Há uma série muito gira na Netflix sobre o assassino Jeffrey Dahmer. Por “gira” entenda-se grotesca. Sobretudo pela impunidade com que o indivíduo, que ficou carinhosamente conhecido como o Canibal de Milwaukee, actuou durante tanto tempo, apesar da polícia já saber do que ele era capaz. É uma série que recomendo sobretudo a quem padecer de tripanossomíase africana. O que é a tripanossomíase africana? Por amor de Deus, meus amigos, então agora tenho de explicar-vos tudo? A tripanossomíase africana é, como é óbvio, a conhecida doença do sono. Maleita para a qual recomendo esta série. Cada episódio garante 24 a 48 horas de estupenda insónia.

Mas vem isto a propósito de quê? Vem a propósito do facto de nós, cá em Portugal, também termos malta que se dedica a ilegalidades de forma espectacular, ali, mesmo nas barbas da autoridade, e ainda assim ninguém avança para a produção de um seriado em termos. Refiro-me, claro, ao nosso Rei dos Catalisadores. Não há semana em que este artista não seja notícia. Desta vez, Vítor Macedo – nome menos artístico do Rei dos Catalisadores – foi detido junto ao Bairro da Pasteleira Nova, no Porto. É a sétima detenção desde Maio deste ano e, tal como aconteceu anteriormente, o Rei saiu em liberdade. E eu acho que sei porquê. Porque o nosso sistema judicial funciona tipo escape livre: uma pessoa furta catalisadores até estar assada de tanto furtar catalisadores, mas escapa sempre livre.

A propósito de furtos, o Bloco de Esquerda quer que o Governo requisite alojamentos locais pertencentes aos maiores proprietários, como os fundos imobiliários, para colmatar as carências na habitação para estudantes. Atenção, são os alojamentos locais, sim, mas só os pertencentes aos maiores proprietários. E como é que se define quem são os “maiores proprietários”? Fácil. O BE pensou em tudo, que eles fazem as coisas com rigor. Então, por “maiores proprietários” entende-se todo e qualquer proprietário de alojamento local cujo valor seja superior ao valor da participação detida por Catarina Martins na empresa de alojamento local da qual é sócia. Tumba! Aí está. Mas alguém tem dúvidas da seriedade das propostas do Bloco?

Enfim, é por estas e por outras que se costuma dizer que a profissão mais antiga do mundo é a de progressista hipócrita. Costuma dizer-se, erradamente. Porque progressista hipócrita é a segunda profissão mais antiga do mundo. Estudos recentes comprovam que a profissão mais antiga do mundo é, antes, a de técnico elaborador de estudos sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa. Conta já com mais de meio século, a busca por um local onde meter a futura infra-estrutura. Agora que penso nisso, o novo aeroporto de Lisboa é uma espécie de bicicleta estática que se compra para ter em casa. Ainda ninguém usou a coisa e já estamos com dificuldade em descobrir onde a arrumar. O mais provável é o novo aeroporto de Lisboa acabar meio dobrado, debaixo de uma cama. Ou numa marquise, a desbotar ao sol.

Em qualquer caso, a mais recente hipótese para localização do novo aeroporto de Lisboa é Santarém. Portanto, seria o Aeroporto de Santarém. Que era o novo Aeroporto de Lisboa. Mas que era em Santarém. Que não é em Lisboa. Mas é o Aeroporto de Lisboa. Só que é em Santarém. E como já perceberam, podíamos ficar aqui algum tempo. Por isso, e confirmando-se Santarém como localização para o futuro aeroporto de Lisboa, a minha proposta é que o mesmo se chame Aeroporto Manuela Bravo. Porque tal como o famoso balão da cançonetista subia, subia, também o novo aeroporto de Lisboa parece ter tendência para galgar pelo território nacional acima. Vai-se a ver e estes estudos sobre a localização do novo aeroporto não estão cheios de simples ar, mas sim de hélio. Pelo menos explicaria a vontade de rir que todo este processo dá.

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