Nunca desejámos tanto uma vacina, nunca esperámos tão pouco pela sua descoberta.

Conseguem imaginar quanto tempo demoraríamos a reconhecer como segura e eficaz, e a comprar a vacina da Covid-19 se estivéssemos sozinhos a travar esta batalha? A resposta, país a país, na situação de emergência em que vivemos, seria uma tragédia, tanto pelas dificuldades de negociação, como pelo custo final que tal acarretaria.

A Comissão Europeia celebrou acordos de compra antecipada com vários laboratórios farmacêuticos para todos os Estados-membros, que a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) autorizará de acordo com normas de segurança e eficácia. A autorização da vacina da Pfizer-BioNTech foi apenas a primeira e permitirá que se comece a vacinação ainda em 2020, simbolicamente uns dias antes do aniversário dos primeiros relatos de um vírus desconhecido.

No caso de Portugal, foram reservadas 22 milhões de doses, suficientes para distribuir as duas doses por cada habitante. O mesmo processo de compra conjunta aconteceu já ao longo da crise com outro material de proteção médica e testes.

O Parlamento Europeu saudou esta rejeição do “nacionalismo vacinal”, afirmando que a União deve desempenhar um papel de liderança na promoção do acesso às vacinas em todo o mundo. As vacinas não podem ser um privilégio dos países ricos e, por isso, são precisas medidas para garantir uma distribuição justa e a proteção dos mais vulneráveis, dentro e fora da Europa.

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Antes disso, muito antes, a União Europeia apoiou financeiramente o sonho de um cientista austríaco, em que ninguém acreditava, como conta Carlos Moedas, na altura Comissário dessa área. Ingmar Hörr queria produzir uma vacina muito diferente das habituais (mRNA). O seu sonho tornou-se realidade e deu origem a uma empresa, hoje valiosa, a CureVac, que vai produzir uma das vacinas contra a Covid, incluída no acordo da Comissão, e investiga ainda novos medicamentos para tratar o cancro e doenças raras. Eis o que não podemos esquecer quando tudo isto passar, a importância do investimento na ciência e na investigação.

Falamos pouco desta outra Europa e muito mais da dos apoios financeiros que dela recebemos regularmente. Não menorizo a importância deste tema, especialmente agora que chegará dinheiro solidário, a fundo perdido, para ajudar na recuperação. Imaginem nesta crise mundial o que é a situação de outros países, em África ou na América Latina, como o Brasil, que não podem contar com essa ajuda extraordinária. Porém, há muito mais Europa no meio desta pandemia, como mostra este caso das vacinas.

Ao vermos como estão presentes no nosso dia a dia, na saúde e na doença, na educação e na ciência, talvez as instituições europeias nos pareçam mais próximas. Talvez assim nos sintamos mais vezes com a alma de europeus, com o mesmo orgulho de sermos Portugueses.