O Rei dos Catalisadores. “Vítor Macedo, conhecido por “Rei dos Catalisadores” pelos diversos furtos a que está associado, atropelou um ciclista, neste sábado de manhã, quando seguia em contramão num carro furtado, junto ao Hospital da CUF, na Circunvalação, Porto. Intercetado pela PSP, o “Rei dos Catalisadores” foi detido” — Portanto dia 8 de Outubro, sábado, o “Rei dos Catalisadores” foi detido, coisa que pode parecer difícil de entender para aquelas pessoas que desligaram das notícias na quinta-feira, dia em que a GNR detivera em Vila do Conde o mesmíssimo Vítor Macedo, homem suspeito de mais de uma centena de furtos, incumprimento de inúmeros termos de identidade e vários outros delitos. Ora acontece que na sexta, dia 7, o Rei dos Catalisadores foi posto em liberdade. Rouba um carro na madrugada de sábado, 8, e horas depois dá-se o atropelamento do ciclista. Presente a juiz fica em prisão preventiva, coisa que a todos, e certamente ao próprio, pareceu espantosa, inacreditável até, acrescento eu.
Esta era a nona detenção que acontecia a Vítor Macedo nos últimos seis meses. Invariavelmente era mandado em paz e sossego com uns termos de identidade que nunca cumpriu. Foi necessário roubar um carro, conduzi-lo em contra-mão e atropelar um ciclista para que o “Rei dos Catalisadores” ficasse em prisão preventiva. O ciclista que me perdoe mas, sem o contributo da sua clavícula partida, Vítor Macedo teria prosseguido na actividade que fez dele o “Rei dos Catalisadores” e a provocar acidentes como este de Outubro, não muito diferente do ocorrido em Maio, quando Vítor Macedo circulou em marcha-atrás na VCI, no Porto, para fugir à PSP, que o surpreendera em flagrante delito de roubo de catalisadores. Também aí houve um acidente, também aí a viatura era furtada, também aí aconteceu a condução em sentido contrário… só não houve clavículas partidas.
Vítor Macedo merece por isso o título de rei, não tanto pelo valor do que rouba, ou sequer pelo número de assaltos de que é suspeito ou por estar envolvido em mais de 140 processos, mas sim porque prova como o legislador não atende à realidade sobre a qual legisla: os crimes praticados por Vítor Macedo têm uma moldura penal até três anos, logo não se lhes aplica a prisão preventiva ou domiciliária. Que se trate de um crime ou de 100 é indiferente, explicam os especialistas. Nada disto faz sentido mas a indiferença e o preconceito face às consequências da chamada pequena criminalidade são um dos traços identitários dos reizinhos do poder. O Rei dos Catalisadores é um dos vários monarcas em que o país é pródigo. Temo-los para o mal mas também para o bem. Afinal temos o Rei dos Frangos. Das bifanas. Da sucata e dos pneus. Das fardas a das samarras. E, claro, do bacalhau e dos leitões.
Em boa verdade aqueles a quem, no Portugal republicano, chamamos reis representam não a nação mas sim o modo de vida da nação. O que surpreendia no modo de vida do Rei dos Catalisadores não era o que ele fazia de ilegal mas sim o que nos revelava da justiça e da legalidade.
Os Reis do Desconcerto. Os portugueses. Aceitaram placidamente que Pedro Nuno Santos gastasse na TAP mais de 5 mil milhões de euros numa nacionalização que nada, a não ser o capricho ministerial, justificava. Ergueram as sobrancelhas quando o ministro, num dos momentos mais insólitos de um governo em qualquer sítio do mundo, anunciou um novo aeroporto à revelia de toda a gente. Mas acham agora que estão perante um caso grave quando são informados de que uma empresa do pai do ministro fez um contrato público por ajuste directo no valor de 19.110 euros. Os portugueses, porque são eles o sujeito destas constatações, são assim: perdoam e até premeiam políticas que os empobrecem; desculpam opções que nada, a não ser a corrupção, explicam, mas sacam dos princípios quando vislumbram um caso, sobretudo se o caso meter maridos, mulheres, filhos e sobretudo se os montantes envolvidos forem numa escala que entendam, logo, baixos. Os casos, já se sabe, são a ferrugem dos governos, sobretudo daqueles a que nada mais parece afectar. Mas os casos são também a espuma que distrai do maior caso de todos: o mau Governo.
O Rei do Descaramento. Eduardo Cabrita. O homem não se enxerga, mesmo. Quando se pensava, ou pensava eu, que o ex-ministro da Administração Interna estava a procurar alguma serenidade e recato, eis que se sabe que se candidatou ao cargo de diretor executivo da Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira (Frontex). Sim, o ministro que se manteve num insuportável silêncio no caso da morte de um trabalhador atropelado pela viatura em que seguia, o titular de um cargo político que teve membros do seu gabinete envolvidos no caso das golas anti-fumo, o homem que era ministro da Administração Interna quando morreu Ihor Homeniuk nas instalações do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) no aeroporto de Lisboa, achou adequado candidatar-se ao cargo de director da agência que tem a responsabilidade do controlo das fronteiras europeias. Existem mais 77 candidatos ao lugar, o que me dá 77 razões para acreditar que não passaremos pela vergonha de ver Eduardo Cabrita ser escolhido. Por fim, quando se ficará a saber se o Governo está a apoiar esta candidatura?