Depois de ter governado com a extrema esquerda, o PS está a invadir o espaço do PSD para chegar à maioria absoluta. Não há limites para a habilidade política de Costa, nem para a falta de jeito de Rui Rio. Levou o PSD de tal modo para o centro, que se arrisca a entregar parte do eleitorado social democrata ao PS. Os socialistas andam assim a namorar os eleitores do PSD. A estratégia é a seguinte: se quiserem que abandonemos as esquerdas radicais, votem em nós para alcançarmos a maioria absoluta.

O mais grave é que há eleitorado do centro direita que começa a ficar enamorado do discurso socialista e a considerar mesmo dar o seu voto a António Costa. Acham que Rio e Costa são iguais e sabem que o PSD não tem qualquer hipótese de vencer as eleições. Por isso, para eles, o voto útil é afastar o PCP e o Bloco do poder. Este eleitorado está completamente enganado. A geringonça é má. Não há qualquer dúvida sobre isso. Mas uma maioria absoluta do PS é ainda pior.

Antes do voto de Outubro, convém recordar muito bem o que foi a maioria absoluta do PS de Sócrates. Foi o período mais negro da vida política portuguesa desde o 25 de Abril. O PS absoluto tentou mandar em tudo o que havia para controlar, desde a economia até às instituições do Estado e aos órgãos de soberania. Na economia tentaram controlar bancos, como o BCP e a Caixa, e as maiores empresas cotadas, como a PT. No Estado, controlaram tudo, desde a Procuradoria-Geral até ao Supremo Tribunal e ao Banco de Portugal. O então Presidente da República, Cavaco Silva, foi o único resistente ao poder absoluto do PS.

De certo modo, a história repete-se. Agora, Marcelo Rebelo de Sousa tudo fará para impedir a maioria absoluta socialista. Ele sabe muito bem como seria péssimo para o país (e como daria cabo do seu segundo mandado). Até Outubro, o Presidente da República será o líder da oposição a uma maioria absoluta do PS. E faz muito bem. Um PS absoluto constitui uma ameaça ao bom funcionamento da democracia portuguesa. Os socialistas não aceitam dissidência, nem oposições. Quando mandam, todos devem obedecer. E quando mandam absolutamente, todos devem obedecer absolutamente. Aliás, os próprios socialistas sabem o quanto o país teme um PS absoluto. Andam a pedir uma grande vitória, mas são incapazes de pedir abertamente uma maioria absoluta. Eles sabem muito bem o que fizeram quando a tiveram. E tirando Sócrates, são os mesmos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Além disso, é uma ilusão acreditar que são os comunistas e os bloquistas a impedir as reformas que o país precisa. O PS é igualmente um partido anti-reformista. Os socialistas olham para as reformas económicas e sociais como ameaças ao poder da sua base eleitoral. O PS nunca fará a reforma do Estado necessária, nem das políticas públicas essenciais como a educação, a saúde e a segurança social, nunca colocará a iniciativa privada no centro da economia nacional e nunca baixará a carga fiscal. O PCP e o Bloco servem apenas de desculpa para o PS justificar a ausência de reformas ao eleitorado centrista e reformista.

Poder-se-ia argumentar que a influência das esquerdas radicais seria negativa para a despesa pública e para o respeito pelas regras da zona Euro. Mas não é, como mostraram os últimos quatro anos. Os comunistas e os bloquistas fazem muito barulho mas na hora da verdade votam a favor dos orçamentos aceitáveis para Bruxelas. Aliás, um PS absoluto seria uma ameaça maior às contas públicas do que a geringonça. Mais uma vez recordem os anos de Sócrates. Um PS absoluto deixa de se controlar a si próprio (apenas controla os outros), incluindo na despesa pública. Foi a companhia do PCP e do BE que obrigou o PS a portar-se bem em relação à despesa pública. Que assim continue.

As vitórias eleitorais podem definir-se de várias maneiras. Foi isso que António Costa mostrou ao país em 2015. Todos os não-socialistas devem ter um grande objectivo para as eleições de Outubro: impedir a maioria absoluta do PS. E há muitas maneiras de o fazer.

Apesar de Rui Rio, o PSD é diferente, para melhor, do PS. Tentem esquecer Rui Rio e votem no PSD.

Se não conseguirem esquecer Rui Rio nem os seus aliados, entendo perfeitamente, votem no CDS.

Se estiverem muito desiludidos com Assunção Cristas, também entendo, votem na Aliança ou na Iniciativa Liberal.

Aliás a Aliança e a Iniciativa Liberal deveriam fazer uma coligação pré-eleitoral e fazer uma campanha eleitoral à volta de dois grandes temas: diminuição enorme da carga fiscal e colocar a iniciativa privada no centro da economia do país. Sem iniciativa privada não há riqueza. Uma coligação Aliança/IL, que lutasse contra a ditadura fiscal em que vive a sociedade portuguesa, deveria ter como objectivo a passagem da barreira dos 5% de votos.

Deixo um apelo a todos os eleitores não-socialistas. Votem como quiserem, mas não contribuam para a maioria absoluta do PS. Como se viu com Sócrates, um PS absoluto é muito mau para Portugal. Foi essa a grande virtude do governo de António Costa: mostrou que o PS é menos mau quando está acompanhado pelo PCP e pelo BE do que quando está sozinho com poder para fazer o que quer. Em 2015, não sabia, mas agora já sei.