Um utilizador de Facebook partilhou um vídeo no qual se vê várias máquinas agrícolas a expelirem para o ar aquilo que parece ser areia. No texto da legenda sugere-se que o mesmo é filmado em Marrocos e que mostra a suposta explicação para que, a 15 e 16 de março, os céus de Portugal tenham mudado de cor devido a poeiras vindas do Saara, um fenómeno meteorológico que se voltou a repetir esta quinta e sexta-feira. Mas a alegação é falsa.
Primeiro, começamos por explicar que fenómeno é este que deixou o céu português cor-de-laranja e deixou manchados carros e prédios por todo o país. Como explicou o Observador a 15 de março, uma massa de ar proveniente dos desertos do Norte de África, nomeadamente o Saara, invadiu a região ocidental da Europa. Essa massa de ar transportava poeiras em suspensão que estavam a atravessar Portugal Continental e que afetaram sobretudo as regiões Norte e Centro.
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) explicou que estas poeiras chegaram a Portugal por causa da depressão Célia, uma fenómeno de baixa pressão atmosférica onde se registam ventos fortes que, no hemisfério norte, sopram no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio.
Na última quinta-feira e sexta-feira, como explicou explicou Maria João Fraga, do IPMA, também ao Observador, verificou-se um novo “episódio de poeiras”. Porém, desta vez foi menos intenso do que o anterior apesar de estarem também em causa poeiras vindas de África devido a uma depressão que está localizada a sudoeste do território continental do país e que tem provocado também a chuva e as temperaturas baixas dos últimos dias.
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Ora, estando esta depressão em Marrocos, as areias do norte de África são varridas em direção ao ocidente da Europa, e afetaram sobretudo Portugal Continental, Espanha e França. “As poeiras são levantadas e ascendem à atmosfera”, descreveu Bruno Café, meteorologista do IPMA, à Rádio Observador a 15 de março.
Com esta explicação vemos que este fenómeno — apesar de prejudicial para o dia-a-dia e com possíveis complicações para a saúde (a DGS tem deixado recomendações sobre como lidar com este fenómeno, principalmente os doentes respiratórios) — tem uma origem natural e não decorre de uma intervenção humana direta, como defende a publicação aqui analisada.
Contudo, resta perceber qual é a origem do vídeo e se está relacionado com algum fenómeno “fabricado”.
Através através do Google Images, uma ferramenta de pesquisa da Google que permite pesquisar imagens em vez palavras, e utilizando o termo “colheita” associado à imagem — uma vez que no vídeo são visíveis máquinas agrícolas a operar —, é possível encontrar este vídeo publicado no YouTube. A partir do minuto 1’20, mostra as imagens que foram utilizadas com outra perspetiva no vídeo partilhado Facebook, induzindo em erro quem o vê.
Em causa, como se lê na descrição do vídeo original, está um processo agrícola de colheita de sementes. “Para eternizar o sucesso da colheita de Brachiaria Safra 2017/2018 a Sementes São Bernardo de Alto Garças — MT solicitou a criação de um vídeo que registasse todas as etapas desse minucioso processo de colheita das sementes”, lê-se na descrição. Ou seja, o vídeo não mostrava máquinas a recolher areia do chão e que estariam a expelir poeiras em direção da Europa, mas sim um processo agrícola de uma empresa instalada na região de Mato Grosso do Sul, no Brasil.
Conclusão
A tempestade de poeiras que passou por Portugal em dois momentos distintos, nas últimas semanas, deve-se a um fenómeno meteorológico natural registado pelo IPMA. O vídeo partilhado no post utiliza imagens de um processo agrícola de uma empresa no sul do Brasil, que não está relacionado com o fenómeno natural que arrastou poeiras desde o norte de África até ao território português.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.