Com a demissão de Boris Johnson, chegou ao fim a chamada geração de ‘Notting Hill’ que liderou os conservadores desde 2005, quando David Cameron chegou a líder do partido. A geração urbana e afluente, educada em instituições tradicionais – como Eton e Oxford – quis modernizar os tories. Cameron e Boris estudaram juntos em Eton e em Oxford, onde também estudaram as outras duas grandes figuras desta geração, George Osborne e Michael Gove. Dificilmente, poderiam ser mais ingleses, na educação, nos costumes, nas ideias e no modo como olhavam para o lugar do Reino Unido na Europa e no mundo.

O Brexit foi o lado mais negativo da herança desta geração. No fundo, pouco distinguia o modo como olhavam para a União Europeia, o que os separou foi terem liderados campos opostos durante o referendo. Mas Cameron era um ‘remainer’ com muitas inclinações de um ‘brexiter’, tal como Boris sempre foi um ‘brexiter’ com ideias muito próximas dos ‘remainers.’ Mas ambos conquistaram duas grandes maiorias eleitorais. E ambos as desperdiçaram sem as terem aproveitado. Cameron por causa do referendo, e Boris por causa do seu comportamento, impróprio de um PM.

Mas a geração de ‘Notting Hill’ conseguiu mesmo modernizar o partido. Reparem nos seis candidatos que foram às rondas finais da eleição para a liderança do partido: Suella Braverman, Kemi Badenoch, Tom Tugendhat, Penny Mordaunt, Liz Truss e Rishi Sunak. Em seis candidatos, quatro mulheres, e três de minorias étnicas. Comparem com a última eleição para a liderança do partido trabalhista: dos cinco candidatos, três eram mulheres, mas todos eram britânicos brancos. Apesar da imagem do partido conservador, os seus candidatos à liderança reflectem muito melhor a diversidade da sociedade britânica do que os candidatos trabalhistas.

O ponto mais interessante na diversidade dos conservadores é a demonstração que pessoas de origem social desfavorável, de origem indiana, muçulmanos e negros acreditam nas ideias conservadoras e liberais clássicas. Não chegaram ao Partido Conservador por tradição familiar nem pelas escolas onde estudaram. Acreditam convictamente nos valores tradicionais conservadores, e serão fundamentais para consolidar o partido numa sociedade mais plural. Mostram que os filhos dos imigrantes não estão condenados a votarem nos partidos de esquerda e que percebem que as políticas de direita são as mais favoráveis para quem quer enriquecer. Kemi Badenoch simboliza a nova geração conservadora. Foi a grande revelação da campanha e desempenhará um papel central no futuro dos tories.

Sunak e Truss irão agora lutar pela liderança dos conservadores na última volta das eleições onde votam os membros do partido, e não apenas os deputados. Será uma eleição disputada, renhida, cujo resultado é difícil de prever. Independentemente de quem seja o novo líder, o partido conservador tem todas as possibilidades de ganhar as próximas eleições. O fim acidentado de Boris colocou o partido em segundo lugar nas sondagens, mas com condições para recuperar. E não nos podemos esquecer de um ponto importante: desde 1974, e de Harold Wilson, Tony Blair foi o único líder trabalhista a ganhar eleições. Todos os outros perderam. Nesse longo período, cinco líderes conservadores ganharam eleições: Thatcher, Major, Cameron, Theresa May e Johnson. Desconfio que haverá um sexto a ganhar.

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