1 A tensão da civilização
Uma das maiores referências intelectuais do século XX é o filósofo austríaco Karl Popper, célebre na filosofia da ciência, mas particularmente perspicaz no domínio da reflexão política. A sua distinção clássica entre sociedades abertas e sociedades fechadas, consagrada em A sociedade aberta e os seus inimigos e A Pobreza do Historicismo, permite-nos refletir sobre as características das sociedades abertas ocidentais, construídas sobre os valores da democracia liberal, e compreender as suas forças e fraquezas. Uma dessas fraquezas é aquilo que Popper designa por “tensão da civilização”, que resulta do exercício da liberdade que as sociedades abertas permitem. Esse exercício pressupõe decisões individuais e consequente responsabilidade pessoal e assunção de riscos, do que resultam dificuldades e desafios que originam a tal tensão da civilização. Como diz João Cardoso Rosas, no ensaio “Democracia e Anti-liberalismo”:
“A tensão da civilização alimenta uma certa nostalgia pelo alegado paraíso perdido da sociedade fechada, na qual não era preciso carregar o fardo da razão e da responsabilidade individual. É claro que o regresso à sociedade fechada ou tribal não é possível, e é também certo que ela não constituía nenhum paraíso. Mas a nostalgia existe em todas as sociedades abertas e ela é, segundo Popper, a raiz do totalitarismo.”
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