Como nos lembram com frequência, António Costa é um génio político. Um estratega exímio, sempre quatro ou cinco movimentos à frente dos adversários. Impossível passar-lhe a perna, de tão atento que está. É raro errar, garantem.

Por isso, quando convida para seu braço direito uma pessoa que, ou é um tolo que se deixou enganar por um intrujão, ou um co-vigarista que, com o seu cúmplice, ludibriou todo um município, sabemos que algo de muito grave se passa com o nosso PM. Se há coisa que não acontece a António Costa, essa raposa velha, é ser apanhado de surpresa. Portanto, é certo que Costa sabia estar a introduzir, no âmago do seu círculo íntimo, um idiota ou um gatuno. Conscientemente, convidou para um cargo de confiança pessoal um imbecil ou um ladrão. Escolheu, para confidente, um burro ou um aldrabão. Aliás, mais esperto do que nós, Costa até saberá qual das duas opções, néscio ou embusteiro, é a correcta. Porque é que o fez, então? Porque é que chamou um palonço ou um charlatão?

A resposta é simples: não tinha alternativa. Quando António Costa percebeu que precisava de um secretário de Estado adjunto, consultou a sua lista telefónica e viu que Miguel Alves, o palerma ou impostor, era a melhor escolha. Imagine-se quem terão sido os outros candidatos rejeitados. Rosa Grilo? Armando Vara? Duarte Lima? Um daqueles broncos do Big Brother?

A não que eu esteja a subestimar António Costa. É bem possível. Se calhar, o PM não optou por Alves em desespero de causa, por ser o mal menor, mas escolheu-o por ser mesmo o melhor candidato para a função. Às tantas, chamou-o justamente por possuir uma dessas duas características, a falta de inteligência ou a capacidade de dar golpes com dinheiros públicos. Sobre essas hipóteses não consigo opinar. Desconheço a composição do gabinete do PM, não sei de qual das valências tem mais falta. Ou de um tonto para ir buscar cafés, tirar fotocópias e organizar pastinhas por cores; ou de um burlão para facilitar moscambilhas. Só o vamos descobrir quando António Costa nomear um sucessor. Nessa altura, logo se vê se é um otário ou um larápio.

É por causa de casos como o de Miguel Alves que não posso, em boa consciência, criticar a nomeação de um jovem de 21 anos para o cargo de assessor da Ministra de Estado e da Presidência. Tenho Mariana Vieira da Silva como uma pessoa precavida e por isso percebo perfeitamente a escolha. A única forma de Vieira da Silva integrar no gabinete um militante do PS que, passados 15 dias, não aparece envolvido numa investigação judicial, é contratá-lo o mais novo possível. Quanto mais novo, menos tempo para ter participado numa golpada. As pessoas queixam-se que Tiago Cunha não tem experiência, mas é óbvio que ele foi contratado precisamente por não ter experiência. O tipo de experiência que uma destas jovens promessas do PS costuma adquirir é daquela que não enriquece currículos, agrava sentenças. Aos 21 anos, qual a probabilidade de já ter tirado 300 mil euros dos cofres de uma autarquia para entregar a um gordinho careca com ar de nunca ter construído um castelo de areia, quanto mais um pavilhão multiusos? Aos 21 anos, quantos ajustes directos com a empresa da mulher de um camarada do partido é que pode ter autorizado? Aos 21 anos, quantos familiares de outros militantes socialistas há-de ter nomeado? Aos 21, pode ainda não ter idade para ter juízo, mas ao menos também não tem idade para já ter ido ao Juízo Central Criminal de Lisboa.

Com 21 anos, o máximo que Tiago Cunha conseguiu fazer foi copiar num teste de Português. Ou roubar um chupa-chupa na mercearia do bairro. Ou estacionar o carro muito perto da passadeira de peões. Sejamos justos, com 21 anos nem o Sócrates – que era o Sócrates! – tinha conseguido gamar muito.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR