|
|
|
“Tenha calma, o senhor está a ter um enfarte e vai ter de ser transferido.” Foi assim que Ruben Obadia recebeu o diagnóstico de enfarte agudo do miocárdio, aos 43 anos, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, depois de um jantar com antigos colegas de faculdade e de ter contactado o 112. |
Primeiro, pensou que ia morrer. Depois, perante o choque, veio a surpresa: “Pensava que era uma coisa que nos dava, acontece e já está”, explica num testemunho em vídeo na rubrica “Quando a minha vida mudou”, que faz parte do Arterial, a nova secção do Observador totalmente dedicada às doenças cérebro-cardiovasculares. “De repente, apercebi-me que ‘a coisa’ ainda não tinha terminado”. |
“O corpo não se comporta da maneira que nós esperamos que se comporte. Falha-nos. Eu fui traído pelo meu corpo”, diz Ruben, nove anos depois daquele episódio. Os cigarros passaram a ser uma marca do passado (a mãe guarda ainda aquele maço de tabaco que estava quase a meio) e, apesar de não ter tido de imediato essa consciência, percebeu que deixar de fumar seria um dos principais passos para evitar um novo enfarte. Mas também a vigilância apertada da saúde, com exames regulares e consultas periódicas. E, muito importante, a “adesão à terapêutica”, ou seja, a toma contínua e correta de medicação, sem interrupções, para evitar um segundo episódio. Ruben sabe que são medicamentos que tem de tomar para o resto da vida. |
O consultor de comunicação é um dos sobreviventes de enfarte em Portugal. Mas nem todos estão cá para contar a história. Só em 2021, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), morreram 3977 portugueses por enfarte agudo de miocárdio. Acima deste valor, o INE registou a morte de 9613 pessoas por Acidente Vascular Cerebral (AVC). |
Estas são as principais causas de morte em Portugal: as doenças cérebro-cardiovasculares, de que o AVC e o enfarte são os melhores exemplos, e que podem estar associadas a fatores de risco como a obesidade, o tabaco, o consumo excessivo de álcool, a pressão arterial elevada, os níveis de colesterol altos, o sedentarismo, a alimentação desequilibrada, a diabetes, etc. Outras há que, por serem silenciosas, nem sempre são conhecidas dos doentes ou diagnosticadas a tempo, como é o caso da insuficiência cardíaca e da aterosclerose. |
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, estas doenças representaram, em 2010, 36% das mortes anuais nos estados-membros da União Europeia. |
Foi com esta preocupação que avançámos com o Arterial. Esta é a primeira newsletter de apresentação desta iniciativa. Mas, todos os meses, levarei até si os conteúdos mais recentes publicados na secção, mas também estudos e outros destaques que constituem novas oportunidades na prevenção, no diagnóstico, no tratamento e na gestão destas doenças. |
Nas várias reuniões que tivemos com profissionais de saúde, gestores, doentes e cuidadores subsistem várias ideias. Desde logo, a de que estas não são doenças de pessoas mais velhas. Pelo contrário. Desengane-se quem pense que os jovens têm uma espécie de “imunidade” que os protege destes episódios. Veja-se o caso de Raquel Brito: um AVC aos 40 anos, em 2020, conduziu-a a uma recuperação longa que mantém até hoje. Não tinha fatores de risco nem causas conhecidas. Praticava exercício físico, não fumava, não tinha excesso de peso nem doenças prévias conhecidas. |
Outra ideia que importa descodificar é esta: quem já teve um enfarte ou um AVC e sobreviveu, “safou-se”, já não terá outro. Temos percebido o contrário. Depois de um primeiro episódio, torna-se ainda mais relevante apostar nos estilos de vida saudáveis, transversais a outras doenças, como a prática de exercício físico, a alimentação saudável, evitar o tabaco e o álcool, dormir bem. |
Como podemos perceber na reportagem na Unidade Local de Saúde de Matosinhos, a probabilidade de voltar a ter um enfarte é de dez por cento ao fim de três anos. Fomos conhecer os bastidores da primeira ULS do país e percebemos que muito há a melhorar no acompanhamento de doentes com alto e muito alto risco cardiovascular. |
“O colesterol é responsável por cerca de 50% do risco de enfarte e por cerca de 35% do risco de AVC”, diz a cardiologista Cristina Gavina nesta reportagem. “É um dos maiores e mais perigosos fatores de risco das doenças cardiovasculares devido à acumulação de gordura nas paredes das artérias.” Seria por isso conveniente que os doentes seguidos pelo serviço de cardiologia daquela unidade reduzissem em 50% o seu colesterol para ficarem dentro dos valores recomendados pela Organização Mundial de Saúde. |
No AVC, a o risco de repetição é também elevado. Preparámos um explicador dedicado exclusivamente a esta doença, onde lhe damos a conhecer uma estatística relevante: cerca de um terço dos AVC que ocorrem no espaço de um ano são recorrências, ou seja, perante um primeiro episódio, acresce o risco de voltar a ter outro. |
