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O telefone tocou às 1h09 da madrugada. No visor do carro dos repórteres do Observador, ao qual estava ligado o telemóvel com as indicações do GPS, apareceu a indicação “Marcelo Rebelo de Sousa”. O primeiro resultado desta chamada foi a antecipação de uma desorientação: sem GPS, não havia maneira de chegar ao hotel a meio da noite. O segundo resultado foi a exigência de rapidez: o candidato-Presidente é conhecido por disparar mal o atendem, por isso a Rita Tavares precisou de arranjar em segundos uma caneta e um papel para tomar notas. Do outro lado da linha, Marcelo Rebelo de Sousa estava deitado no quarto de hotel. E não tinha grande pressa. A conversa durou até às 3h da madrugada. |
O Observador voltou a cruzar-se com Marcelo pouco depois — mas desta vez presencialmente. Na quinta-feira, quando estavam no Porto, o João Porfírio mandou-lhe uma mensagem para combinar fazerem algumas fotografias de bastidores para uma reportagem. No final de uma ação de campanha, Marcelo Rebelo de Sousa viu o editor de Fotografia do Observador e disse-lhe, enquanto se dirigia para o carro: “Já vi a sua mensagem, logo à noite vá ao meu hotel e ligue-me quando chegar”. |
O João Porfírio chegou ao hotel por volta das 20h e mandou outra mensagem ao candidato-Presidente para confirmar que já tinha chegado. Ao fim de quase uma hora e meia, Marcelo Rebelo de Sousa desceu e perguntou em voz alta: “Porfírio? Onde está o Porfírio?”. E prontificou-se a tudo: “Quer que trabalhe à sua frente? Muito bem, o que mais tenho para fazer é trabalhar”. |
Dias antes, o João Porfírio tinha-se encontrado com outro candidato — André Ventura — para tirar fotos de bastidores da sua campanha. Também se encontraram num hotel, mas as coisas foram muito, muito diferentes. À meia-noite, recebeu uma mensagem da assessora de imprensa do Chega: “Podes vir”. O nome do hotel onde Ventura estava a dormir em Coimbra só lhe foi revelado cinco minutos antes — “por razões de segurança”. |
Quando lá chegou, tinha um segurança à espera na entrada. Acompanhou-o ao elevador e deu-lhe instruções precisas: “No piso 1 vai encontrar o meu colega, que o vai encaminhar para outro colega”. Foi mesmo assim: saiu do elevador e tinha um segurança à espera — e este segurança levou-o a outro segurança, à porta de uma sala onde estava a decorrer uma reunião entre Ventura e o seu staff. |
Quando André Ventura decidiu sair para o quarto, um dos seguranças avisou todos os outros, através do intercomunicador. Antes de o candidato entrar, foi feita uma vistoria rápida por todo o quarto. Enquanto tirava a gravata, André Ventura disse: “Finalmente”. |
A segurança é levada muito a sério na campanha de Ventura. Depois de o Miguel Santos Carrapatoso escrever uma reportagem sobre o tema, o seu staff tentou — sem grande insistência, note-se — perceber quem tinha estado na origem de algumas fugas de informação. Todos os dias, Ventura lia o que os principais jornais escreviam sobre a campanha. |
Por vezes, as conversas com os jornalistas do Observador eram úteis para os candidatos — se bem que essa utilidade talvez fosse tardia. Num telefonema de final de dia, a Inês André Figueiredo lembrou-se que a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda partiu as costelas no fim do ano e perguntou-lhe se tinha uma almofada na carrinha para estar mais confortável nos muitos quilómetros que percorreu nestas semanas. “Uma almofada era uma boa ideia, pena não termos falado antes”, respondeu com um sorriso. |
Já Ana Gomes deixou um desafio disfarçado de pedido de ajuda. Quando a Rita Dinis quis consultar as notas que a candidata tirou durante um dos debates a resposta foi: “Claro que sim. Se perceberem alguma coisa digam-me, que às vezes eu não percebo a minha letra”. |
Quem não percebeu alguma coisa relevante foi João Ferreira. Durante uma ação de campanha na Nazaré, um carro da polícia que estava a fazer a ronda apercebeu-se de um ajuntamento e parou para tentar entender melhor o que se estava a passar. Um assessor do candidato comunista deu todas as explicações — e João Ferreira nem deu por nada. |
Nas campanhas eleitorais, os candidatos comem sempre mal. Excepto se estiverem em casa. O Gonçalo Correia assistiu ao jogo entre o FC Porto e o Sporting com Tiago Mayan e o candidato apoiado pela Iniciativa Liberal jantou uma sopa, pataniscas de bacalhau e croquetes de alheira. Quando o Gonçalo lhe perguntou se tinha perdido o apetite por causa do resultado, o candidato, que além de portuense é portista, riu-se: “Nunca perco o apetite”. |