Enquanto nos vamos entretendo com a pandemia e debates eleitorais, o mundo perceciona a tempestade que se avizinha. A inflação está aí e aqueles que a consideraram temporária vão mudando o discurso. Os juros iniciam a trajetória ascendente, o BCE não nos pode salvar para sempre e o nosso montante gigantesco de dívida coloca-nos outra vez na rota da bancarrota. Perante este cenário, devemos nós deixar finalmente o PS pagar pelos seus erros e governar em tempos de vacas raquíticas? Será o voto no PS um sacrifício necessário para que os portugueses fiquem vacinados contra o despesismo, compadrio e falta de visão que caracterizam o nosso partido de poder?

À primeira vista sim, seria uma boa vacina. Mas, será que votando no PS, mesmo em tempo de vacas magras, o peso do Estado será reduzido? Muito pelo contrário, o contínuo crescimento do número de funcionários e a ausência de aposta tecnológica, como forma de libertar recursos necessários para áreas críticas como a saúde, serão uma constante. O número de pessoas dependentes do orçamento de estado continuará a aumentar, exigindo uma cada vez maior carga fiscal e com isso a capacidade de crescer estará cada vez mais limitada.

Por outro lado, se deixarmos o PS mais uns anos no poder caminharemos para um cenário em que 50% da população empregada recebe o salário mínimo, uma sociedade nivelada por baixo, em que somos todos cada vez mais igualmente pobres e dependentes de serviços públicos de baixa qualidade. Simultaneamente, será perpetuado um sistema em que meia dúzia de empresas rentistas terão o seu sustento assegurado, com o gasóleo dos fundos europeus a ser o combustível de que tanto precisam para sobreviverem coladas ao estado.

O voto no PS perpetuará o SNS como um sistema universal de acesso a listas de espera, com cada vez mais profissionais mal pagos e desmotivados, levando à transição para o privado daqueles que podem pagar um seguro de saúde, promovendo mais uma vez um país de dois sistemas: SNS dos pobrezinhos vs hospitais privados dos remediados. E perante esta visão, ou falta dela, continuaremos a desperdiçar o que gastamos a formar profissionais. O Ensino Superior funcionará como uma janela de oportunidade para os nossos diplomados, mas sobretudo para os nossos vizinhos europeus, que continuarão a usufruir dessa qualidade sem incorrer no custo da sua formação.

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E será o PS capaz de promover alguma simplificação fiscal, para não falar de desagravamento, que possibilite aos cidadãos e empresas passar menos tempo a trabalhar para suprir as necessidades do fisco? Ao verificar os diversos “Vouchers” que nos têm assombrado nos últimos meses, também não será por aqui o caminho. O PS não prescinde de formas burocráticas de devolução de impostos, por muito complicadas e irrelevantes que sejam, desde que estas parcas benesses lhe permitam alimentar a máquina de propaganda e distribuir uns trocos pelos seus criadores, que nem que seja pela criatividade das soluções até merecem ser recompensados.

Mas descansem caros leitores, apesar de tudo com o PS no poder vamos aprovar um qualquer decreto que promova a Regionalização, invertendo a concentração de poder e riqueza em Lisboa (com umas migalhas para o Porto), promovendo-se agora sim um país mais sustentável. Ou talvez não, pois confiar a tarefa a quem nem a desconcentração de Lisboa do Infarmed ou Tribunal Constitucional consegue concretizar, certamente não terminará bem. Existirá mais despesa estatal, um mapa que refletirá as divergências de regiões de um Portugal de há 50 ou mais anos, mas descentralização não teremos certamente.

A vontade de penalizar o PS pelo voto é certamente muita, imaginar um cenário de justiça divina em que a bomba criada pelos socialistas lhes rebenta nas mãos é tentador, mas quem quer um Portugal habitável não deve tomar essa opção. A bomba irá acabar por rebentar nas nossas mãos, mas nesse momento será preferível ser liderado por alguém que seja capaz de nos fazer sair do buraco ou por um coveiro socialista?