semana sobre a entrada de turistas britânicos em Portugal, no período em que o país integrou a lista verde do Reino Unido e em que se estimava uma vaga diária de cinco mil pessoas para passar férias, sobretudo, no Algarve. “Temos uma situação em Portugal [com um nível de contágios elevado] que talvez pudesse ter sido evitada”, defendeu a chanceler alemã, lamentando que ainda não se tivesse conseguido adotar “um comportamento uniforme entre os Estados-membros em termos de restrições a viagens”. Para Merkel, o facto de cada país estar, alegadamente, a adotar regras próprias acarreta riscos para o controlo da pandemia em território europeu: “É um tiro pela culatra.”

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É na sequência dessas críticas da líder alemã que Rui Rio parte para o ataque no Twitter. “Não bastava termos sido tratados com uma vexatória desconsideração pelo Reino Unido, a quem prestamos futebolística vassalagem, e ainda temos de ouvir a justa indignação da chanceler alemã”, disse o social-democrata. “O Governo português a fazer passar o País por uma vergonha desnecessária”, finalizou Rio.

Logo de seguida, Ana Catarina Mendes entra em cena. Na mesma rede social, a líder parlamentar do PS disse não haver “limites para a incoerência” do lado do PSD, que agora “reclama contra uma medida que antes reivindicava”. O ponto da socialista era este: “Em maio, o PSD criticava o Governo por não ter ainda anunciado a abertura aos voos do Reino Unido, que vaticinava de trágico para o turismo nacional.” Agora, o mesmo PSD surge alinhado com Angela Merkel numa dura crítica à entrada de turistas no país.

Mas Ana Catarina Mendes terá razão? Será verdade que, há cerca de um mês, os sociais-democratas pressionavam o Governo a dar uma resposta a Londres e a desbloquear a entrada de cidadãos britânicos em Portugal?

Se foi Rui Rio quem agora assumiu o protagonismo neste tema, em maio, foi um deputado do PSD (eleito, precisamente, pelo Algarve) quem ocupou o palco para falar sobre os avanços e recuos na relação entre os dois pontos do eixo Lisboa-Londres. O caso teve direito a títulos, na altura.

A 14 de maio, na Assembleia da República, o deputado Cristóvão Norte lembrava que há uma semana que o Reino Unido tinha levantado as “restrições a viagens não essenciais para Portugal”. Uma decisão que permitia “a retoma da atividade turística” e que se traduzia já “num avassalador aumento das reservas, num incremento do número de voos, na contratação de pessoal por parte das atividades hoteleiras e restauração e, no fim de contas, na abertura de uma nova página de esperança para que a retoma fosse empreendida de forma mais célere”.

Cristóvão Norte lembrava ainda o facto de, no início desse mês, a Comissão Europeia ter sugerido aos Estados-membros que aliviassem as suas restrições às viagens e, no fundo, abrissem portas às deslocações não essenciais — entenda-se, às viagens por motivos turísticos. Estava-se a poucos dias do levantamento das restrições por parte de Londres e, prosseguia o deputado algarvio, “não obstante tudo isto, o Governo português, ainda que sabendo da importância desta matéria para o país”, tinha tratado “da matéria com total leviandade”. O termo usado para caracterizar a postura do Executivo português, nesse momento era “inação”.

É a partir das palavras de Cristóvão Norte, há um mês, e de Rui Rio, esta semana, que a líder parlamentar do PS atira à “incoerência” dos sociais-democratas, por criticarem agora o que antes defendiam.

E, de facto, foi o PSD quem veio a público falar da “abertura de uma nova página de esperança” no setor do turismo em Portugal, com a luz verde de Londres às viagens de lazer para Portugal. Mais: nessas declarações, o deputado Cristóvão Norte condenava a “inação […] dramática” dos responsáveis políticos portugueses, que contribuíam para um “impasse” nas relações entre os dois países.

No tweet que publicou esta semana, Rui Rio lamentou que Portugal fosse alvo da “justa indignação” de Angela Merkel, mas juntou-lhe as críticas à “vassalagem” de Portugal ao Reino Unido a propósito do jogo da final da Liga dos Campeões, no Estádio do Dragão, no final de maio.

Ora, é verdade que Rui Rio condenou a possibilidade dada aos adeptos do Manchester City e do Chelsea de assistirem ao jogo no estádio quando o campeonato português se disputou à porta fechada. Mas Rio não condenou, nesse momento, a entrada de turistas em território nacional. Considerou que as imagens dos adeptos ingleses no Porto eram “bem piores” que as registadas aquando da conquista do campeonato pelo Sporting, mas distinguiu esse plano desportivo do plano turístico. “E não é para festejar nada, é vandalismo; que, apesar de rimar, é bem diferente de turismo”, escreveu também no Twitter. Merkel, por outro lado, falava de turismo e não de futebol.

Conclusão

Ana Catarina Mendes tem razão quando aponta baterias à “incoerência” do PSD relativamente à entrada de cidadãos britânicos em Portugal. Em maio, os sociais-democratas criticavam a demora do Governo português em fechar os termos do regresso de turistas a território nacional; e, em junho, a chanceler Angela Merkel criticava a forma como alguns países estariam a seguir regras próprias para retomar a atividade turística e a receção de turistas.

Assim, segundo a escala de classificação do Observador, este conteúdo está:

CERTO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

VERDADEIRO: conteúdos que não contenham informações incorretas ou enganosas.

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