É uma constante na nossa sociedade: a crítica fácil, o comentário de café e a indignação  passageira sobre o estado das coisas. Frases como “Isto está mal”, “aquilo deveria ser  diferente” ou “os políticos não fazem nada” são repetidas até à exaustão. Contudo, por  mais que se apontem os defeitos, raramente se avançam para soluções concretas. E,  mais importante, raramente há ação por parte daqueles que mais se queixam. Parece  que, em Portugal, a virtude foi reduzida ao simples ato de criticar, enquanto a verdadeira  transformação, que surge da ação, é deixada para um futuro incerto.

A virtude não se encontra apenas em identificar o que está errado. Ela reside na  capacidade de enfrentar problemas, pensar em soluções e, acima de tudo, agir. E agir  não precisa ser grandioso; são os pequenos gestos do quotidiano que fazem a diferença.  O problema é que estas ações estão frequentemente ao nosso alcance, mas, por inércia  ou hábito, continuamos a esperar que “os de cima” façam por nós o que poderíamos – e  deveríamos – fazer sozinhos.

Veja-se o exemplo dos espaços públicos. Quantas vezes se ouve alguém reclamar do  lixo nas ruas, das calçadas maltratadas ou dos jardins desleixados? O primeiro impulso  é apontar o dedo ao poder local, ao município, aos “serviços”. É verdade que essas  entidades têm um papel a desempenhar, mas quantos dos que criticam se levantam para  apanhar um papel do chão? Quantos se organizam em grupos de voluntariado para  cuidar dos espaços da sua comunidade? Estes pequenos atos, que poderiam ser  realizados em minutos, são muitas vezes ignorados em prol de uma crítica que nada  muda.

A mesma lógica aplica-se à mobilidade urbana. Muitos reclamam do trânsito caótico, da  falta de transportes públicos ou do crescente impacto das emissões de CO2. Contudo,  quantos optam por caminhar distâncias curtas, usar a bicicleta ou partilhar um carro? O  que vemos, na maior parte das vezes, é uma espera passiva de que as políticas públicas  resolvam tudo. A mudança deve começar nas nossas escolhas individuais.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Esta tendência reflete um padrão mais amplo da cultura cívica nacional. Espera-se que  os políticos resolvam, que o Estado intervenha, que alguém tome a dianteira. Sem  dúvida, os políticos têm responsabilidades, e as suas decisões influenciam o rumo das  comunidades. No entanto, reduzir a virtude ao simples exercício da crítica, sem ação

concreta, é abdicar do nosso papel enquanto cidadãos. Se realmente queremos mudança,  ela deve começar com cada um de nós, nas pequenas coisas. Pequenos gestos podem ter  grandes impactos.

Um exemplo disso são os bairros que, por iniciativa dos seus moradores, se organizaram  para criar hortas comunitárias ou revitalizar os espaços verdes. Não houve câmaras  municipais a liderar essas ações, mas sim cidadãos que entenderam que a mudança  começa com a ação coletiva, e não com a espera passiva por soluções que vêm de cima.  Estes gestos podem parecer modestos, mas são as sementes de uma transformação mais  profunda.

No final de contas, a verdadeira virtude está em fazer, em agir, e não em esperar.  Esperar que os políticos façam o trabalho que também é nosso, enquanto cidadãos, é  abdicar da responsabilidade coletiva de melhorar o espaço que habitamos. A chave para  uma sociedade melhor está em agir no nosso quotidiano, nas pequenas coisas, naquilo  que sabemos que pode fazer a diferença.

Se todos nós fizermos um pouco, o impacto será sempre maior do que qualquer crítica  vazia. Não podemos esperar que a mudança venha apenas de cima, se não estivermos  dispostos a contribuir para ela aqui em baixo. A verdadeira transformação social  depende de cada um de nós. Quando cada cidadão decide agir, mesmo que em pequena  escala, o efeito cumulativo pode ser notável. Portanto, deixemos de lado a crítica  improdutiva e adotemos uma postura mais ativa e responsável. A virtude de fazer, em  vez de esperar, deve ser a nossa máxima. A mudança começa nas nossas mãos, e é nosso  dever fazer a nossa parte.