Constitucionalmente previsto, a greve é um direito. Consequentemente ele tem como objetivo alertar para um leque de situações de uma determinada classe profissional e obviamente o seu efeito traduz-se num impacto direto na vida do cidadão.
Todos os dias há greve de qualquer coisa. Ou seja, todos os dias os cidadãos são privados de “adquirir” determinados serviços públicos. Porém, enquanto se enchem páginas de jornais sobre o tema, há vidas que são deixadas para trás num digladiar em público de passa culpas.
Os sindicatos banalizam a greve. Não a sabem fazer e não percebem que têm nas mãos um perigoso instrumento abusando do direito constitucional que lhes assiste, que socialmente os cidadãos não conseguem perceber. Isto é, o alvo dos sindicatos somos nós, e nós, entendendo algumas das suas reivindicações, também sentimos que há um grande exagero no uso da greve. Os sindicatos sabem disso, entendem isso, mas o poder que têm é tal que estão completamente “nas tintas” se causam com a greve um grande ou pequeno dano à sociedade.
Os cidadãos, aqueles a quem naturalmente as greves mais prejudica, assistem todos os dias à paralisação dos serviços públicos por tudo e por nada. As suas vidas ficam suspensas e não se conseguem planear a semana, tudo porque os sindicatos entendem, e têm o poder de o fazer, que se deve parar o país.
Se se disser que há demasiados sindicatos, o que de certa forma é verdade, rapidamente vira alguém alertar que se estará a atentar contra o Estado de Direito. No entanto, as pessoas que não podem ir trabalhar porque um qualquer sindicato afecto à CP não permite que os comboios circulem, ou porque não há condições para deixar os filhos sozinhos numa qualquer greve de escolas, também é um atentar contra o Estado de Direito.
Aliás, no sector da educação não será exagerado dizer-se que há mais greves que aulas. E este é o espelho de um país demasiadamente atrasado, que não consegue perceber que a greve é hoje aplicada em exagero, banalizando o seu uso. Todos sabem que assim é, e todos sentem de facto que os sindicatos são abusadores natos da lei, mas o seu poder é de tal forma forte que pensar-se em mexer na lei é visto como acto antidemocrático.
O Direito a qualquer coisa não dá o direito de abusar dele. Há que perceber o alcance e a magnitude do uso de determinados direitos e quando eles possam atacar demasiado a vida dos cidadãos há que repensar o uso desse direito.
Não podemos negar o uso da greve. Não podemos ignorar a sua aplicação no que concerne aos direitos dos trabalhadores. Mas podemos enquanto cidadãos exigir que se repense naquilo que o país tem ganho com o sistemático uso da greve. A educação é talvez o sector da sociedade em que mais é notória a força sindical, e os alunos são o alvo principal de uma visão retrógrada da sociedade.
Saber fazer greve, ou melhor, saber usar o direito à greve, requer perceber o direito que se tem e o nível de desenvolvimento social e económico. Requer também entender e balancear o seu custo social.
Obviamente que algum prejuízo terá que haver porque no fundo o que a greve quer é provocar exactamente o dano.
Mas as perguntas impõem-se :
– Não haverá danos a mais ?
– Será que o país aguenta, social e economicamente, os prejuízos que o sindicalismo de hoje tem provocado?
– O modelo que os sindicalistas usam ( e abusam) é um modelo socialmente responsável ?
O preço que estamos a pagar é demasiado caro. Tão caro que há vidas humanas em risco, um futuro em suspenso e um desenvolvimento social e económico comprometido. A greve é de facto um direito mas que se perde socialmente quando se abusa dele.