A crise política do Natal e do Ano Novo mostrou que quase ninguém acredita que o governo dure até 2026. O discurso de Ano Novo do PR foi muito claro: Marcelo Rebelo de Sousa não acredita que António Costa fique em São Bento até 2026. Costa, por seu lado, não quer ficar, mas não sabe como sair. Idealmente, iria para Bruxelas em 2024. Mas será muito difícil. Até lá, tentará arranjar uma maneira de fugir sem os portugueses o culparem. Mas se abandonar antes de 2026, ficará para a história como o único PM de um governo de maioria absoluta de um partido que não acabou o mandato. Costa enfrenta um dilema: fica contrariado até 2026; ou terá um fracasso histórico. Pelo meio, vai tentar influenciar a sua sucessão, sobretudo se não conseguir partir. Se for para Bruxelas, abandonará o PS e Medina à sua sorte.

Igualmente muito significativo, Pedro Nuno dos Santos também não acredita que este governo socialista fique no poder até ao fim da legislatura. Se acreditasse, teria continuado no governo. Na crise do novo aeroporto, no início do Verão, PNS fez tudo para se manter no governo. Agora, na crise do Natal e do Ano Novo, aproveitou para fugir. Nos seis meses que passaram, PNS percebeu duas coisas. O governo vai acabar mal, e ele quer estar fora quando isso acontecer. E também reconheceu que não é capaz de resolver o problema da TAP, o presente envenenado de Costa para o tramar. PNS teve que se libertar da TAP e sair do governo para preparar a sua candidatura à liderança do PS. Primeiro, PNS pensa na sua carreira política; depois, no seu partido; por fim, preocupa-se com o país.

A encenação que fez, ‘saiu porque não está agarrado ao poder’, foi uma farsa, e só passou porque Medina não se demitiu. PNS ganhou o primeiro round do combate a Medina. Mostrou que tem coragem para lutar contra António Costa fora do governo. Medina precisa de dar a mão a Costa para chegar ao topo. Quem nasce para número dois, raramente chega a número um. Mas a fraqueza de Medina não nos deve iludir em relação a PNS. Ele saiu do governo não porque não esteja agarrado ao poder, mas porque quer o poder e depressa.

A atração de muitos socialistas por PNS é igualmente um mistério. Foi secretário de Estado num momento demasiado fácil. A geringonça foi feita contra Passos Coelho. Não foi necessário um talento político especial para o PCP e o Bloco apoiarem o primeiro governo de Costa. PNS não foi testado com a geringonça. Depois foi ministro, mas abandonou o governo antes de concluir a sua principal tarefa: resolver o problema da TAP. No outro dossier importante, o novo aeroporto, em vez de ajudar a decidir, apenas aumentou a confusão.

Pior de tudo, nunca ganhou qualquer eleição individual, nem autárquica nem para a liderança do PS (ser eleito deputado em listas partidárias não conta). Ou seja, em termos eleitorais, ninguém sabe se PNS vale alguma coisa. Aliás, se PNS quiser mostrar que é um activo eleitoral, deveria candidatar-se como cabeça de lista do PS às eleições europeias em 2024. Teria uma certa graça que fosse ele, e não Costa, a ir para Bruxelas. Mas duvido que isso aconteça porque PNS não tem coragem suficiente para concorrer a umas eleições onde os portugueses, e não apenas os militantes socialistas, votam.

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