“Olhos de Água”! Era isso. Andava há semanas a tentar lembrar-me qual tinha sido a maior novela em torno de gémeas, antes desta da cunha do Presidente da República, e finalmente lembrei-me. “Olhos de Água”, cantava estridentemente o Toy no genérico da novela. Passaram mais de vinte anos e ainda hoje, só de invocar o tema, fico, qual Bonga, com uma lágrima no canto do olho. Não pela beleza da interpretação, como podiam ser levados a crer, mas por constatar quão repleto de informação inútil está o meu cérebro. Quando devia estar a poupar espaço para dados fundamentais em tantas tertúlias, como seja saber as temporadas em que King e Paredão pontificaram no SLB.

Voltando à cunha de Marcelo Rebelo de Sousa no caso das gémeas luso-brasileiras, a ideia que me dá é que, a ser necessário, o Presidente da República atira até o próprio filho para baixo do autocarro. O que será, por si só, triste, mas tem ainda a agravante de, caso Nuno Rebelo de Sousa pretenda ser assistido no Hospital de Santa Maria, em princípio não poder contar com uma cunha do pai.

Do que pouca gente fala é do facto de, muito provavelmente, na génese desta, digamos, hipotética cunha, ter estado o facto de o medicamento de que as meninas gémeas precisavam custar quatro milhões de euros. Quatro milhões de euros custa o Zolgensma. Nem imagino quanto investimento em investigação científica está por trás da criação deste fármaco, mas posso garantir que o investimento em marketing foi zero. Zolgensma? Quer dizer, uma pessoa vai à farmácia, desembolsa quatro milhões de euros, e leva para casa uma embalagem de Zolgosma? Por quatro milhões de euros não se inventava um nome um bocadinho mais digno? Tipo Château Zolgen DOC, ou algo do género? E podia vir em xarope, numa garrafa bonita, já agora. Era o mínimo.

A propósito de xarope, há novidades quanto à xaropada do novo aeroporto de Lisboa. Parece que uma Comissão Técnica Independente esteve a analisar questões e a ponderar aspectos, e concluiu que a melhor localização é Alcochete. O que me deixou instrospectivo. Porque a verdade é que, às vezes, temos de aprender a relativizar estas coisas. Reparem. Não há qualquer dúvida de que o actual governo é péssimo. Mas isso não nos deve levar a cometer a injustiça de esquecer anteriores governos socialistas, igualmente péssimos. Neste caso em concreto, é impossível olvidar a forma impante como o ex-ministro das Obras Públicas do Governo de José Sócrates, Mário Lino, garantia, em 2007, que “Alcochete, jamais!” Vai-se a ver e é mesmo em Alcochete, é, ó Mário.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Nessa altura Mário Lino optava por borrifar-se para a opinião do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, como desta feita se borrifaria para a Comissão Técnica Independente. O que não espanta, porque os socialistas tendem a desaprovar 66,(6)% das Comissões Técnicas Independentes. Não são nada fãs de enfrentar questões técnicas, muito menos se colocadas por pessoas independentes, embora gostem imenso de comissões. Diz que. Atenção.

Neste instante reparo que as contas do parágrafo anterior podem ter alienado o meu vastíssimo público com 15 anos. É que, segundo os recentes resultados do PISA – o programa internacional de avaliação de alunos –, os estudantes portugueses deram um trambolhão nas áreas de matemática, leitura e ciências. Trambolhão que, segundo o ministro da Educação, João Costa, “ninguém sabe” explicar. Deixando assim o governante claro, ao demonstrar total incapacidade para fazer a leitura óbvia – para a qual não é preciso ser cientista – de que a soma das políticas educativas deste do governo só podia dar este péssimo resultado, que ele próprio seria o primeiro a chumbar no PISA.

Ainda assim, João Costa tentar justificar os resultados com o facto de este ser “o PISA da pandemia”. Quanto a isso não me consigo pronunciar, porque o mais próximo que já lidei com o “PISA da pandemia” foi ao ser, em duas ocasiões, cliente do mês da Telepizza de Telheiras, numa altura da minha vida alimentar que pode ser descrita, com propriedade, como uma pandemia de pizza.