João Marques de Almeida, que leio com atenção e prazer, escreveu aqui no Observador, que mais vale uma geringonça à esquerda que uma maioria absoluta do PS. Entendo o argumentário e consigo imaginar os problemas de uma maioria absoluta socialista, mas não consigo deixar de desejar que a extrema esquerda saia do arco da governação. Não merecem ser tratados como gente responsável. Ter no Governo do meu País radicais mais ou menos alucinados, mais ou menos ex-bombistas e mais ou menos anquilosados, é demais para a minha saúde. A mim dá-me a vontade de, se o Bloco apresentasse uma proposta a determinar que a cor do cavalo branco de Napoleão é branca, votar contra.
Passo a explicar porquê;
Quando se conversa com Deputados, sejam eles da Nação ou Municipais, vem sempre aquela frase batida que nada se faz sem compromisso e cedência. Está bem abelha. Isso é o que eles vendem e que as forças democráticas compram ingenuamente. Além disso, acrescentam que o trabalhar em conjunto, leva à criação de relações de amizade (provocando no povo aquela reacção do “eles são todos amigos”) e que tal impele a um atenuar das diferenças, da crispação.
A continuar assim, qualquer dia vamos assistir aos Deputados, de mão dada, a fumar um charro e a cantar o Kumbaya.
Parto do princípio que, quem defende este tipo de colaboração, desconhece o aforismo de “trabalho é trabalho, conhaque é conhaque”. Ou seja, uma coisa é sermos amigos de alguém e não levarmos em linha de conta a sua cor partidária. Outra coisa é permitir que os nossos amigos funcionem como diluente das nossas convicções. A direita tem sido a substância que tem permitido a dispersão de outra substância no seu meio. É que é muito diferente ouvir as pessoas e tentar perceber os seus anseios e frustrações – levando isso em linha de conta na nossa acção política – de aceitar ou tentar compreender quem, enganando as pessoas, cria anseios e frustrações onde não existem. É que não é difícil perceber que estas esquerdas, que se esfregam sem pudor, tentam destruir três grandes pilares da nossa sociedade: família, tradição e liberdade económica.
Há duas pessoas — em 10 milhões — que se sentem ofendidos com a descoberta do caminho marítimo para a Índia? Ok, apague-se o feito dos livros de história. Há quem entenda que, para ele, a família é ele e um gambá? Ok, legalize-se a coisa. Há um hospital que funciona bem e é privado? Acabe-se com ele depressa, antes que se espalhe a notícia.
Prosaicamente: temos sido uns valentes totós. Acreditamos na boa fé. Acreditamos quando nos dizem que temos de trabalhar em conjunto. Acreditamos, piamente, que o que interessa é o resultado final, e desejamos que esse mesmo resultado beneficie o maior número possível de concidadãos. O problema é que não é assim que a esquerda funciona. Enquanto a direita canta Hossanas, quando consegue uma pequena vitória – quase que de Pirro – acreditando que o Céu ficou mais perto, a esquerda vê cada uma dessas suas supostas derrotas, como movimentos no tabuleiro, bem coordenados e com um fim bem delineado. A direita fica muito contente, quando as suas propostas são aprovadas por largas maiorias, ou mesmo por unanimidade. A esquerda não procura consensos. É, aliás, o lado para onde dorme melhor.
Será que a direita ainda não se deu conta que é ela quem tem vindo a perder terreno e eles – esquerda radical + alucinados – a ganhá-lo?
Também do ponto de vista táctico penso que, empurrando para o oblívio a esquerda radical e os alucinados, o PS será obrigado a tentar ir buscar esses votos, deixando espaço para os partidos à direita do PS.
Para mim é simples: enquanto aceitarmos de braços abertos as – falsas – boas intenções dos radicais, mais forte será o amplexo de urso que nos dão.
À semelhança de Marques de Almeida, deixo aqui as minhas sugestões:
- Se querem a tralha socrática e a família César, votem PS
- Se querem gente que defende o assassino da Coreia do Norte, votem CDU
- Se querem quem entende que um símio tem mais humanidade que um ser humano (mesmo que em coma) votem PAN
- Se querem que os vossos filhos sejam educados num universo paralelo, votem no Bloco
Depois não se queixem.