O desafio é olhar para um ponto fixo e conseguir que outros pontos, que estão em movimento, desapareçam. Chama-se Motion Induced Blindness — cegueira induzida por movimento — e é também conhecida como ilusão de Bonneh, o apelido do investigador que, com a sua equipa, usou este termo para batizar a ilusão visual.

Nas redes sociais, um destes testes está a ser partilhado como uma forma de testar, muito rapidamente, se se tem Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA). O problema? Não é verdade, como explica ao Observador o psicólogo Tiago Pereira.

Diagnosticar aquele que é “um dos problemas de neurodesenvolvimento mais comuns em crianças e jovens”, e que pode afetar 4 a 5% desta população, não se faz numa questão de minutos, e implica uma avaliação complexa, sublinha o psicólogo. A PHDA também pode afetar adultos e, neste caso, as estimativas apontam para que 2,5 a 3% da população adulta possa sofrer desta perturbação.

A imagem do teste que tem sido partilhado nas redes sociais

“Há um aspeto positivo que leva a que este tipo de publicações apareçam”, argumenta Tiago Pereira. “Há mais procura de informação sobre o tema e isso é bom. A parte menos boa é que a informação factual coabita com informação não factual e enganadora, assim como a ciência coabita com a pseudociência nas redes sociais.” No caso deste teste, defende o psicólogo, estamos na presença do segundo caso.

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“A forma como esta ideia de teste de PHDA é apresentado é claramente uma ideia pseudocientífica. E por que motivo? Porque ela se baseia numa técnica que existe, a Motion Induced Blindess, e que é utilizada para estudar questões associadas às ilusões visuais. Depois, é dado um salto quando se diz que pode diagnosticar a PHDA”, detalha Tiago Pereira.

A ilusão visual, explica o psicólogo, é exatamente o que se vê no vídeo: existe um ponto central no qual se deve focar a atenção e existem pontos laterais que, quando nos concentramos, podem ser apagados da nossa atenção. “É uma ilusão cognitiva e, de certa forma, reproduz aquilo que é o funcionamento do nosso sistema atencional e visual. Há um estudo, em contexto experimental, que faz a associação entre quem tem PHDA e a forma distinta como processam este tipo de estímulos.”

No entanto, sublinha o psicólogo, isso não permite afirmar que um determinado comportamento face àquele teste significa que a pessoa tem PHDA. “É exatamente ao contrário. A evidência é muito suave e os próprios autores do estudo reconhecem que não é possível utilizar esta ilusão visual para fazer um diagnóstico”, acrescenta Tiago Pereira.

No entanto, quando se faz uma bateria de exames para despistar a PHDA, este é um dos testes que pode ser utilizado. Assim, pode ter alguma validade quando usado em complemento com outros meios de diagnóstico, mas sozinho não serve para se chegar à conclusão que uma pessoa tem esta perturbação.

Conclusão

Embora os testes de Motion Induced Blindness (cegueira induzida por movimento, também conhecida como ilusão de Bonneh) possam ser utilizados durante a avaliação da Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção, não são suficientes, por si só, para fazer um diagnóstico. Este deve sempre ser feito por uma equipa de especialistas que inclui psicólogos e psiquiatras.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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