Em 2019, quando se disputavam as primárias para as eleições presidenciais norte americanas, o Partido Democrata tinha um objetivo central: derrotar Donald Trump. Não se tratava apenas do comportamento errático do presidente. Tratava-se também daquilo que a ciência política chama “comportamento tribalista”, em que um grupo, neste caso político-partidário, está mais interessado na derrota do outro do que na sua própria vitória.

Nestas circunstâncias, a esquerda norte-americana deparou-se com um dilema: eleger um candidato moderado que desse mais garantias de vitória eleitoral nas presidenciais ou um candidato outsider que pudesse causar anticorpos no eleitorado (Bernie Sanders seria a escolha mais óbvia, mas havia mais possibilidades). A escolha acabou por recair em Joe Biden. Se Hillary Clinton tinha provado, quatro anos antes, que havia questões com candidatos do sistema, os democratas estavam agora mais atentos à disrupção cibernética russa, e Biden reunia muito mais simpatias que a antecessora. Parecia disposto a unir o partido, mantendo o seu programa e fazendo cedências aos progressistas – como se viu mais tarde, na escolha de Kamala Harris para vice-presidente.

Mas a verdade é que Biden nem chegou a estar em “estado da graça”. O seu discurso de aceitação estava já manchado pelos acontecimentos de 6 de janeiro, que demonstravam que não havia grande espaço para reconciliações. E o cenário só se foi degradando nos últimos dois anos: autores que escreviam sobre polarização referem-se agora ao fenómeno americano como “extremismo político-partidário” e usam termos como “hostilidade violenta” para classificar as relações políticas e sociais nos Estados Unidos.

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