No Arterial, temos a preocupação de chamar a atenção para os fatores de risco, para a avaliação do risco cardiovascular, para as desigualdades no acesso ao tratamento, com reportagens e peças descentralizadas ao longo do país. Damos voz a médicos, doentes, cuidadores, mas também a outros profissionais de saúde, essenciais para o acompanhamento e a recuperação das doenças cérebro-cardiovasculares. |
Em alguns casos, juntamos doentes e médicos no mesmo momento, como é o caso da Consulta Informal, gravada em estúdio e disponível em formato vídeo e em podcast. No primeiro episódio falamos de insuficiência cardíaca, uma doença silenciosa e que atinge 700 mil portugueses, com o cardiologista Rui Baptista e com João Abreu, que recebeu o diagnóstico aos 45 anos. |
Além de jornalistas, fotojornalistas, editores, responsáveis de redes sociais, designers, realizadores e sonoplastas, muitas pessoas contribuem para este novo projeto do Observador. Tal como acontece na área da saúde, em que as equipas multidisciplinares – compostas por profissionais de várias especialidades e áreas – são essenciais para o sucesso do tratamento, também no jornalismo nada se faz sem o contributo de muitas pessoas. |
Dias antes da comemoração do Dia Nacional do Doente com AVC, a 31 de março, e do Dia Mundial da Saúde, a 7 de abril, estamos convictos de que este trabalho servirá de alerta para os sinais que não devemos ignorar, para a procura mais adequada de cuidados médicos, para o papel de cada um e para o combate a mitos que importa descodificar. Por isso, sempre que temos questões que necessitam de uma resposta científica, contamos com a nossa rede de parceiros, com médicos e outros profissionais de saúde que nos ajudam a clarificar as dúvidas que vão surgindo. |
O projeto Arterial é uma parceria do Observador com a Novartis e tem a colaboração da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca, da Fundação Portuguesa de Cardiologia, da Portugal AVC, da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose e da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. |
Temos noção da responsabilidade do trabalho que decidimos abraçar. Da diferença que este projeto pode fazer na consciencialização para a prevenção e o impacto das doenças cérebro-cardiovasculares. Afinal, cada minuto conta. Cada segundo conta. E o tempo, esse, pode mesmo ser o nosso maior aliado. |
|
Reportagens
|
|
Arterial
|
|
Aos 43 anos, o coração de Ruben Obadia falhou. Depois do enfarte, tudo mudou para sempre — da medicação que nunca pode deixar aos novos hábitos e à maneira de pensar.
|
|
|
|
Arterial
|
|
Os pais mudaram-se para casa dela, o irmão está noutro país mas segue a situação, a vizinha está atenta, os amigos por perto. Os fisioterapeutas e o neurologista acompanham a reabilitação.
|
|
|
|
Arterial
|
|
O que é a insuficiência cardíaca? Como se trata? Que doença é esta que afeta 700 mil portugueses? As respostas de João Abreu, que recebeu o diagnóstico em 2008, e do cardiologista Rui Baptista.
|
|
|
|
Arterial
|
|
O diagnóstico chegou há 15 anos. João Abreu nunca tinha ouvido falar de insuficiência cardíaca. Tal como 90% dos portugueses que não sabem que têm a doença, diz o cardiologista Rui Baptista.
|
|
|
|
|
Arterial
|
|
Em Matosinhos, após estudar 20 anos de registos médicos de 80 mil pessoas, a cardiologista Cristina Gavina começou o que poderá ser a reorganização do acompanhamento de doentes cardíacos em Portugal.
|
|
|
|
Arterial
|
|
Dois milhões de neurónios destruídos por minuto. É esse o resultado de um AVC. Se não matar, pode mudar a vida para sempre, por isso é preciso agir depressa. “Tempo é cérebro”, dizem os especialistas.
|
|
|
|
Arterial
|
|
A partir de 18 de março, o Observador terá uma secção totalmente dedicada às doenças cérebro-cardiovasculares. Com entrevistas, reportagens, explicadores, podcasts, vídeos, opinião e muito mais.
|
|
|
Opinião
|
|
|
Tudo mudou a partir do momento em que a minha mulher teve um AVC. Era marido e pai, passei a ser cuidador a tempo inteiro. Tive de tomar decisões, gerir a vida dos nossos filhos e enfrentar o medo.
|
|
|
|
Tive um enfarte agudo do miocárdio e sinto diariamente a falta de acesso e de igualdade nos cuidados de saúde. A diferença entre ter uma doença cardíaca crónica no interior ou no litoral é enorme.
|
|
|
|
As doenças cardiovasculares são responsáveis por cerca de um terço da mortalidade total em Portugal. O colesterol é um “inimigo” silencioso que deve ser prevenido e/ou controlado.
|
|
|
|
A insuficiência cardíaca vai ter um papel cada vez mais generalizado e expressivo na sociedade portuguesa. O país precisa de uma estratégia global de prevenção e de combate à doença.
|
|
agenda
|
|
|
|
|
|
O que se escreve lá fora
|
|
|
|
|
|