Como em todas as feiras (maiores ou mais pequenas) é normal e típico o vendedor da banha da cobra e a oleosa barraca das farturas (enquanto o integrismo da ASAE não as fecha…)
Na feira montada pela geringonça em Portugal vai para dois anos, não falta nem o vendedor da banha da cobra nem a barraca.
O bloco de esquerda instalou-a num canto da feira e vende fracturas e ilusões.
A última fractura que saiu quente da barraca e de que se fala na feira, por exemplo, é autorizar a matar pessoas que por diferentes razões caiam na fatalidade de dizer um certo número de vezes que querem morrer.
Esta questão, limite e crucial, é evidentemente dogmática e ideológica.
E falsa.
Porque não pode haver maior falácia do que a deliberada confusão mobilizada entre liberdade e a possibilidade de se poder matar alguém legalmente.
Uma ameaça social verdadeiramente diabólica.
Para não dizer que evidentemente também foram dogmáticas e ideológicas todas as outras fracturas que andam a ser servidas há anos pelo bloco de esquerda ao balcão da barraca instalada na feira.
Do desfiguramento do casamento por via da conceptualização, como tal, da união jurídica homossexual até à contratualização da maternidade (por substituição).
Das ilusões, então, nem se fala.
Da oposição à união europeia e à moeda única, até à criação de um sistema bancário detido pelo Estado, à revogação da Nova Lei do Arrendamento Urbano e à imposição de um regime de exclusividade dos deputados à Assembleia da República.
A culminar no intendido rompimento com a União Monetária, na desvinculação do Tratado Orçamental e na saída da NATO ou na pretensão na extinção deste bloco militar (numa altura em que a Rússia ameaça implementar um novo stock de armas nucleares).
Tudo isto faz parte da catilinária identitária e dogmático-ideológica do bloco de esquerda.
E é um jogo perigoso.
Razão porque a direita Portuguesa não se pode bastar com a novecentista disputa de lugares à mesa do orçamento como os demais feirantes e não se deve distrair numa deliberada incompreensão, supostamente cosmopolita, dandy e falsamente superadora, destas realidades.
Porque a direita já é essencial ao processo de reconfiguração moral nacional.
E vai ser chamada a esse processo mais cedo do que julga, porque as pessoas “andam como ovelhas sem pastor”.
Desse ponto de vista, parece-me que “erra o tiro” a ideia ultimamente projectada no CDS por Francisco Mendes da Silva “ (…) de que o PSD e o CDS se movem no mesmo espaço ideológico e que para o eleitorado do centro-direita, do ponto de vista da representação dos seus valores, é genericamente indiferente votar num partido ou no outro.”
Não pode ser indiferente porque os partidos não devem ser um albergue espanhol ideológico, sinónimo de grande confusão e barafunda…
Num mundo incerto e repleto de sinais contraditórios, os partidos relevantes devem ser dogmáticos (não como possibilidade mas como requisito), porque mobilizados por pessoas que acreditam em algo como verdadeiro e relativamente indiscutível e que afirmam aquilo em que acreditam.
Está nessa conjugação a capacidade de atracção dos partidos.
Outra questão, naturalmente, a jusante daquela, é a do indispensável realismo e pragmatismo na acção política, ou seja, no plano da necessária mediação operativa e eficaz entre uma determinada estrutura dogmática e a sua utilização diária e directa com as coisas, as pessoas e a vida.
Razão porque, ao menos na política, o dogmatismo e o pragmatismo são absolutamente duais.
E é na plena compreensão desta realidade que há-de estar o futuro êxito e crescimento do CDS em Portugal.

Miguel Alvim é advogado e membro da Comissão Política Nacional do CDS.

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